**PÓSTUMO** - IN "DIVÃ EXISTENCIAL" - 29 DE JUNHO A 03 DE JULHO DE 1989** - PINTURA: Graça Fontis/POEMA: Manoel Ferreira Neto


Póstumo.
Nada de imortal, nada de eterno,
Nada de perene, nada de perpétuo.
A morte é-nos, somos vida e morte.
Efêmero, nostalgias, melancolias,
Vazios, náuseas, tristezas,
Falhas, faltas, equívocos...
Habitam-nos...
Con-templamos as esperanças, sonhos,
Desejamo-lhes, são a vida,
Entregamo-nos, doamo-nos
Seguimos a estrada, alguém, algo
Espera-nos nalguma estação, casebre,
E se nada, ninguém estiverem esperando
Horizontes, uni-versos estão de braços abertos.
Existe algo superior à Liberdade?
Até o Amor necessita da Liberdade,
A Liberdade escolhe, re-colhe, a-colhe
Quem é o Amor que pulsa no seu corpo, alma,
Qual é a sua Esperança, a que lateja em seu peito,
Qual é o Sonho que lhe corre nas veias,
Qual é a sua Morte, a que está dis-posto a lutar.



Póstumo.
Quimeras, fantasias, sorrelfas
No alforge, algibeira, mochila
Desejo de ser inteiro
Requer ser inteiro nas contingências
Neuroses, psicoses, escalafobeticismos,
Pitis, mazelas,
Néctar dos deuses,
Prazeres e risos da própria condição
Quê gargalhada esplendorosa!



Póstumas
São as idéias, pensamentos, ideais, utopias
Que o vento re-colhe, a-colhe, leva consigo
São a sensibilidade, a alma, o espírito
Que re-versam os questionamentos, indagações,
São a percepção, intuição, imaginação
Que fecundam e febundam os volos...



E diz Machado de Assis:
"Há homens que já nascem póstumos"



(**RIO DE JANEIRO**, 20 DE FEVEREIRO DE 2017)


Comentários