VIRGÍNIAS DECEPÇÕES DO ORGULHO GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: SÁTIRA @@@@
Corvos de por baixo da poeira da estrada,
Provocada pela passagem de um comboio,
Sobrevoam plantações
De cebolas e alhos arábicos,
Porcos de ouro derretido dançam músicas
Líquidas de sons inauditos, ritmos interditos,
Urubus em bando deliciam-se
Com os restos mortais de uma pulga amestrada,
Cristo Redentor fecha os braços
No peito de chagas abertas,
O Rio de Janeiro está um caos,
Clérigos lavam o chiqueiro do Vaticano
Com água sanitária, nova leva de porcos
Fora adquirida para a festança da Páscoa,
Veja como os pingos de chuva
Caem no amianto das telhas e ricocheteiam-se.
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Sou a neblina vespertina que é você,
Somos nós, são eles na solidão do inferno,
São todos no vazio do purgatório.
Sapos coaxam diferenças
Entre o lamaçal e a margem da lagoa flutuante,
Pirilampos degustam o sabor
De maçãs proibidas de perpetuarem-se,
Vira-latas observam a família
Brigando por causa do último osso de costela
De tatu,
Vociferando impropérios pais contra os filhos,
Jovens perdidos, alucinados
Dão nós górdios nas ondas gélidas das vaidades,
Vacas e ovelhas pastoreiam no eclipse
De imagens inóspitas,
Comem os grãos de trigo das paredes do nada,
Cobras e lagartos curtem o sol vespertino,
Enquanto casais brincam
De esconde-esconde no matagal,
Senis vestidos de roupas largas,
Cores escalafobéticas,
Rezam, debulham o terço da morte próxima,
Sentados à porta do Cine Teatro Marabá,
“Virgínias Decepções do Orgulho”
É a película da noite,
Lídia Porca, nua, desce a Avenida Dom Pedro II
Em fantástica correria,
Quê enxame!
Pedro Quatro Olho engraxa a botina
Do Prefeito Mané da Pasta,
Enquanto este toma o seu lanche,
Quibe e Guaraná,
Na lanchonete ao lado da Prefeitura.
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Sou a neblina vespertina que é você,
Somos nós, são eles na solidão do inferno,
São todos no vazio do purgatório.
Veja como o jeque puxa
A carroça de frutos marinhos,
Orelhas abaixadas,
O carroceiro baila no assento,
Cantando Churrasquinho de Mãe, de Teixeirinha,
Perfeita performance,
O carteiro entrega o nada envelopado
Em mão do professor de Física Quântica,
O açougueiro esvazia os bolsos
Entupigaitados de ócios do ofício,
Traficantes abraçam os motoristas de limousine
Que entregam engradados de Jack Daniel´s
Na Ilha dos Despautérios,
O delegado cheira cocaína
No evento de entrega de medalhas
Aos colunáveis do ano,
Lulas e sardinhas passeiam na orla de reflexões
Gênios, doutos reverenciam-lhes
Com fé inestimável,
Bob Mcgee e eu fumamos charuto cubano,
Sentados no banco da basílica-santuário,
Os fiéis louvam a Deus pós comunhão,
O clérigo toma o resto do vinho do cálice,
Chupando-lhe, tal a ganância por embebedar-se,
O apocalipse está próximo, não quer
Vê-lo acontecendo.
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Sou a neblina vespertina que é você,
Somos nós, são todos eles na solidão do inferno
São todos no vazio do purgatório.
Pessoas na praça principal da cidade
Contemplam o céu pegando fogo
Nuvens liquidificando-se,
Caindo nas avenidas, becos, ruas,
Dirigindo-se às sarjetas,
Encostadas nos meios-feios,
E Sonia Prequeté
Toca violino no velório
Do vereador Jingle-Dungle.
RIO DE JANEIRO(RJ), 20 DE MARÇO DE 2021, 07:09 a.m.
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