O VAZIO NÃO É O SILÊNCIO: É A PLENITUDE GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA @@@@

Estou a sentir

O que noutros tempos

Desejei com volúpias inestimáveis,

Cheguei a inventar ser louco

Para conseguir o desejo realizado.

Não me fora dada a dádiva?

Não me esqueceu o desejo,

Deixei-o livre,

E ele atravessou os tempos.

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Acordei nesta manhã,

Pós chuva na madrugada,

Fui dormir altas horas,

O sono fora profundo,

Não me lembra haver sonhado.

Ei-lo que surge forte e presente.

Estou a sentir uma luminescência indizível,

Extingue-me como indivíduo no mundo,

É uma lucidez vazia.

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Vejo com clareza o vazio.

Sinto-me maior que eu próprio.

Há muito a dizer sobre esta clareza

Com que vejo o vazio,

O sentimento maior que eu próprio.

Roguei a amplitude de visão da língua

Que me inspire e auxilie-me neste empreendimento.

Recuso-me a inventar palavras,

As que existem já são capazes de expressar

O que se é conseguido fazê-lo.

Desejo o que é interdito e proibido.

Por intermédio dos pensamentos

Palavras não há: é-se.

As imagens que desenho através da intuição

Ficam atrás do pensamento,

Ficam atrás da imagem de mim,

Atrás do que é refletido de meu rosto vazio,

Nesse mundo do “é-se”

Sou puro vazio cristalino.

Sou-me.

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Estou com medo.

O coração pulsa forte,

O vazio inexplicável fá-lo pulsar

Mais depressa.

A garantia única que possuo

É o sentir-me vazio,

É o sentimento vazio.

É a forma, o estilo de ser eu,

Não o estilo de viver o eu de mim,

E ele uma forma de me ser...

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Sinto que cheguei ao limiar

De haver desejado sentir

A luminescência do vazio,

Mas não me fora concedido:

As portas para a entrada nele

Estavam abertas,

Por medo de não retornar

Ao mundo das coisas,

Não as atravessei,

A hora da coragem chegaria.

@@@

Só através do vazio

Alguém perdido pode se encontrar

Em estado ideal,

Em estado de paz e de não-labuta,

O vazio não é o silêncio:

É a plenitude que recolhe o múltiplo,

E só a amplitude de visão da língua

É capaz de mostrá-lo.

E o silêncio não é o completo:

É a falta que se quer preenchida

De sons do eterno, da eternidade.

RIO DE JANEIRO(RJ), 06 DE FEVEREIRO DE 2021, 07:11 a.m.