#AFORISMO 568/SACIAR A SEDE DOS PEREGRINOS# GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Que sou, que me esqueço de dizer o nosso amor que anda calado; andando
com mãos em bolsos de calças, busco o nada que neles se encontra? Que sou que
me esqueceu lembrar Deus é o nada, embora quaisquer censuras, não me explicara
com veemência, nestes instantes é que se sente bem profundo a falta que a
palavra faz, apesar de que ela não tem ser.
Se as flores desaparecessem de todos os jardins e plantações, da
produção humana, creio que faria na espiritualidade e intuição um vazio, uma
falta, uma falha, enfim, uma ausência no intelecto da humanidade, uma
imperfeição muito mais indescritível que todos os excessos e erros pelos quais
vós, os homens do final do Segundo Milênio, sois os responsáveis e culpados;
uma incapacidade sem precedência no mundo, na terra, na inspiração dos poetas,
escritores e dos artistas, se os cactus fossem extintos dos desertos, de a água
deles saciar a sede dos peregrinos, não mais existissem, como os viandantes e
sábios sobreviveriam à sede, faria uma falta sem limites à sensibilidade, ao
espírito, pois que a água rega os ideais, os sonhos, as utopias. E jamais
imaginaram o que seria do perfume que exalam, assim que se despetalam, a falta
que fariam aos narizes do bom gosto, acostumados a sentirem tanto prazer? E se
o vazio e o nada fossem expulsos das metafísicas, do quotidiano da existência?
Não tem qualquer noção da desgraça que causaria aos homens!
Não é razoável pensar que todos os homens que nunca viram flores em suas
vidas, nunca as sentiram próximas, os que não conhecem flores no mundo,
ingênuos ou sistemáticos, são frios e calculistas, insensíveis, não são capazes
de imaginar uma tarde de primavera no alto da montanha, tudo sendo flores e
mais flores, um espetáculo ininteligível, luzes psicodélicas, sombras, fogo no
céu, fumaça na água. Diria outras coisas, mas penso é o suficiente para
com-preender e entender o que isto não ser capaz de criar um só barquinho com
qualquer folha de papel de tamanho suficiente, são imbecis ou hipócritas, não
conhecem a beleza de seguir viagem conhecendo a natureza em cada lugar a menos
de alguns passos...
A intenção seja de alcançar nível elevadíssimo poético com tais
palavras, não enxergam que elas próprias são tesouros inestimáveis para
refletir, meditar, serão solo para a continuidade do pensamento pensando o
pensar. Não compreensível, não é mesmo? O que importa? Se as palavras
faltassem, as artes se ausentassem, que efeito assim tão causaria ou não
causaria nenhum?
Através da magia posso eu modificar os sonhos que não passam de ilusões
[antes, e de maneira mais pura do que o poderia eu fazer, delineio esboços, o
sentido e a imagem de um olhar], entregar-me de corpo e instintos aos desejos
iluminados em seus valores eternos como imagem e como visão fugaz da própria
divindade, passos lentos na areia fria, de por baixo dos pés?O sábio aceita bem
o escurecer, mas tem palavras de luz.
O sério, ao pé da morte, já sem ver, acesos os olhos, alegre enfim,
luta, luta para a luz não morrer; o desvairado, ao pé da morte, já sem sentir o
perfume das flores, já sem poder discernir os odores das coisas, luta, luta
para a luz não morrer. A luz não pode morrer. O rude que põe o sol pra correr,
e vê tarde demais o que é ruim, não entra na noite pra se render. O caipira que
se senta no degrau da escada de seu casebre, no entardecer, fuma seu cigarro de
palha, e olha a estrada a perder de vista, gostava de conhecer o mundo, viajar,
viajar, não entra na noite para se render. O adolescente que fuma o seu
baseado, sentado na grama, olhando a cachoeira, que prazer não seria este
momento fosse eterno, para sempre ali fumando seu baseado, não entra na noite
para se render.
Os sonhos serão algo que se possa alcançar? Viveremos para nos
exterminar com a morte? Não, vivemos para temê-la, para rejeitá-la e também
para amá-la, faz parte do jogo, e precisamente por causa da morte é que a nossa
vida vez por outra brilha tão radiosa num instante nítido e nulo.
Contemplação maior que rima os apelos de sussurros, murmúrios, oscilando
ante a natureza e o espírito, em tardes serenas de janeiro, os silêncios e
mudez de pensamentos ao longo de invernos; rima os clamores de desejos,
aspirações, em manhãs de fevereiro, a luz de palavras e olhos de idéias,
longínquos de primavera.
(**RIO DE JANEIRO#, 03 DE FEVEREIRO DE 2018)
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