**ANÁLISE - TEXTO INÉDITO QUE SE ENCONTRAVA EM MÃO DE PAULO URSINE KRETTLI, junho 1989** - TEXTO: Manoel Ferreira Neto/PINTURA: Graça Fontis
Análise: 12 de junho, 1989.
Peça inteira.
Apanho-me sentindo uma leveza vinda de que sítio não sei, uma sensação
suave na carne, mas, devido à tensão existente no interior, não consigo nomear
estes fenômenos em mim. Talvez por estar havendo um obstáculo emocional de o
tempo entronizar-se no sentimento de meu amor, arrancando de sua memória as
situações de fracasso, colocando a identidade às claras. Talvez por estar
havendo um empecilho de a consciência penetrar no tempo de mais sentimentos,
retirando as arestas das lembranças das perdições, pondo evidentes as emoções.
Talvez por estar havendo uma dificuldade sensível de o intelecto adentrar nas
fantasias, entendendo-lhes, explicando-lhes, construindo o arsenal da
consciência. As fantasias precedem a consciência. Ingurgitando no cansaço de um
dia envolvido inteiro com a datilografia de uma obra e feliz por haver
descoberto em mim um amor antigo, filtradas as impurezas no tempo, adquiro,
pela primeira vez, uma espécie de cumplicidade com as forças de decisões, com
as firmezas das palavras, uma familiaridade e uma simpatia com a franqueza. É
evidente: este amor, desde os primórdios de seu nascimento, legou-me sempre uma
força de decisão, uma autenticidade das palavras, uma perspicácia no
entendimento de minhas circunstâncias da consciência, penetro-me fácil nos
liames de minhas fantasias, encontrando a verdade em mim. Descobertos tais
fenômenos, alicerçado no sentimento de rejeição, medo da solidão, necessidade
de compreensão, temi radicalmente os resultados, preferindo uma ambiguidade de
sentimentos, uma força e insegurança de decisões, uma autenticidade e desamparo
das palavras, uma perspicácia e desconsolo no entendimento de minhas
circunstâncias da consciência. Vivia com ferocidade a inquietude do próprio
corpo. Respirava uma verdade simples, quase higiênica e equilibrada. Reprimia
as fantasias, por uma questão de não desejar ir bem fundo na duplicidade dos
sentimentos, dizendo-me não ser sincero aceitar a imaginação. E, não sabendo
mais distinguir a fantasia da imaginação, transferia o significado de uma para
a outra. Não me é sabido como se deu o processo de filtrar as impurezas deste
amor em mim, pois o discurso estava envolvido das melhores fugas e mentiras.
Conquistar o seio do amor, em sentido de lhe sentir com seriedade e verdade, é
tarefa dificílima.
Não posso, em hipótese alguma, com convicção, afirmar que este amor seja
puro, vez que as impurezas residem em mim num sentimento de fracasso, começando
a fundar-se no início deste amor. Mágoas, ressentimentos, raivas, cóleras,
aborrecimento, nascidos a partir de inúmeras situações, esvaneceram-se com
efeito.
A bruma de prata, que flutua pela manhã sobre os prados ainda
sonolentos, é o vestido da intimidade. Inalo, entre lacônico e lascivo, a
pureza de sentimentos e sensações, que, aglutinadas à consciência das dores
mais substanciais, desejam a mim calmo e tranquilo, vivendo e sentindo
prazeres. Encoimo a consciência perspicaz, por vezes, a empreender-se a favor
do singular, e é a sensibilidade a chincalhar os pensamentos. Efemeriza-se o
vácuo no interior da memória e, de suas dimensões temporais, exala a
contingência dos desejos mais profundos, a necessidade da visão de vida mais
sentida e processada. A intimidade nua, a mostrar-se sobremaneira, sente as
sensações mais singulares de inteiração e desvencilhar do gozo e prazer.
Transcorro-me em termos afetivos. Concilio a intimidade com a imanência, num
favor de renovação. Insuflando interiormente, sinto-me estar. Não consigo
deixar de reconhecer que existe, neste sentimento de liberdade, qualquer coisa
de inteiramente espontâneo, às vezes, gratuito e irrevogável, que caracteriza o
encontro de percepções novas e escapa a qualquer fantasia. Postergam-se as
emanações contingentes do absurdo e, encontradas as ideias de sossego e
silêncio, extravio as sensações de perda.
