EU VAZIO DE TUDO E NADA GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA @@@@
Por vezes, reflito
Por vezes, reflito até o fundo do abismo de mim,
Ainda mais fundo reflito,
O mistério de mim surge-me vazio
Aos olhos rasos de lágrimas,
Os enigmas do mundo nada me dizem
Todo o horizonte que se me revela
São imagens nulas,
São faces que não incidem
Nem no verso nem no reverso,
Nem de frente nem de trás do espelho
Este permanece nítido nulo
Cada coisa,
Um candelabro de sete velas,
Um lampião sem a chama do fogo
Que ilumina a escuridão,
Uma pedra enorme na margem esquerda
Do rio sem pressa, inerte,
Uma árvore de tronco retorcido, seca, morta,
Olhar que me olha
De um tempo incógnito, ininteligível,
Desfilam-me n´alma todas as angústias,
Desesperos, temores, tremores, náuseas,
Os deuses riem à grande de mim....
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Ah, haver mundo das coisas!
Ah, haver deuses escondidos
Nas profundezas do mar!
Ah, haver a soleira da montanha
Onde as águas do mar revoltas batem!
Ah, haver a coruja que
Canta no galho de uma árvore
Na noite sem luar, sem estrelas!
Ah, haver uma cruz nos auspícios da serra,
Lembrando à população que Cristo morreu
Crucificado nela,
Ah, haver linguagem e estilo
De haver haver!
Ah, haver amplitude de visão da língua,
Haver modo de haver haver o que não há,
Existir:
Haver liberdade e consciência,
Viver:
Haver sonho e esperança,
Haver vazio e nada,
Haver realidade e mistério,
Haver magia e lendas e fábulas,
O que quer que isto signifique,
O medo indizível, horripilante
De existir a mais ínfima coisa,
É metuendo o mistério de haver
Qualquer coisa,
É formidoloso o enigma de haver
Eu no mundo de ser
No quotidiano das coisas,
Eu vazio de tudo e nada...
RIO DE JANEIRO(RJ), 25 DE JANEIRO DE 2021, 20:49 p.m.
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