**DA PEDRA, O DEUS INCONTESTE** - PINTURA: Graça Fontis/POEMA: Manoel Ferreira Neto
Re-fazer as labutas, bungas-bungas, in-tens-ificar os esforços, à busca
da plen-itude, sublime. Verbos dos princípios, querências e versos do saber
primeiro, verdadeiro sentimento de olhar com fé, esperança, para o esplendor e
magia do conhecimento e sabedoria, da consciência e espiritualidade, imagens se
a-nunciam na distância do tempo, átimos de segundos e minutos.
Instâncias e estâncias das pers e pectivas dos mistérios, a ilusão de
encontro da verdade, a quimera de o sentido da vida se elevar aos auspícios do
brilho e esplendor do in-compreensível dos verbos pré-{s}-entes, das palavras
vagando por ruas, alamedas, becos, à busca de sentidos outros da fé,
con-templando por quês e quês viáveis, plausíveis, possíveis das esperanças.
Em tempos verdadeiros de travessias de nonadas ao antes era o mistério,
depois o desejo da luz, ao antes era o nada, depois a vontade de tudo ser, ao
antes era o verbo, depois o verbo se tornou carne, ao antes da bonança, a
tempestade, ao antes da tempestade, a bonança, roda-viva de sentidos,
pá-lavras, cata-ventos de metáforas, signos, símbolos na lingüística das raízes
imanentes e trans-cendentes
Do ser e do verbo, do verbo e verso.
O que me foi, a mim, foram bestas prostituídas, prostitutas
bestificadas; a mim foram bezerros de ouro venerados e re-verenciados; penas
exaurindo mil primaveras, incomensuráveis invernos; tintas re-fazendo as flores
secas caindo livres no solo, húmus de outras que embelezarão a aurora do novo
dia; o que me foi a mim foram barcos naufragados; faias redemoinhando águas,
fráguas des-cortinando, desvelando o des-brilho dos olhos, o silêncio da
língua, confusão, perdição na mente.
Dizer ou afirmar com prepotência, mesmo sem ela, de modo simples e
humilde, a vida são mistérios, os mistérios são sementes da vida, são raízes
abstratas do que há-de se a-nunciar, e até sentir-me extasiado por conhecer e
saber o que ela é, exultante por nada com-preender à luz do encanto e
re-encontro/re-encanto dos abraços e compassos, os réquiens às felicidades e
alegrias, às flores morenas que mandam no coração, que moram no paraíso de mim,
que me tiram da solidão, nada entender sob a imagem da nova consciência e
juventude do outro que se a-nunciará no campo de flores secas que caem e serão
húmus de outras a re-novarem as forças do espírito para as novas razões,
desejos e vontades, todas as alegrias e felicidades habitam-me, por assim ser,
ser o que me habita a essência da vida e contingências dos tempos,
despertando-me para a busca de esclarecê-los e torná-los transparentes e
re-luz-entes, não é está-la definindo de modo absoluto, não é estar
conceituando e categorizando os raios luminosos que moram no coração e espírito
delas, seja verdade eterna e imortal, não o seja, tanto pior, jamais haverá
quem isso conteste ou diga que nas situações e circunstâncias do tempo essa era
a definição que se poderia obter, era o que se poderia considerar e reconhecer
sublime e esplendoroso, as luzes plenas não haviam sido acendidas ainda, na
continuidade das relações sociais, políticas e econômicas é que seriam acesas,
iluminadas, abençoadas, ungidas, haver-se-á de esperar novos tempos, mudanças e
transformações, até que fora iluminado para assim definir com toda propriedade,
categoria, fora muito feliz, mas a mesm-idade do tempo continua, as sanidades
prolongam-se, as idéias vãs são conservadas em nome de preservar os princípios
da salafrariedade, para o esquife ser acompanhado com lágrimas verdadeiras e de
crocodilo pelas cumplicidades, capachidades, alibiedades dos súcias, sem os
benefícios todos das dúvidas extensas e cogitanas, só os súcias se amam
mutuamente sem quaisquer dúvidas e desconfianças, sem quaisquer interesses
obtusos ou chinfrins, completam-se, aderem-se, comungam-se, e tais palavras já
não têm o menor sentido, pode-se conservá-las, preservá-las, atribuindo-lhes
outros sentidos à mercê das pedras que rolam serra abaixo, da rocha que é
levada com esforço sobre-humano ao cume dela, já nem se explica por que razão
serem pró-nunciadas, por que motivo serem ditas com ênfase e euforia, até
deixando a baba escorrer queixo abaixo, as ciências, tecnologia, informática e
o conhecimento se desenvolveram, progrediram, não existem mais mistérios, a
vida é livro aberto, é página límpida e nítida de letras claras, mostrando
todas as sílabas que podem ser lidas livre e espontaneamente, com olhos de
lince ou simplesmente retinados de vazio e volúpias, pupilados de abismos e êxtases
– quê imagem de quem se encontra à soleira de seu alpendre, sentado no toco de
madeira, no crepúsculo, olha de modo re-flexivo a passagem do efêmero e
passageiro, do nada e obtuso, do eterno e in-cont-ingencial, e com a leitura
re-verenciar o que há de vir, espalhando coisas sobre um chão de giz, o que há
de ser, jogando na colcha de retalhos os confetes do gozo dos acorrentamentos
no calcanhar das explicações freudianas, dos enforcamentos nos pescoços das
idéias analíticas das neuroses e psicoses da psicanálise moderna, con-templar a
águia que voa de um extremo ao outro do uni-verso, em busca de seu in-finito,
do horizonte onde pousará e olhará tudo de frente, baterá suas asas alegremente
para mostrar e id-ent-ificar que os seus projetos foram sim concretizados,
poderá atravessar o que há para além do bem e do mal, do eterno e efêmero,
inspirando a humanidade para a esperança e fé de que Maria Santíssima abençoa a
todos com as graças de seus raios de luz que inspiram e iluminam o encontro do
Ser Divino e da Verdade Espiritual. Esperança e fé são ou deixam de ser, não há
meio termo – só há uma coisa que não se pode chegar a essa conclusão:
acredita-se ou não em Deus, não há meio termo, porque não acreditar em Deus não
existe, é atitude de jerico, é fantasia de imbecil, é nonsense de otário, mesmo
que o deus seja a pedra no meio do caminho, no meio do caminho haver uma pedra,
para que a esperança de a pedra se movimentar, andar, no meio da estrada ou na
sua margem se real-ize, noutras palavras, não existe qualquer cultura sem um
deus, na Pedra Lascada o deus era o lascado da pedra, à luz de dúvidas e
desconfianças, na Pedra Polida era o polido da pedra o deus inconteste e
verdadeiro.
(**RIO DE JANEIRO**, 28 DE FEVEREIRO DE 2017)
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