#AFORISMO 557/Ó RETRATO-GUARDIÃO DO RISO INGÊNUO# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Eu no escuro nu do quarto, quando dormir quero sonhar a licitude da
alegria e do júbilo, a silencitude do prazer e gozo. À procura da lua ou talvez
de mim num piscar lento, boiando à luz do olvidamento de quem insisto em ser.
Forma visível,
grotesca e perversa,
zombeteira, sem
relevância
inerente
nela a negação
do
significado que deveria afirmar
pensando
eu era eu
não
era quem não era
não era quem.
Lembra-me do tempo,
mas para que possa esquecê-lo
por um momento de vez em
quando
e não gaste todo meu
fôlego
tentando
conquistá-lo,
silencio o
desejo
de calar
a
memória,
emudeço a
liberdade de
vociferar
o
nada.
Seria que neste instante-limite em que ideais borbulham nas bordas das quimeras destituídas de quaisquer sensíveis presenças, pura magia de devaneios oceânicos em madrugada de ventos, ondas altas, pudesse ao menos con-templar os vestígios de utopias se anunciaram, revelaram-se e se ocultaram, não houve qualquer modo de re-colhê-las na anunciação, a-colhê-las no ocultamento?
A onda, que ressona quieta, mansa, não espuma; o astro, que sonha
plácido, que sona frágil, não canta, não trina, e em todo o vasto mar, em parte
alguma a mais pequena vaga se levanta.Sou chamado a participar da vida, muito
além dos des-encantos, des-encontros; levá-la a beber da água da graça.
Alimentá-la do seio da paz e não permitir dores a coloquem em dúvida, em
descrédito. Tendo sido confiada a nós, ela é bem que requer esmero, acuidade,
se bem me lembra o tesouro re-colhi e a-colhi nas mãos feitas concha, merece tratamento
privilegiado.
O ensejo que deve vestir a vida não pode se esquecer de que, embora
tantas marcas de espinhos, a tiara deverá ter as belas flores do campo.
E, à medida que a existência corre, torna-se mais oca, mais desenxabida,
mais tola. ‘É como se eu estivesse descendo uma montanha, pensando que a
galgava. Exatamente isso. Perante a opinião pública, eu subia, mas, na verdade,
afundava. E agora cheguei ao fim – a sepultura me espera.’ A espera constante
da morte não só não envenena a vida, mas lhe empresta firmeza e claridade.
Contra-dicção...
Dialética....
Nonsense....
Quiçá,
Emprestando-lhe
Firmeza e claridade,
Re-vista
ec-sistir
Mais
intensamente,
Bastar-me-ia
recordar o que fora eu,
Meses atrás,
E o que sou neste
instante-limite,
Lembrar com que
regularidade
Descera
a montanha,
para que aniquilasse toda
a possibilidade
de
esperança.
Se não erguesse os dedos, fizesse um gesto, estrangularia a verdade.
Diria: “O jarro quebrado, quadro desbotado, pobre trinco...” Possível fosse
nota de violão, constituindo qualquer som, não música para mostrar o barulho
final destas palavras, a algazarra, vozes estrídulas. Creio que seria capaz de
revelar o como as coisas tremelam, as mãos tremelicam.
Flor de desejos
e rosas de sonhos...
A auscultação,
as perguntas que exigem
Res-postas
Formuladas de antemão
Per-formadas às revezes
de
sentimentos
ora perpassam-me o íntimo,
e,
ao que parece,
desnecessárias,
a expressão
significativa,
que sugere o seguinte:
haveria
de compadecer-me de mim.
Entre a grade e casa, jardim, grama. Muitas espécies de rosas estão ali
plantadas, galhas da jabuticabeira caindo na vidraça do quarto, os raios de sol
incidindo nos vidros, as folhas.
A vida acontece
no quarto.
Desenho céus tristes nas paredes frias.
E lá fora,
Inda
que seja inverno,
juro ouvir chuva,
Pingos caem das telhas na rampa,
ouço-lhes,
escuto-lhes,
O inverno parece
nunca ir embora.
Falta-me estrela a
levar-me
Ao coração da vida,
Onde
abraço os dias,
Em adoração e
inocência,
À alma dos verbos de
sentimentos,
Em ovação e
ingenuidade,
Ao espírito
subterrâneo de tolices,
Além das paredes e
das vozes que me querem
Prisioneiro:
Resta-me às escusas
dos ventos oceânicos,
A
mente dos ideais, utopias,
Ins-crevendo a
sensibilidade com a pena
Da
caneta do espírito,
O que me intriga, me
instiga,
A carregar na tinta
para ser bem visível
No que
houver de invisibilidade.