Há consolo no espírito branco da eternidade. Tenho uns desejos vagos e
incompletos, que me obrigam, inerente aos desejos, a fechar as pálpebras.
Parece-me, a princípio, haver sentido uma eclosão além do intangível e sou uma
ironia mesclada de cinismo, a sentir-se os pensamentos. Reconheço o tempo, uma
sensibilidade no seu âmago; transpareço a nível das palavras. Quem sou? Uma
gota de mais e/ou de menos no copo de minhas ausências, me surge de verificar a
distância de mim, a estender-se ao longo da alma, fluindo-se espontaneamente. O
exílio de agora não será apenas uma manifestação, ser-lhe-ei os êxtases das
ondas. A dança de uma evidência que se escova todas as manhãs. Conciliam-se
raízes que se afloram no fundo do tempo e da terra à beleza muda, silenciosa. A
fisionomia de uma ingenuidade proclama um silêncio indisciplinado e o rosto da
inocência perspicaz lança, na consciência, a sombra clara do indivíduo.
Um lânguido e tênue olhar entenebrece, como um céu, onde vai relampejar.
Penso as contingências todas do passo sombrio – uma nitidez de ar sem poeira,
sem a vibração de raios tensos e densos. Intuo as arestas da consciência, os
resquícios da razão, os vestígios da indagação: sou a mesma abertura de
silêncio. Brilha mais puramente a brancura da realidade. Lá, das profundezas da
solidão, não devolvo as coisas nem as modifico. Um vento brando reflete no
coração. A fumaça do cigarro habita o escopo da intimidade. Fundo-me e me
absorvo na humanidade prolixa. Olho a claridade da luz. Afigura-se-me a imanência:
seria uma ausência lenta? As imagens retornam a encenar frente aos meus olhos.
O retorno nítido de uma cumplicidade com o sentimento do eterno aglutinado à
consciência da alma e suas voluptuosidades e volubilidades.
Levantei com o sentimento de estar sendo consciente hoje. Não há senão
uma atitude sincera e de que, em verdade, só eu participo de uma orgulhosa
liberdade; só eu, enquanto a necessidade de doar-me vem ligeira à minha
consciência. Sou.
UM equilíbrio imaginário.
Análise: 16 junho 1989
1º Ato.
O sentimento de ser feliz vem surgindo tímido, discreto,
resguardando-se, a todo instante, de uma simples ameaça à sua inteireza.
Deveria sentir-me angustiado, mas a angústia significa, apenas, uma ideia
destilada e desenvolvida. Anos a fio, num processo de ir e vir, vivi buscando
entender a estrutura das emoções, as quais terminaram por dizer, a mim mesmo,
ser uma fuga de elaborar a autenticidade, burilar o bem-estar, delinear o amor
e a afeição. Censurei-me em todos os níveis – as dimensões puras e nítidas nem
são percebidas a olhos nus por estarem unicamente servindo de justificativas e
fugas aos medos e resistências. Não abandono nem negligencio as emoções:
sinto-as a partir de outro ângulo das atitudes e autenticidades.
Um brilho todo especial sinto nos meus olhos. Um vento surge
ininterrupto, processando-se. A atitude de outro em mim. A volúpia, que dela
emana, esgota-se e remove-se a todo instante. Sei, no instante de agora, que,
nem um pouco, estou em condições de ir ao fundo de meus sentimentos, pois a mim
afigura-se uma estratégia e subterfúgio sutil de não assumir quem sou, mas sei
posso fazê-lo, mostrando-me. Meu ato, sem dúvida, necessita estar harmonizado
com os meus desejos. Crio novos sentidos para os sentimentos: desejo abarcar o
mais fundo em mim. As próprias delícias fazem-me sentir que poderia ir ao
contato do sopro mais fresco.
