A ÚLTIMA CENA DE UM PALHAÇO GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto; POEMA IN MEMORIAM @@@@
O amado palhaço pede licença à platéia, aos admiradores,
Sai de cena.
Não se esquecendo das graças ao chegar,
Até mais hilárias.
Retocar o riso, o sorriso é necessário,
Enxugar a umidade dos olhos,
Por um deslize, descuido
A furtiva lágrima mostrou-se nítida.
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O espetáculo tem de continuar.
A platéia grita, bate palmas;
O silêncio no picadeiro ouve a algazarra,
As crianças tem sede de riso?
O neto que assistia ao show do avô,
Sentado num banquinho na entrada para os camarins,
Rói as unhas de ansiedade,
Quer rir, chorar de tanto rir.
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Chega um tempo em que
O palhaço tira a maquiagem,
Desfaz de suas vestes engraçadas,
Segue o mundo, segue a vida.
Ali, era uma representação especial,
Anos se passaram desde a despedida.
O avô retornou ao picadeiro,
A última cena dedicada ao neto,
A lágrima furtiva, a interrupção.
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Há momentos, são poucos,
Que a alma inteira se revela
Numa lágrima furtiva,
Os tempos jamais a apagarão,
E dela, por magia,
Outro futuro advirá.
O jardim vazio
Aguardará novas flores brancas.
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Tempo esgotado.
O trapézio entra em cena.
Amanhã terá outro espetáculo.
Não para o avô e o neto.
O futuro com as janelas para o poente
Nele o neto debruçará,
Comporá versos
À memória da eternidade
Consumada em átimos de instantes.
RIO DE JANEIRO(RJ), 10 DE FEVEREIRO DE 2021, 10:13 a.m.
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