PRESENTE NO REGAÇO DA ALMA GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA @@@@
Ai de mim, de mim todos os ais!
Onde me encontro eu,
Por onde estou a trocar passos,
A palmilhar o chão de poáceas e poeiras?
Onde não estou
Nem por onde não ando?
A vulgaridade das caras de toda gente,
A hipocrisia dos pensamentos
Que lhe habitam a mente,
A simulação, dissimulação dos sentimentos
Que jorram de suas almas obtusas,
A farsa, a falsidade
Das idéias que lança ao léu do mundo,
A aparência, fingimento, mentira
Que insiste, persiste
Em armazenar, conservar
Para no inferno desfrutar, enquanto
Queima-se no caldeirão felizes e saltitantes...
Ah, a angústia ininteligível, insuportável,
O cansaço irreversível
De ouvir, ver as futilidades,
Asnices de toda gente,
Todos... Ninguém!
Todos... Coisa alguma!
Murmúrio presente de regaços da alma,
Próprio, individual,
Queria vomitar o que presencio,
Queria esvaziar o estômago
Do que engulo a seco,
Da náusea de presenciar,
Conturbado de eu ser o avesso do haver, do existir,
Haver inconsciência e irrealidade
Não sou deste mundo,
Sou de fora, sou estrangeiro, sou forasteiro,
Sou imoral,
Como ser apto
A exprimir o desespero
Que tudo isso me causa:
Andar na sarjeta do mundo?
RIO DE JANEIRO(RJ), 25 DE JANEIRO DE 2021, 14:46 p.m.
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