INSOLÊNCIA MEIGA DO INFERNO GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA @@@
De mim a solidão seja
Amiga, companheira, confidente.
Coragem de refletir minha face
No espelho, vendo-a, enxergando-a,
Mergulhando-me nela,
É coisa que não me falta,
Enfrento-me em quaisquer circunstâncias.
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Entupigaito-me de ausências,
Faltas, falhas,
Não fico com o nada,
Sou o nada,
Excedo-me, reduzo-me,
Faço-me castelo aéreo,
Enfio a alma no espírito
E deixo o tempo rolar desvairado.
Não me caibo em cavernas, grutas,
Buracos de tatu.
Minh´alma é prolixa,
Uso poucas palavras,
São muito difíceis de encontrar
Para jogá-las fora sem qualquer propósito,
Assusta-me, espanta-me
Ouvir uma pessoa falando, falando, falando,
Não descansa a língua um instante sequer,
Só falando não se sentem solitárias.
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Não esqueço nunca.
Não perdôo.
Não relevo.
Sou ingênuo, inocente,
Entregando-me a uma amizade,
Torno-me inimigo ardente,
O ódio ferve nas entranhas.
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Não me façam ser quem não sou.
Não sou ovelha de rebanho.
Não sou cachorrinho de madame.
Não sei viver de farsas,
Não sei mentir,
Não sei espalhar as cartas do jogo
Sobre o forro da mesa.
A única verdade que me habita
É saber que existo,
Não porque penso.
Sou um só.
Vejo com lucidez e clareza o vazio.
Não compreendo o que compreendo.
Não entendo o que entendo.
Sei que esta lucidez
Pode tornar-se
A insolência meiga de meu inferno.
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Dizer-me quem sou;
Não sei dizer.
Quando sinto estou aproximando-me,
O vazio toma-me inteiro.
Sinto-me tonto.
Chego a precisar deitar-me na cama
Até voltar ao normal.
O pensamento torna-se sentimento;
O sentimento torna-se pensamento.
Perco-me.
Três vezes desmaiei.
Demorei voltar ao real.
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No que escrevo, o que em verdade
Interessa-me de perto
É livrar-me
Do que penso e também do que sinto.
Terminando de escrever uma palavra,
O pensamento volta;
Terminando de expor uma idéia,
O sentimento volta.
Fora das horas em que escrevo,
Inútil ficar pensando o que escrever,
Inútil pensar-me escrevendo,
Só sei pensar, escrevendo,
Só sei sentir, criando palavras no papel.
Escrever não é esvaziar-me,
Não é preencher o vazio,
É encher-me de impossíveis,
Os impossíveis são-me as grandes verdades,
O que não posso entender.
Nada ser do vazio de ser-me
Realiza-se num átimo de segundo.
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Agora sei: sou só.
A solidão é a divina perfeição
Ver a própria insanidade da alma.
A sua pureza insana.
RIO DE JANEIRO(RJ), 20 DE FEVEREIRO DE 2021, 10:02 a.m.
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