#AFORISMO 542/A LOUCURA REFULGE NUM DELÍRIO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO CÊNICO
Memórias de prata na garganta. Toca de zinco a solidão inquieta, mar.
Recordações de ouro, traçando rumos ausentes, olhar. Zurze à beira - mar, o
flexível de ardores.
Cinismo roubando a voragem de ideia. Garganta. Mar. Olhar. Luz de rojo
despindo sorrisos. Diamantes na infâmia das ambições. Encharcam olhos de
Zéfiro. Memórias de enxofre a julgarem que há um olhar comendo as acácias.
Tomba das mãos o cálice. Memórias de sódio postas à margem de todos os
banquetes. Debruçam pálidas em todas as loucuras. Memórias de ferro salvando a
humanidade do vaso de tumultos. A fumaça deflora o espaço.
Sete águas descendo as encostas do rio - abaixo as docas, pequenas e
devolutas ondas... Sete águas derramam no universo a rebeldia e insolência.
Sete águas descendo o dorso das montanhas - embaixo, pedras, montes de terra.
Sete águas gotejam - húmus do ingênuo, inocente.
Esquecer o sono, acordando o processar das trevas - a narrativa do tempo
nas janelas entreabertas; o repouso, despertando o desenrolar da noite; a história
da madrugada no vão de todas as portas; a distância, silenciando gestos
incompreensíveis; vácuo cerzindo o solitário, apresentando a perda.
Lembrar-me de a fantasia ser vasta, embora caiba num ponto do silêncio.
De haver um lampião na luz, a loucura refulge num delírio. De consagrar uma
escultura sem sentença direta, um grito agressivo.
De a boca apreciar certo detalhe do corpo sinuoso. De trocar desatino a
beleza que perdura. De cingir a morte, sepultura, do olhar; areio rebocando de
por trás do inverso.
(**RIO DE JANEIRO**, 17 DE JANEIRO DE 2018)
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