ÀS MANGOFAS, ESCÁRNIOS INDA MAIS APIMENTADOS# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: AFORISMO SATÍRICO
Senão as mangofas percucientes e peculiares ao
trivial das idéias e concepções que envelam as prospectivas, permanecendo as
con-tingências a cada passo mais enchafurdadas na mesmidade, no mesmo, deixadas
as idades a esmo das controvérsias, o que mais poderia ser verbalizado, dito,
expresso? Se amanhã houver, haja o que explique, haja o testemunho
comprobatório, por que não acrescentar às mangofas escárnios inda mais
apimentados, salgados, ao longo do tempo constituindo um dossiê de coisas que
impedem anunciações de sonhos, utopias, consciência, liberdade,
éticas-estéticas, vis-a-vis, e mesmo que com o calhamaço do dossiê não haja
qualquer metamorfose, será leitura para todas as gerações, dizendo elas
efetivamente: "Quem não ouve por bem, ouve por mal".
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Senão as imperfeições que habitam a alma, que são
húmus, sementes para a vontade de criações, in-venções, re-criações, entregas
às labutas por outras realidades, o que mais poderia haver que fosse leitmotiv
para a vida, ser-no-mundo, estar-no-mundo?, embora aqui resida condescendência,
pois a cegueira, a alienação, cujos únicos responsáveis são as algemas e
correntes aos interesses e ideologias das religiões, das ciências, até mesmo da
arte, pois há artistas contribuindo sistematicamente para o absoluto das
vulgaridades, assim as imperfeições não são verbalizadas, e mesmo que eles
gritem a plenos pulmões "Respeitem os artistas", a perquirição sine
qua non seria "Como se é possível respeitar a vulgaridade, senão sendo
cúmplice dela? O ácido crítico há-de estar presente indiscutivelmente" As
imperfeições existem desde a eternidade, permanecerão, são do homem, mas com
labutas dignas e honrosas podem se transformar em imperfeições perfeitas, resta
apenas a cor-agem para este empreendimento.
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Senão a consciência do desejo do verbo e do sonho,
a criação peculiar e particular, individual do destino, mas sido-com quem está
se fazendo, nas con-tingências, nas situações e circunstâncias, nas antíteses e
dialécticas, no medo e na cor-agem que outra coisa teria nas mãos para semear,
distribuir no solo, inda que preparado a priori para receber, regar, colher os
frutos - o que é isto, o verbo do sonho estético, dê frutos ou não, vivi isto,
eis o meu testemunho. Eterno, ?mas até quando.", que outra consciência
poderia ser a que me lega a liberdade de criar-me, re-criar-me, re-inventar-me.
Nada outro a acrescentar, se, havendo, por que não incluir no dossiê das sendas
e veredas trilhadas, entregar-se aos sonhos da consciência-estética-ética, o
que isto significa? Os homens amam ocultar-se e re-velar-se.
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Senão os que falam a favor da vida, embora, ao
mesmo tempo, quedando-se em suas tocas, covis, moquifos, aranhas
caranguejeiras, dão as costas à vida, pregam a doutrina da vida e, ao mesmo
tempo, são pregadores da igualdade, que outros abririam caminho para o futuro?,
são os bons e os justos, mas não há-de se esquecer de que, para se tornarem
fariseus, nada lhes falta - senão o poder. Tudo, entre eles, fala, nada se
realiza a contento. Senão esta verdade, o rebanho de fariseus no mundo
contemporâneo ultrapassa todos os que já existiram na história da humanidade, e
a alienação dos homens impede-lhes de enxergar-lhes, e são recebidos com
aplausos altissonantes, trazidos no recanto mais aconchegante do coração, que
outra poderia abrir todas as palavras e o escrínio de palavras da
inconsciência, das condutas de má-fé?
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Senão a cor-agem de verbalizar o mau hálito deste
século, mesmo que as consequências sejam a discriminação, numa linguagem e
estilo vulgar, jogado as traças, ninguém, alfim, recebe com júbilo a crítica,
mesmo que ela seja princípio da consciência, da liberdade, da autenticidade, o
que é digno de reverência, pois a solidão não dá mais atenção as aparências da
interação social, farsas familiares, falsidades individuais, enfim, diz o senso
comum, "antes sozinho do que mal acompanhado", que outra dimensão
seria capaz, trar-se-ia nos seus recônditos alimento e nutrição para a
valoração da vida? Se enviesar-nos as retinas de nossos olhos, não sendo mister
quebrá-las de tanto enviesar, mas olhar de sostalio a questão de a vida não me
haver sorrido tanto para que pudesse vê-la um dia serenamente e aceitar com
naturalidade, espontaneidade as fraquezas dos homens. Mesmo que tal dádiva me
fosse concedida posso afiançar que não chegaria a explicar o instinto de
negação profundamente sério e corrente de santificação ascética. Podeis rir, há
ironia e sarcasmo nestas palavras ditas à flor da pele, surgiram tão
simplesmente, à toa, contudo as lágrimas das gargalhadas serão inda mais
pujantes, isto de explicar qual ironia e sarcasmo creio ser algo irrelevante
por haver outras questões atrás do atrás.
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Às nossas costas, há terrenos baldios por toda a
extensão da terra, do mundo, da história; à nossa frente, há lotes vagos a perderem-se
de vista...
#riodejaneiro#, 26 de setembro de 2019#
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