ANA JÚLIA MACHADO CRÍTICA LITERÁRIA ESCRITORA E POETISA ENSAIA O AFORISMO 566 /**SENHORA FONTE DAS GRAÇAS**
Este aforismo de Manoel Ferreira Neto - Senhora FONTE DAS GRAÇAS, ou
seja a Dama manancial das mercês. Baseia-se em uma introspecção que faz de si,
da sua vida, seus amores e desamores…Uma homenagem igualmente ao seu amor
actual, a Senhora FONTE DAS GRAÇAS, a qual mudou a sua vida…
Contemplava o alvo por cima e o preto de um sorrir indigente
enclausurava–se-lhe o intelecto e a indestreza de quão o sofrimento
arruína, retalham-lhe o devaneio e o erro se lhe coloca na existência. E a
existência o concebe sem receio. Nas grinaldas, maldições, querubins para
combaterem seres monstruosos, nos sacrifícios cornes, setas, e robots malignos
retalham-lhe o chão e a chama acarreta-lhe a existência. E a existência
não possui sigilo, cerra-se a atmosfera e o astro-rei se recusa, recusa-se o
sustento e a concórdia, e a querença o ofusca, lufadas circulam, fogem, e uma
fêmea se rende e se confere incandescente, inalterável, rompe-se a quimera e o
físico prova o sofrimento aumentar, desabrocha-se o intelecto e o invisual contempla
a luminosidade desabrochar. Enreda- se a peleja e a chama concebe a existência.
A Querença aparece na alteração do anseio que, pretendendo tudo, pode
experimentar que finalmente ninharia lhe falha, nem o nada. E assim cessa,
satisfeito previamente de manjar. Como agonizante que no último instante avista
que jamais realmente viveu. E o não necessitar converte exequível tudo e todo
se facultar. Como a Proveniência, que esplende imparcialmente, ou seja,
completa e total, em todas as realidades. Que nem tão-pouco adora, pois é
Querença. Fenda inicial e ingénita, desnudez deslumbrante que em si tudo irmana
e associa.
Só por querença se a descortina e meramente por querença tem significado
o retorno. O retorno sem regresso a todas as pátrias desprotegidas. Enquanto
nelas existir quem não haja consumado a jornada. Enquanto nelas existir quem
não tenha redivivo no previamente de ter nascença e fenecimento. Enquanto
existir nostalgia sem energia para que se abata. Enquanto in-ex-istir tal
facto. Enquanto existir naturais, ou seja, aferro a abarracamentos na extensão
do Ilimitado que a cada instante se não arribem para ir mais para lá.
Meramente por querença, que é acarretar todos a desfrutarem o Tudo-Nada
que se encontra, causa significado proferir fundamentos, vividos e termos.
Estratagemas e astúcia para conduzir os inactivos a fazerem-se ao
sem-fim-pélago de si próprios. Caranguejolas, débeis barquetas que o oceano se
incumbirá de assolar, libando a todos a pico para o sem saberes e sem início
nem termo de tudo.
Somente por querença, e tão-somente por Querença, há Pertença.
E concluo esta análise ao aforismo, do Grande escritor Manoel ferreira
Neto, na minha perspectiva, não sei se coincide com a do mesmo…pois sempre é
tudo muito subjectivo no pensar e no saber de cada um, mas faço de acordo com o
que me parece e conhecendo um pouco o escritor…sempre dizendo muito mais do que
pensamos nas entrelinhas… A comiseração emerge na existência ininterrupta,
periódica, com colossais procedências de júbilo como a compaixão, o que anseio
é que alumie a todos como tem alumiado a si, e acama plácido e calmo, fantasia
édenes, quimeras, bosques selváticos, fantasia veredas sumidas, possuindo
erudição que vós, Senhora FONTE DAS GRAÇAS, residis anexo a mim em toda a
ocasião.
Ana Júlia Machado
Só há algo a dizer acerca deste crítica: EXCELSA. Uma leitura almática,
o que a alma revelava no instante da escritura do Aforismo, o que o texto
revela da caminhada existencial, na sua transcendência.