Demônios ociosos das sepulturas. Nestes longos e quase intermináveis
anos, pensando estar a enterrar as arbitrariedades, construindo um homem,
estive, por todos os níveis, buscando enterrar o homem, aflorando as
arbitrariedades inteiras e plenas. Nefasta escuridão do homem no mundo. Os
desejos nunca estiveram de acordo com os meus atos. Buscava, por vezes, uma
explicação plausível e sincera de desejar ser o mais inautêntico e ilegal
possível; e a farsa era de autenticidade e legalidade. Não me é sabido imprimir
justificativa, nem registrar explicações. Contudo, criando margem a
contradições de toda ordem, ambiguidade de toda natureza, sinto-me exigir de mim
um comportamento, uma atitude. Bem fácil desejar a inautenticidade com a
intenção única de justificar e explanar as gratuidades: não há o dever se ser
autêntico.
Peregrino em direção ás ruínas dos templos: lá encontro a beleza, que é
o encontro com o sentido de mim. Acaso posso mesmo dizer, com convicção, ser a
beleza, pois ela passou pelas perquirições, indagações, visão de forma,
contudo, estilo - em suma, foi racionalizada e intelectualizada? Acaso posso
mesmo dizer com consciência ser o sentido de mim, pois crio fantasias a fim de
aveludar as censuras? Cumpre conscientizar-me da própria tristeza e fazer
virtude de toda manifestação do espírito. Coloco ordens frente a mim, com a
intenção de vislumbro e estudo, a fim de aperceber-lhe a fundo. Fossem estas
ordens vividas com sinceridade, permitindo-me cada vez mais ir ao fundo de mim,
mas jamais sou sincero comigo. Todas as emoções vividas, pensadas, entendidas,
aconteciam e fluíam sempre nos labirintos da censura. Compreendi, enfim, as
dores manifestas, as angústias mais contundentes serem as censuras mais ferozes
e agressivas. E, hoje, sinto em mim um desejo enorme de desvencilhar-me delas,
viver lúcido e consciente a afetividade e amor mais puros. Contudo, nem sei ser
verdade este desejo, pois possuo o engenho e a arte de transferir a dor intima
para a dor da superfície e, neste instante, necessito de anestesias. Faz um
longo tempo evito dizer: “possuo um superego mais que aguçado: é feroz”. Dizia
a mim o meu superego haver sido formado aos seis meses de útero materno,
aquando comecei a sentir os primeiros indícios da rejeição. É verdade. Sinto.
Não queria, em absoluto acreditar e assumir, pois que, no mundo, rejeitava a
mim mesmo. E mais: a fim de não assumir frente a mim, haver-me rejeitado. Dói
imenso. Faço um enorme esforço e digo.
Não basta ser sensível para permitir a autenticidade. Como teria amado
seguir-me os passos e saber para onde estava indo? Como teria gostado de
abordar-me, mas me não permitiria fazê-lo, a fim de não me ferir o orgulho, a
vaidade! Causar-me-ia maior desamparo com as necessidades de superação,
entendimento, compreensão. Ultrapasso a linearidade com a simples intenção de,
a cada instante, o coração, sem um vínculo algum, indistintamente, através de
todas as coisas, ser o viver do bem-estar, da paz. Providas de significação e
significado, estas palavras tecem a mim com luxo e requinte. A superfície da
beleza aveluda o sentido, o vivido; e mesmo que haja o engenho e arte de
encontrar nela o que há de mais real e verdadeiro, permanece inda opaco e
destilado. Não digo não haja a beleza real e verdadeira, mas ela nasce sempre
de atitudes coerentes e sinceras. Expressei estas palavras, mas não nasceram de
atitudes e sim de gestos. Não são belas, nem constituem a beleza. Vou terminar
à beira do limiar do infinito, onde também terminam os horizontes.
Até ao último limite, a construção de todas as censuras, a partir dos
medos, resistências, fugas, trouxeram-me ao aveludar do mundo inteiro,
abrindo-me as portas para todos os infernos – e as vaidades das palavras
deliciam com a descrição escultural e artesanal deles.
Devasto os mares e rios de mim, o meu ser vindita os mais recônditos e
longínquos sítios da verdade – quando serei uma presença? Busco o solo profundo
onde fixar raízes – quando serei verdadeiro? Ou melhor: onde fixar raízes, o
profundo solo que busco – quando serei a minha verdade? A absurda desgraça: a
autoflagelação apresenta-se-me nítida e límpida, admiti-la como um estilo de
imergir das profundezas tumultuosas.
Análise: 21 junho 1989
2º Ato.
