#AFORISMO 531/ESPÍRITO DE OUTROS AMANHÃS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Todo tempo só em ser-tempo é fim não começo. O tempo engendra a morte, e
a morte gera os deuses e, plenos de esperança e medo, oficiamos rituais,
inventamos palavras mágicas, criamos idéias esplendorosas, fazemos poemas,
ridículos poemas que o vento mistura, confunde e dispersa no ar...
O tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida – a verdadeira –
em que basta um instante de versos e estrofes para nos dar a eternidade
inteira, a in-fin-itude plena, a efemeridade do re-nascer cheio de outras
ilusões e verdades. Inteira, sim, porque essa vida eterna somente por si mesma
é dividida, dividida entre as contingências e os ideais.
Evidência de alegria final nos limites da condição, nitidez de posturas
e gestos que re-nascem das cinzas das utopias de consciência e sabedoria. o
nada inimaginável, a impensável destruição do absoluto que sei, do efêmero que
desconheço, quem sabe conheça, não o saiba, simplesmente re-presente o fogo, as
chamas do verbo “ser” nas imanências dos desejos, de minhas mãos que se elevam
aos céus de todas as paisagens e panoramas, rogando a plen-itude e subl-imidade
do eterno “enquanto dure”, tendo mais bem sido, se o conhecer viesse primeiro
que o saber de estrelas e paisagens que fecundam o espírito de outros amanhãs e
outras noites, de outras madrugadas e alvoreceres, que inundam a alma de outras
querências, de águas iluminadas pelos raios do sol que nelas incidem, enquanto
seguem o seu itinerário, abrindo espaços e caminhos, de outros arrebiques do
belo em barrocas tardes de chuva fininha ou de sol incandescente, de outros
confins e arribas a abrirem plen-amente as nuvens brancas os desejos, azuis das
esperanças, amarelas das utopias, verdes da fé, que não é in-diferente e se me
impõe como a única verdade que de mim irrompe, o que me afirma uma totalidade
de ser, o que me coloca numa posição bem confortável de in-finitude e
im-ortalidade, o que me define e é a própria realidade de ser sendo,
estar-sendo, penso eu, é consciência de meus caminhos do campo e é busca de
outros versos do sim e do não.
(**RIO DE JANEIRO#, 12 DE JANEIRO DE 2018)
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