E se nada
houver de invisibilidade,
Visibilidade
completa?
A
invisibilidade visível,
A visibilidade
invisível,
Quê jogos de sentido!
Jogo ao chão as letras, as rudes muralhas. Apontam-me o verdadeiro céu.
Seguro a mão e com elas caminho pelo jardim. Sempre, além da aparente chuva,
aguarda-me o sol... Continuamente, além do ensimesmamento do tempo, nuvens
baixas, aguardam-me perquirições percucientes, profundas, quando me esquecem as
idéias, quando me olvidam e relembram os pensamentos.
As flores
vestiram as melhores cores.
Os soldados pararam
de atirar.
Os pássaros
esvoaçaram os campos
De grama viçosa,
esverdeante,
O vento
esqueceu as folhas.
A serpente
adormeceu no bosque
As lendas e causos,
Ouço o ritmar de
passos usando sandálias.
Além, muito além
Da
distância do jardim
Em cujo centro,
Entre canteiros,
Sentei-me
em posição budista
o mundo
silencioso indaga-se sobre o que
me falariam os homens,
o que de Vós ouviria...
Para as almas insolentes e meigas como a minha, o aceno gentil e
educado, a voz inédita e implícita de todas as coisas nascem do silêncio, o
olhar. Não é de mim que as palavras não podem expressar o que desejo tanto,
deixam-me um vazio na língua, a boca semi-aberta esperando algum som saindo da
garganta, mesmo que som algum seja revelado, se assim posso dizer. Para que
estar calado com vontade de gritar? Não é de mim que as vozes inter-ditas não
se lhes ouço, não se lhes sinto o tenor de ritmos e melodias, deixam-me
boquiaberto, olhos enviesados, a respiração comedida. Gritar a plenos pulmões o
que habita os submundos da inconsciência, nos subterrâneo do espírito, a voz se
mostrando em sua plen-itude, seren-itude.
Quiçá me questionasse com a voz incisiva e escorreita se conheço a
montanha ao longe enevoada? Porque, estive comigo a conversar, e des-cobri a
alimária procura entre névoas a estrada… Lá, a caverna escura onde o dragão
habita,
e a rocha donde a prumo a água se precipita… Nada teria a responder. A
rocha donde a prumo a água se precipita extasiou-me, estesiou-me, fugiram-me as
palavras, intervalo para o cafezinho.
Mesmo quase o avesso, sois parte do que minh´alma almeja escolher como
nova morada, imaginar, a pedido de minha intenção, ó retrato-guardião do riso
ingênuo. Queria eu uma caverna, quiçá também uma gruta, igual à que as vaidades
arraigadas sustentaram um mundo de idéias. As molduras na parede marcam o tempo
suspenso no caos.
Às vezes, sinto-me perdido no meio de um sorriso. Não faço sucumbir a
palavra ao fosso onde enterrei a carne. Não há nada a defender, a retrucar, nem
os deveres profissionais, nem a vida regrada, nem a ordem familiar, ou o
consumismo e os interesses mundanos. Tudo são grandes mentiras.
Cannabis sativando os devaneios e desvarios
Ao brilho
esfusiante das idéias,
Que atabalhoadas,
circundando
A preguiça e
lentidão das coisas
Passam nas frestas
da imaginação,
Nas
fendas da intuição,
Nas
grimpas da inspiração,
Antes o ponto
preto,
Luzes fortes,
dançantes, bailarinas,
ofuscantes,
então as que perpassam a
neblina invernal
de
paulicéias fontes
de
psicodelias inestimáveis,
haveriam de burilar-me,
delinear-me
os sentimentos,
volos
sedentos da brisa das garoas.
O portão de entrada, se fechado está por cadeado, a porta de entrada,
após subir quinze degraus, por chave, e eu tão aberto,
cavaleiro
da solidão,
espero a noite e
não haver escuridão
–
que idiotice esta,
não há qualquer
noite em que a escuridão
não esteja
presente,
a
escuridão é parte da noite.
Mentalidade aberta, desafiadora,
um cristão primitivo
em sua essência
anarquista em textos
míticos e históricos?
um vagabundo primevo de boêmias
reformista,
revolucionário,
O que significa
a dualidade
entre o bem
e o mal
entre o
visível e o invisível,
entre a
algazarra e o silêncio,
que sinto
em mim?
Como devo
viver?
O que é a
morte?
Como poderei
salvar-me?
(**RIO DE JANEIRO**, 27 DE JANEIRO DE 2018)
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