CARÊNCIA DA ALMA DO SER GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: POEMA @@@@
Passei toda a noite
Sem dormir,
Pensando nada ter nas mãos,
Tê-las vazias,
Não ter memória na alma,
Ter a alma vazia de memória,
E, vendo as mãos vazias
De modos diferentes do que as via,
Antes de pensar no vazio delas,
Compunha pensamentos
Com o espaço vazio das mãos,
E em cada pensamento
O vazio variava
Conforme observava as mãos,
As posições que criava,
Delineava pensares
Com o vazio na alma,
E em cada pensar
A alma dizia-me:
O vazio é pensar
Nada haver que preencha espaços,
Nada haver que preencha a carência de liberdade,
Nada haver que preencha a solidão do Ser,
Nada haver que preencha o silêncio do Verbo
No sonho da Verdade;
Quase me esqueceu de todo
Sentir que pensava no espaço
Vazio das mãos,
Não ter melhor conhecimento
Do sentido vazio delas,
Do destino da alma vazia...
Assim como falham as palavras
Quando querem expressar qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos
Quando querem expressar o vazio,
Falham os movimentos
Para tocá-lo,
Para se enfiarem nele,
Como se enfia a chave no buraco da fechadura,
E descobrir que a amplitude
Do sentido do vazio
Encontra-se na revelação do múltiplo,
Só o vazio acolhe o múltiplo,
Na visão da multiplicidade das coisas
Que ele anuncia.
Mas como o vazio pensado
Não é o nada haver que preencha o espaço,
Mas o pensado na multiplicidade da visão,
A multiplicidade que preenche
A carência da alma do Ser.
RIO DE JANEIRO(RJ), 27 DE JANEIRO DE 2021, 21: 28 p.m.
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