**ANÁLISE - TEXTO INÉDITO QUE SE ENCONTRAVA EM MÃO DE PAULO URSINE KRETTLI, junho 1989** - PINTURA: Graça Fontis/TEXTO: Manoel Ferreira Neto
ANÁLISE é o título do texto que deixara em mão de Paulo Ursine, e que
hoje, 16 de fevereiro de 2017, vinte e oito anos após, ele me enviou.
Entreguei-lhe a obra sem titular; devolvendo-ma, fez a revisão; poderia ter
dado o título, mas preferiu ser eu a intitulá-lo.
Há aquele leitor que, ao terminar a leitura de um texto, faz muitas
perguntas, como por exemplo: em que situações, circunstâncias o escritor
realizou esta obra?
Em 1989, Paulo Ursine publicou a sua primeira antologia de poemas,
intitulada GRITO ANTIGO, um dos comentários fora UM RIO DE ÁGUAS LÍMPIDAS,
publicado por ele num comentário, dentre outros comentários de professores
nossos, amigos, e o prefácio. Publicado, disse ao Paulo Ursine "Somos
amigos na vida e nas letras. Chegou o momento de eu contribuir com a sua
"vida de escritor", depois deste comentário. Passe um final de semana
em Curvelo, vou-lhe apresentar alguns amigos, tenho certeza de que alguém irá
adquirir. Apresentei-lhe alguns amigos. Levei-o à Faculdade de Letras, no sábado
à tarde, apresentei-o a alguns professores, se não me falha a memória à
Diretora da Faculdade. Paulo Ursine doou o nosso livro à Biblioteca.
Passamos o resto da tarde de sábado, no meu escritório, na minha
residência. Minhas quatro mães ficaram felizes com a visita de Paulo Ursine,
levando-nos lanche até onde horas da noite. Nós dois escrevendo este texto. A
noite inteira. Um texto a quatro mãos. Não saberia reconhecer o que escrevera
ele. Só lhe disse: "Vamos escrever um monólogo analítico. Cada dia da análise,
no divã, o analista ouvindo, o personagem busca desenfreadamente a sua
identidade".
Não me lembra se escrevemos durante o dia de domingo. Lembra-me ter ele
dito no instante em que subiu os degraus do ônibus, de volta a Belo Horizonte,
dizer-me: "Manoel, o que escrevi é seu. Faça o que bem quiser."
Reli o já escrito, e fui trabalhando, trabalhando, com uma preocupação
enorme, não poderia mudar uma palavra do que ele escrevera, o ipsis litteris, o
original, responsabilidade realizada a contento. Assim que nos encontramos
semana depois de nosso encontro, ficara eu em Curvelo, entreguei-o.
"Guarde com você, Paulo Ursine".
Não me é sabido se Paulo Ursine percebeu que no final de 1989 estava lhe
pedindo para guardar muitas coisas minhas. Mas, em verdade, em verdade, estava
a despedir-me dele. Iria embora de Belo Horizonte, e não sabia se retornava a
Curvelo ou partiria para outro lugar, lecionar Inglês, Português, Literatura.
No final de fevereiro de 1990, comuniquei ao Paulo Ursine que iria embora para
São Paulo. Duas semanas depois, despedimo-nos. Voltaria a Curvelo para cuidar
das minhas coisas. Aos 22 de março de 1990, tomei o ônibus na Rodoviária de
Belo Horizonte rumo a São Paulo.
Encontramo-nos algumas vezes na Universidade, nas minhas viagens de São
Paulo a Belo Horizonte, vice-versa. Retornei a Belo Horizonte em 1996,
encontramo-nos. Residi lá alguns meses, lecionando Inglês, já era pai de meu
primogênito, nascido em 1994, o caçula estava sendo gerado, nascera em Contagem
em 1996, e depois retornei a São Paulo, e não mais tivemos qualquer contacto.
Aqui está a história de ANÁLISE, um texto a quatro mãos, hoje as mãos
não importam mais, uma obra que escrevemos em parceria, e não apenas reunimos
os nossos contos, cada um contribuiu com cinco, publicamos CONT.ANDO. ANÁLISE
nós escrevemos juntos.
(**RIO DE JANEIRO**, 17 DE FEVEREIRO DE 2017)
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