Sob o silêncio do dia
“O homem civilizado trocou uma parcela de suas possibilidades de
felicidade por uma parcela de segurança”. (Freud)
Quem sou eu no olhar a buscar o entendimento de todos os gestos,
comportamentos, atitudes? Quem sou eu no olhar desejando a compreensão de todas
as emoções, sentimentos? Quem sou eu no olhar querendo a visão do processo da
personalidade, identidade, íntimo? Quem sou eu no olhar intencionando a
percepção de todos os conflitos, dores? Quem sou eu na atitude de olhar o
outro?
Quem sou eu no sentimento?! Desejo ir o mais fundo em mim, perscrutando
toda a intimidade, burilando o estilo, delineando a forma, buscando a pureza.
Desejo sentir o âmago do carinho, viver-lhe, aprimorar-lhe, aperfeiçoar-lhe.
Desejo viver o seio do amor, sentir-lhe, ser-lhe. Desejo sentir o amor,
transformar-me, modificar-me. Desejo querer o mais autêntico, tocar fundo o
mais verdadeiro. Quem sou eu no sentimento de desejar?
Quem sou eu nesta imensa volúpia de atingir o eterno, sentir-lhe os
prazeres e alegrias? Quem sou eu nesta intensa voluptuosidade do abarcar o
imortal, sentir-lhe as delícias e gozos? Quem sou eu, se atingir o eterno, abarcar
o imortal, é-me apenas um deleite da razão, do intelecto? Quem sou eu, se
recuso tanto o imortal, o eterno? Tudo o que desejo é o mais mortal, o mais
perecível – sempre a partir do deplorável, do insustentável. Quem sou eu?
Quem sou eu no pensar a felicidade, se, ao me expressar, confundo os
dados, multifacelo a verdade e tudo se torna um vulcão de coisas nauseabundas
em erupção? Quem sou eu no pensar a paz, se, ao me exprimir, digo as dores, as
ansiedades, as angústias e tudo se torna um vazio imensurável? Quem sou eu no
pensar a alegria, se, ao me revelar, manifesto a tristeza, melancolia,
nostalgia? Quem sou eu ao exprimir as dores, as ansiedades, as angústias, se há
a presença de toda uma racionalização? Quem sou eu a manifestar a tristeza, melancolia,
nostalgia, se há todo um estilo de descrição de todos estes fenômenos?
Quem sou eu no instante em que traio a consciência, deslizando-me para a
má-fé, o gratuito, o arbitrário, o nauseabundo? Quem sou eu no instante em que
reprimo as fantasias, intencionando a consciência mais fundamentada e real?
Quem sou eu no instante em que rechaço a inteireza da consciência, desejando
viver todas as suas arestas por simples capricho e picardia? Quem sou eu no
instante em que desfaleço a consciência, a fim de alcançar a liberdade de olhar
por todos os ângulos do mundo sensível? Quem sou eu no instante em que corto a
consciência de minhas atitudes e atos, com o desejo explícito de ser a
agressividade, a rebeldia, o ressentimento, a raiva? Quem sou eu no instante em
que dilacero a consciência de meus sentimentos, com o desejo nítido de viver a
dor, a angústia, a ansiedade? Quem sou eu no instante em que negligencio a
consciência, com o desejo límpido de instalar-me unicamente a nível da
subjetividade, estar no subjetivo?
Quem sou eu no mundo, se, no instante da proximidade comigo, encontro-me
distante? Quem sou eu no mundo, se, no momento em que me sinto distante, é
quando me encontro o mais próximo de mim? Quem sou eu no mundo, buscando-me, se
o encontro é sempre uma perda de algo, talvez imprescindível? Quem sou eu no
mundo, perdendo-me, se o encontro é sempre atitude séria e real? Quem sou eu no
mundo, viver é estar morrendo em cada passo dado? Quem sou eu no mundo, a morte
é a eternidade sólida e insofismável? Quem sou eu no mundo, pois que não sou
real e as minhas atitudes realizam a mim?
Quem sou eu?! Amando, unicamente reivindico um reduto aconchegante onde
repousar a minha cabeça? Amando, interessa-me o diálogo, dizer o que me vai no
íntimo, esperando uma compreensão? Amando, interessa-me a conversa, ouvir o que
passa no íntimo, e jamais possuo uma palavra a ser dita? Amando, estou num
instante de fantasia, imaginação, criação fértil e, na realidade, tudo é apenas
um deleite, um espairecer das ideias?