Manoel Ferreira Neto
#AFORISMO 566/SENHORA FONTE DAS GRAÇAS#
GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Para que o silêncio ressurja, o olhar suspenso, a aflição dos espaços, a
surdez absoluta da montanha, o intocável da noite se revelem, é necessário
transpor o limiar do imediato e aceder às origens de mim, aí onde a
consistência se dissolve e a eternidade se desprende da sucessão do tempo, e o
meu olhar se descola da apreensão do ontem e do amanhã, das situações e
circunstâncias que me algemaram ontem, que me libertarão amanhã. Suspensos os
meus olhos, o meu ser, um arroubo alevanta-me, vertiginoso ergue-me e o espaço
abre-se da comunidade de mim com o espaço sideral, o alarme e o augúrio, o
sufocante mistério, a profundidade da noite.
Na mesma concha das mãos,
Con-templamos,
Vislumbramos,
Des-lumbramos,
A-lumbramos
as cores vivas da natureza, e do ar o invisível,
inspirar nelas para construir
outras realidades,
considerar dádiva de viver.
A verdade é imagem
Nua,
Crua,
A imagem de pouca razão
Rota,
Baça,
Às vezes enganação
Sufoca,
Condensa.
A imagem é pers-pectiva
Do olhar percuciente
Do que habita a intuição
Da verdade,
Do que reside na busca
Do ser
De sonhos e utopias,
Do que há nos recônditos
Da alma,
Do íntimo,
Delineada no desejo
De sua perfeição,
Liberta o coração
De suas algemas e correntes
De sentimentos de não.
O abismo, onde tudo a pó se reduz,
Tão fundo que nem o eco aí segue a sua lei,
Ante meus olhos serenos...
A voragem,
Que não tem cimo e que nem sequer tem margem,
Ali está, sombria, imensa; nada nela mexe.
Perdido no mundo infinito eu me sinto.
A verdade é eco sombrio
Triste, sem razão,
Alegre brio do viver,
Do viver passageiro,
Da morte eterna.
A vertigem
Que não tem essência e tampouco possui centro
Quiçá no limite das forças e dos poderes
Haja-se aboletado
Surpreso no mundo das contingências encontro-me
Indagando e perquirindo,
Se em verdade superei as agilidades e habilidades
De ver-me, con-templar-me
Sob di-versos e ad-versos prismas,
Ou se suprassumi a vida,
Ora, se me dá...
Quero-me vida, quero-me efêmero...
Do antiqüíssimo de mim, onde têm raiz todas as rosas de maravilha, todos
os lírios de magia no branco de suas pétalas, todas as samambaias de puro
verde, balançando à mercê do vento que passa, após o sibilo dele entre as
montanhas, cujos odores são esperanças que amo, porque as sei fora de relação
com o que há na vida, uma vontade estranha, oculta, e deliberada de verter
lágrimas quentes e fáceis, talvez porque a alma é infinita e a vida, finita,
talvez porque a fé é horizontal e a vontade dela, vertical, na uni-versalidade
dos ponteiros do relógio que se movimentam lentamente, a-nunciando o porvir de
outros amores e sonhos nas bordas do tempo, o vir-a-ser de outros projetos e
objetivos a serem cumpridos para a continuidade da vida e a feitura do ser, no
canto da coruja em madrugada alta, no voo do condor no pálido crepúsculo de uma
apaixonante sexta-feira de quaresma, a querência dos verbos nos sonhos de
fin-itude, nas utopias de eternidade, na cont-ingência da morte e do
esquecimento.
Rompe, em claridade, o madrugar, dissolve na bruma o raio fugitivo e a
natureza chora gotas de sereno cristalizadas, observo eu da sala de estar,
olhos ensimesmados e questionadores, o tempo ensimesmado, e ainda penso como
será o amanhã no aceno da memória; no picadeiro do sonho, raio de luz passeia
nas ruas e avenidas, solto, brinca no jardim ensaiando cânticos na primavera
noturna da ilusão, quiçá no outono do dia da verdade e do absoluto, em vigília
a essência do olhar, o ser dos sentimentos que perpassam a vida em busca de
evangelhos do amor e paz, em busca da EFEMERIDADE.
A compaixão surge na existência contínua, cíclica, com grandes fontes de
alegria como a misericórdia, o que desejo é que ilumine a todos como tem
iluminado a mim, e deito tranqüilo e sereno, sonho paraísos, sonho florestas
silvestres, sonho sendas perdidas, sabendo que vós, Senhora FONTE DAS GRAÇAS,
estais junto a mim em todo instante.
(**RIO DE JANEIRO**, 31 DE JANEIRO DE 2018)
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