A COR DE MINHA OBRA GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: ODE A DOSTOIÉVSKI @@@@
Pois é assim mesmo! De que outro modo seria?
Não contemplo outro de sê-lo.
Minh´alma de tempos imemoriais
A sonhar de Rússias
O Duplo de ideais nos jogos da mente
Espapaçou-se na serenitude,
E hoje sonha apenas
O samovar de devaneios, desvarios...
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Qualquer dia, pela certa,
Quando mal me precatar,
Serei capaz de um despautério homérico:
Castigar-me por não espalhar as cartas
Da psique desnorteada
No pôquer dos pecados.
Mas como achar os três ases
Para encerrar o intermédio
Das culpas, remorsos?
Lembrou-me endoidecer,
Dentro de mim ser um fardo
Ou qualquer coisa dentre tantas,
Humilhado e Ofendido,
Desde o Poente ao Levante,
Nas infindáveis ruelas petersburguenses
Andar a esmo.
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É só de mim que ando delirante,
“Sou um homem doente”,
Gritam-me sons de cor e perfume,
Ferem-me os olhos as sombras,
Escuridão,
No subterrâneo de turbilhões,
Descem-me a alma, sangram-me os sentidos,
Disco de ouro surge a voltear,
E todo me dissipo.
Silvo para além.
Ópio ou inferno ao invés de paraíso?
Que sortilégio a mim mesmo lancei?
Como é que em dor genial
Eu me eternizo?
Nem ópio e nem morfina,
Que droga foi a que me inoculei?
A quimera, cingida, era real,
A mentira de barro, queimada a água,
Era nostalgia...
@@@
Ecoando-me em silêncio,
A noite sem estrelas, sem lua,
Escura,
Baixou-me na queda
A vida de tanto a divagar
Em luz irreal,
Eu próprio me traguei na profundura
Do grande rastro fulvo que me ardia.
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E gritei a voz louca,
Saiu-me rouca:
Viva a RÚSSIA!
Viva São Petersburgo!
E eu, curtindo febre e revés,
Tocado de Estrela e Serpente...
A cor de minha obra
O que ficou de encanto
Dum grande patrimônio
Algures haver encontrado...
RIO DE JANEIRO(RJ), 01 DE FEVEREIRO DE 2021, 22: 43 p.m.
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