GREGO RITUAL DE ÁGUAS E TEMPO GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA @@@@
Sou primitivo oceano,
Primevas e eruditas águas,
Onde deságuam emoções, sentimentos,
Sensações, intuições, percepções,
E submergindo instintos de perpetuidade,
Perenidade, postumidade,
Aquando o póstero das coisas de existir
Guarda no alforje do tempo
As memórias de instantes inesquecíveis.
Sou primevo rio
Onde deságuam destinos, sinas e sagas,
Recursando travessias,
Emergindo dos aquáticos labirintos
Quiçás de oxigenadas origens e raízes,
Revezes de talvez hidrogenializado
De suspiros da Arte de Respirar
Para existir a lenda, legenda da verdade.
Sou algo informe,
Dividido em meus ideais,
Numa dança de gestos perfeitos
De representação,
Como num ritual grego,
Num baile de mãos que tocam o ombro
Da ampulheta,
Ombro latino das máximas,
Toques à vesperata da Cáritas,
Amor, ternura, carinho,
Com a imensidão dos afetos.
Unto meu corpo em óleos marinhos
Nácar dos sonhos e desejos
Que configuro com os ideais
Nas asas de penas que compõem
Do espaço das infinitudes
As aberturas para o há-de ser,
Retorno com nova face,
O amante ardente e apaziguado
Fluindo e refluindo
De outros semblante, fisionomias,
Como se re-torna de um mergulho
Em águas correntes de córrego,
Cristalinas,
Emergindo de outras terras,
Outros bem-virás,
De outros vales,
De outras colinas,
Para tornar-me fonte,
Algo luz in totum à mostra,
Totalmente visível,
Disponível à língua aletrar pronúncias sonoras,
A luzir na carne
Visível e tangível aos homens,
Talvez exilados em suas próprias choupanas,
Devaneios, desvarios, delíquios.
E ser a voz melodiosa destas coisas,
Trazendo à superfície
O som oculto
Que poucos ouvem,
Que poucos escutam,
Que poucos auscultam.
Não há gaiolas que possam
Aprisionar-me a voz:
Som de “Tudo que é reto mente”,
“Toda verdade é torta,
O próprio tempo é um círculo”,
E a cobra de sarcasmos, ironias, cinismos
Coleando pela garganta a fora
Ultrajes, desaforos, impertinências,
Secou-lhe a dádiva do veneno.
RIO DE JANEIRO(RJ), 14 DE MARÇO DE 2021, l4:25 a.m.
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