TROTEANDO DILEMAS DO SER** GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: PROSA POÉTICA




Epígrafe:


"... sem mim, minha águia. coruja, condor e minha serpente, tenho um excesso de vazio, um acesso de nada, como o coelho que deu a luz a sem-limite de filhotes..."(Manoel Ferreira Neto)


Faço valer o argumento excepcional da sombra, quando para furtar-se ao dilema, que um galanteio ostensivo se mostra, projeta sobre o homem o delineio de vereda sinuosa, por onde serpenteia entre as cúpulas de prata e os pilares de ouro.


Atrelo sonhos no corcel indômito
Que dispara e relincha e me entontece:
Antigamente ele nutria escombros
Agora outro pasto o abastece,
Outro pasto sacia-lhe a fome,
Outro pasto engorda-lhe.


Agora suas crinas eriçadas
De prazer que o vento e as potrancas
Galopam em liberdade enluarada
Remexendo suas lustrosas ancas.


Outrora um trote cego e o arreio
Era cilício na cintura: a dor
De esporas e látego e o freio.


Agora esta pujança, este embalo
De poema que é empinado
Por outra alma que tem nome de cavalo.


Antes, desde tempos imemoriais, destes que se distanciam a olho de lince, ficando na língua sedenta os seus movimentos, o poder de expressar numa palavra que não só encanta com seu som suave e incisivo, mas ofereça sorte precária, que talvez se torne mesquinha, dá forças para resistir ao egoísmo da paixão.


Qualquer coisa pode ser
O verbo que digo e afirmo
Ser a alma das querenças e utopias,
Ser a luz das trilhas a palmilhar,
Ser as visões de nossos sonhos e esperanças,
São aos linces dos meus olhos, sentimentos,
Emoções, até mesmo explicações e justificativas
Do que nem eu próprio posso intuir, inspirar,
Outros o significam, definem, conceituam,
Nada significa para outros,
Loucos e despreocupados se ocupam com estas coisas,
Desatinados e desvairados se entregam a saber-lhes
Custe o que custar....


Qualquer coisa pode ser
A coisa que digo, dizem!
Os pontos de vista se multiplicam,
Triplicam, cada um sob ângulos e prismas diferentes,
Multifacelam-se, sob a luz do vivido, vivenciado,
A vida, as coisas são
Tudo o que pensarmos e sentirmos
É uma visão,
Digo o óbvio. Endosso solenemente,
Quem despertou para a perquirição
Da alma re-velar-nos o ser da vida e das coisas?
Simplesmente,
Simplesmente,
Simplesmente....


Ainda vivo, dias agradáveis para a minha natureza ásnica eram justamente os de chuva contínua. Os instintos se anunciavam de modo mais forte, presente, com suas nuanças de galhofa, mofa, meditações, mas não era com asnices que causaria o riso nos humanos, apesar de que se mostravam lentas e sutis as angústias, tristezas, desolações, medos de
estar num lugar não sendo ele a existência.


Este embalo de poema nas patas de marchador
Que nem eu próprio posso entender como se pode marchar
Palavras, idéias, sentimentos, inspirações,
Empino por outra alma que tem o nome de vento.


Ventana galopa em liberdade luarada e estrelada,
As idéias se esplendem no movimento movediço
Da estética da vida o que ela é,
Crinas eriçadas sentindo perpassar-lhes o vento.


Outrora remexia as lustrosas ancas,
Empáfia e orgulho do trote cego e arreio,
Era o dilema do conhecimento e sabedoria do vento.


Agora outra grama verde e viçosa
Onde repouso o corpo,
Observo a ec-sistência às maresias, ondas do mar, ao vento.


Conhecia as sensações, sabia-as presente, deixava-as livres para o que desejassem. Em dias normais, a galhofa e mofa eram o prato do dia, contundentes, maléficas, extremamente pessimistas. A cachola instintiva fervia com os raios do sol, a alternativa era desejar que tudo saísse, nada ficasse dentro delas; ao contrário, quanto mais saíam ainda mais e mais tinham para sair.


Gostava do tempo de chuva.


#RIODEJANEIRO#, 13 DE DEZEMBRO DE 2018#

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