#AFORISMO 536/NOUTRO COMPRIMENTO DE ONDA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Ao longe e ao alto é que estou e só daí é que sou.
Gotícula de veneno
é a divina real-ização da natureza,
é a santificada promessa da liberdade,
fortalece-se e cristaliza-se
com pompas e propriedades
as mais di-versas.
A linguagem do silêncio
povoa-me a liberdade,
à busca de um sentido.
Memória estranha de outrora. Lembranças e
re-cordações estrangeiras de pretéritos longínquos. Não as sei e estão
presentes. Em mim por si se delongam. E nada em mim as con-sente.
Uma ilusão – quimera ou fantasia - só existe em
função do que o não é. Onde a verdade que me desminta a ilusão de dizer “eu”?
Onde não desmentir o "eu" ser a ilusão da verdade? E onde ser a
ilusão da verdade desmentindo o "eu" onde?Onde a verdade que mostra a
senda de meu “ser”? De que me serve saber uma verdade que não sinta? De que serve
saber que noutro comprimento de onda poderia ver os objetos que não vejo,
poderia vislumbrar as dimensões que a mim não é dado sabê-las, trans-cendem as
dimensões da razão e intelecto do ser de meu saber – uma vez que os não vejo?
Verbo da felicidade e alegria de buscar a carne de
todos as utopias e sonhos de conhecimento do que está dentro, muito dentro do
espírito, do que lhe transcende, e atinge o cume do divino e da divinidade, de
palavras, (ó Verbo!), o som fremente, o ritmo eloquente - o presente, a aspirar
sempre ao futuro: o futuro, uma sombra mentirosa, pura farsa -, e é o “deus” de
todas as coisas outrossim às sendas e ilusões, às alamedas e fantasias,
outrossim aos versos da “res” e do “in”, o que não pode ser sentido nas suas
profundidades, o que não pode ser vislumbrado nas suas espiritualidades, o que
não pode ser con-templado na essência, o que não pode ser inspirado e/ou
intencionado, outrossim aos ideais do pleno e do eterno que se a-nunciam na
visão-de-mundo, na visão-de-vida-e-plen-itude. Em todo o meu pensamento ser
pensar a dormitar. Mas que há para lá do sonhar?
Dormimos o que é Vernáculo.
Outro o altar onde queimo piedoso o meu incenso,
sinto próxima a sensação do calor das achas queimando-se na fogueira. Outro o
paráclito a que louvar, acendo o fogo na vela, olhá-la derretendo-se ao longo
dos segundos. E animado de fogo mais intenso, de fé mais viva, de utopias mais
conscientes, vou sacrificar...
E entregue a todos desejos, vontades
Do fogo em remoldar-me... remodelar-me...
Sacrifico idéias, pensamentos
E o sonho,
Inda que, enfim, em toques o construa,
Ouço-o alhures.
Espíritos vadios ou vazios, medíocres ou imbecis,
ou ambas essas coisas, acham na vida alheia útil emprego. Sons do sonho a
ritmarem o que em mim dorme, o que em mim carece de se manifestar, abrindo a
inconsciência e seus jogos de símbolos, signos. Almas carentes e desoladas,
inteligentes ou simplesmente "dá para o gasto", sentem os braços
expostos, as mãos abertas diante de outros braços e mãos, o abraço, distante,
longínquo.
- Como da morte passamos à vida... É isto.
Só! — Não o é quem na dor, quem nas fadigas, tem um
laço que o prenda ao fadário. Uma crença, um desejo... uma utopia e inda um
cuidado... Mas passar, entre turbas, solitário, isto é ser só, é ser
abandonado, isto é ser desolado! Desventura ou delirio?... Desvario ou
inconsciência? O que procuro, se me foge, é miragem enganosa, se me vai além, é
oásis de falácias, se me espera, pior inda, espectro impuro...
Não se destrói a ilusão do que se é, senão sendo
outra coisa – ou seja, outra ilusão. Porque só é imutável verdade a verdade de
se estar morto, de nada mais ser, de apenas me tornar cinzas, das cinzas vim,
para as cinzas vou. A verdade da vida, absoluta, irredutível, é a verdade que
habito com as palavras que a dizem ou a são e as dores que me doem e a alegria
que me ilumina, a felicidade que me a-nuncia. Vendo o mar das ermas cumeadas,
con-templo as nuvens vespertinas, que parecem fantásticas ruínas, ao longo, no
horizonte, amontoadas...
Atento a essa vida, olho-a a acontecer sem que um
instante observo que olho. Puro espectador, o que me ec-siste é o espetáculo e
não aquele de mim que ao espetáculo assiste. Sinto como a voz que res-pondesse
ao que em mim não chamou nem está nela.
Ser de sentimentos re-versos na in-versão do
caráter e da dis-posição do ser às ridículas condutas e posturas do que é
eternamente visto e sentido como a perfeição do mal e suas diretrizes e veredas
para o arbitrário, gratuito, sobretudo para os despautérios todos da
viperinidade.
De nada serve saber que a minha sensibilidade seria
outra e a minha justiça, nascida que fosse a outra hora da História, o outro
instante do Tempo, se o não posso sentir na hora que me marcaram, no quando que
me cachapraram, no segundo e minuto que me id-ent-ificaram com todos os
atributos do bom senso e da sensibilidade verdadeira. O que há de a alma
escolher, em tanto equívoco? em tanto mistério? em tanto desengano? Se uma hora
crê de fé, logo duvida; se procura, só acha... o desatino!
Sente-se a construção e estabelecimento das
estratégias para a consumação do que é plenamente o ilícito, do que são em
absoluto o ordinário e imoral, ao longo das décadas e séculos assiste-se ao
desenvolvimento e progresso de todas as características e essências das
idoneidades caguinchas.
Preso à verdade que em mim se re-vela, não penso no
“eu” onde ela se re-vela, nem mesmo quando penso em como é que se re-vela. Nem
mesmo quando não atento na luz que atravessa a vidraça da janela de meu
escritório e penso como é que ela a atravessa, nem mesmo então re-flito sobre o
que é isso que é atravessado, se o que me atravessa é o mim, sou a mim, se o
que me é atravessado é o eu de mim.
Inexprimível anseio exige rendição;
Virtude de água verte da colina,
Despoja-se de futuro recuo.
(**RIO DE JANEIRO**, 15 DE JANEIRO DE 2018)
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