QUANDO O SOL DESMAIA NA BARRA NO TEMPO GRAÇA FONTIS: FOTO(ARQUIVO) Manoel Ferreira Neto: AFORISMO $$$$
E o poeta me disse,
Olhando o sol se esconder atrás da montanha,
Até dar luz à lua que ilumina as trevas do mundo:
*
“A poesia é fruto da noite e da solidão,
Guia da mente em festa
À meia luz de lamparina, castiçal de velas,
Abajur, também chamado de quebra-luz,
A esperança do verso é o saber o sabor
Dos desejos e vontades do Ser,
O sabor de saber viver
À busca da palavra,
Do ritmo que evoca o silêncio,
Da melodia que invoca o existir
À luz dos padecimentos dos pecados...”
*
Na escrita do poeta,
A noite baila romântica,
Na orla da terra
Dança e beija a barra do mundo,
Alcova onde repousam os raios de sol,
Quando não interceptados
Pela fúria da natureza
*
Mas, não é tudo, festas e dança
Não é tudo, prazer, felicidade, alegria.
Também é trapézio despencando,
Criança chorando na rua da amargura,
Na esquina da miséria,
Debaixo dos elevados da sujeira,
A velhice gotejando
No pedaço da vida,
São trôpegos passos
De um homem de barba espessa, longa,
De mãos vazias e face cansa,
Abrigando-se no degrau da igreja
Na noite de Natal!”
@@@
Perguntei ao poeta,
Não lhe rogando palavra divina,
Mas pedindo amnistia por inda não saber:
*
“Por que as flores ficam tristes
Quando enfeitam o esquife da morte?
Por que a dança dos cisnes
É descompassada,
Quando o sol desmaia na barra do tempo?
Por que a criança é folia,
E a velhice, solidão?
Por que a silhueta
Faz bailado no teclado da vida,
Se o corpo desce no profundo
Silêncio do submerso?
@@@
O poeta deu um trago no cigarro,
Tossiu, exalando a fumaça,
Tirou o lenço do bolso, passou nos lábios,
Olhou-me,
Respondeu-me:
“Assim,
Lá como cá,
Por cima ou por dentro do muro
A vida compassa ao som de violino
Em desatino, agonia,
Na cantiga da letra sem rima,
Na canção do vocábulo sem lingüística, semântica,
Sem estrutura...
Não se dá colo ao existir
Na serenata das mensagens,
Sem a poesia dos instantes
De carências e ausências do Ser.
RIO DE JANEIRO(RJ), 05 DE MARÇO DE 2021, 12:10 p.m.
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