#PRESENTE SEM EDIÇÃO TEMPORAL# GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA @@@@
Agora – instante sereno de surpresa, vazio
Momento suave de espanto – solidão ou silêncio
Acompanham despojo e perquirição,
Solidão de ideais, olhar indiferente o tempo e o mundo
Lucidez que denomino suave – no êxtase tudo é devaneio,
Batida contundente do sentimento do coração,
Não a sinto apenas, ouço-a.
Lucidez de quem mais não necessita investigar,
Sem quaisquer esforços, sabe e conhece,
Sabe-lhe o sabor,
Existir com pujança,
Viver com furor,
A esfinge da quimera livre
Liberdade das ilusões de as idéias
Efemerizarem os desejos,
Tornarem-lhes volúveis,
Susceptíveis à passagem das carências,
Fantasias de as coisas de amanhã
Estarem já passando na ampulheta,
Fora as que já se encontram inertes no fundo,
A efígie da sorrelfa de sonhos
Do que vai além da imaginação,
Do poder da razão
Tudo é alheio ao destino,
Alheio até ao vazio do destino.
O sono foge
Quiçá soubesse o itinerário de sua plaga,
O acaso deita ventos
Ocasos de acasos se espairecem
No limiar do crepúsculo.
Eco de sussurros povoa incógnitos advires,
Se houvesse de edificar a casa-do-ser
Ornamentar-lhe os sítios,
Fá-lo-ia como os romanos – sagrada sabedoria:
Em parte dentro do mar
- amaria com fulgor ter
algumas cositas enigmáticas
em comum com essa glamorosa imensidão,
Quanto às coisas sigilosas,
Prefiro não tocar nelas
Nada sei do que lhes habita o íntimo.
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Instante-limite – o que salva é o grito
Presente sem edição temporal,
Sem edição temporal
As controvérsias do sim e do não
No jogo lúdico das aventuranças melífluas,
As antinomias do sagrado e do profano
Nos delírios da razão no instante
De desolação, esqueceu-lhe a compostura ética
Das cositas que regem sua existência,
Exilada por decreto-lei.
As contradições do saber e da falácia,
Cujos pormenores de visão eriçam
A algazarra das línguas,
Mas não lhes concedem a dádiva do bom senso
E da visão ampla,
Para não despertar risos sem papas;
As dialécticas do instante sereno da surpresa
E o que salva é o grito
Por atiçar com veemência
A surpresa do grito, descobrindo
Nada haver que justifique a atitude.
A polêmica da inocência da pequenez
Ser todo ser pequeno.
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Presente sem edição temporal
A distinção entre nonadas e sombras claras,
Discernimento entre nada e coisa alguma.
Penso em que é que ficará dessa vida
Aos tiquinhos, aos bocados,
O que poderá ser dito de algum modo
Faça diferença.
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Que há de ser, aquando ouço músicas?
Essa presença de agora
Consola senões pela idéia
Vinda de sentimentos longínquos,
Até de idílios milenares,
Não esconde segredos,
Articula antes aspirações,
Para criar expectativa
Atrevo a levar comigo a atmosfera musical
Por amenizar-me os ímpetos da redenção dos pecados
E o prazer inventivo da melodia
Que espairece os pensamentos efusivos da ressurreição.
A inspiração do instante cria o caráter contemplativo.
Por que não tenho raízes?
A copa frondosa das origens – o que explica não tê-las?
A ausência artificia vazios inomináveis?
A melodia é o fato, o amadurecimento,
Em nada disso há o abstrato,
Algo que não tem história,
A realidade não possui sinônimo,
O real não tem antinomias,
Identidade própria.
Canto o que sinto epocar sem cessar.
RIO DE JANEIRO(RJ0), 07 DE MARÇO DE 2021, 08:21 a.m.
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