Análise: 21 junho 1989
3º Ato.
Limitado Constrangimento
“O ego nos aparece como algo autônomo e unitário, distintamente
demarcado de tudo o mais”. (Freud)
O dia está para além da montanha: e ela silenciosa, radiante,
esplendorosa. Um silêncio indisciplinado e desordeiro. Um pedaço de matéria
escravizada, submetida a uma ordem óbvia. O significado é desordenado,
invertido, despido de caracterização. Sinto-me atraído e a sedução é uma
correspondência de afetividade e sentimento. Uma beleza muda, silenciosa: a mudez
de sentimentos lindos e breves, de emoções belas e efêmeras. No sonho, a
presença do limite a estabelecer a verdade de emoções muito longinquamente
vividas e, assim, mesmo sou eu quem as sinto em mim.
Desejo imediatamente uma aresta de liberdade que possa, de vez,
desvencilhar-me de atuações, destituir-me de farsas e, assim, coloque-me no
mundo imediatamente. Já não pode estar havendo qualquer laço de união com o que
estou sendo e o que estar havendo qualquer laço de união com o que estou sendo
e o que já fui. O que se denomina “pensar” é-me um limitado constrangimento,
uma justificativa de estilo. O limitado constrangimento afigura-se, às vezes,
ser um bom-senso frente à sensibilidade. É, sim, uma afronta ao bem-estar, à
felicidade, à alegria.
A afetividade de mim mesmo: busco com a sinceridade radical e exigente
de um olhar a quem se ama. Antes de haver conscientizado a mim desta grande
verdade, afigura-se-me ser suficiente a afetividade (não se é preciso buscá-la
num indivíduo: é uma de suas dimensões). Ora, concebo a verdade da sinceridade
funda e que realiza a afetividade. Experimentei-a com olhar atento e percepção
aguda. Lembra-me de como no silêncio de um monólogo interior - nestes monólogos
em que se penetra ao mais fundo dos sentimentos -, fui conscientizando a mim de
que a vida se sucedia na minha consciência, a partir de uma sinfonia a que
assistia orgulhoso e irrequieto, um cuidado enorme exigente. O silêncio
sentia-o eu num estilo de vertigem – no estilo era-me eminente fácil perceber a
presença do carinho a suceder no coração; a vertigem era uma espécie de
mergulho nos recônditos dos desejos dissonantes dos atos, simplesmente
atuações. A longa e aguçada vertigem aguçava-me os sentidos inteiros,
mostrando-me a sua utilidade e, melhor ainda, a urgência de metamorfoses a
nível de comportamentos. Fazia-se mister o fluir do afetivo.
O sonho é o estilo sensível e, por excelência, de as emoções
mostrarem-se, coordenarem-se, processarem-se no mundo da vigília e a ser
realizadas em sintonia com a identidade, o fundo d’alma. Se surge um limite,
neste sonho, é que as emoções não conseguem sobreviver de modo disparatado, num
estilo atabalhoado, além de irem morrendo no suceder dos instantes e nada pode
ser realizado. A identidade mergulha-se e se efemeriza.
O interior dos olhos, embaciado!
Análise: 21 junho 1989
4º Ato.
Entreabre-se, em silêncio, a singularidade, do clima frio, às vezes,
médio, mostrando a carne do rosto; a fisionomia é algo de uma ternura e amor
sérios e sinceros.
As infernidades escorçam-se na eternidade
Límpida, nítida, transparente
A eternidade
Desliza-se nas linhas da contingência
Branca, clara, translúcida
As atitudes são os meus passos...
Vertigem
Espécie de mergulho nos recônditos dos desejos;
Aguça-me os sentidos inteiros.
A urgência de metamorfoses assiste, orgulhosa e inquieta,
A presença do carinho a suceder no coração.
A bruma de prata flutuando pela manhã,
Sobre os prados inda sonolentos,
É o vestido da intimidade.
A intimidade nua
Sente as sensações mais singulares
Na inteiração do gozo e prazer.
(**RIO DE JANEIRO**, 16 DE FEVEREIRO DE 2017)
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