CAPÍTULO XV – VÉU DE SEDA DE ORGULHO E PRESUNÇÃO GRAÇA FONTIS: PINTURA Manoel Ferreira Neto: NOVELA @@@


Andei por tantas vias até esse momento, vias herméticas que requerem elaboração do pensamento e das idéias, da loucura mais elevada possível, engenhosidade no modo de pensá-las, refleti-las , isto para mostrar a amplitude de visão de minha língua, posso patentear alguma algazarra sobre vários temas e temáticas com profusão e elasticidade – que loucura não é elástica, hein, senhores? Existe alguma? – não me centro em única coisa e fico a repetir como papagaios o fazem , isto na minha condição denomina-se “tagarelice’ sem quaisquer sensos, próprio dos néscios.

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Tomando isto em conta de consideração, vou lá tratar dos “Advogados”. O que intencionam eles senão levar a palma sobre todos os eruditos e fazem alarde à grande sobre sua arte. Para vos ser sincera, séria e franca, a profissão que defendem é, em última instância, verdadeiro trabalho de Sísifo. Fazem um monte de leis que não chegam à conclusão alguma. O digesto, as pandectas, o código? Amontoado de comentários, cláusulas, adendos, glosas, citações. Com toda essa mixórdia, persuadem a gentalha que, de todas as ciências, a sua é a que exige peremptoriamente o mais sublime, o laborioso engenho. E, como era de se esperar, se acha mais belo o que é mais complexo, resulta que os bobos da corte tem essa ciência em alto conceito.

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Não sei se devesse entrar por esse labirinto, mas vou comungar, com toda honra, os dialécticos e sofistas a estes, os advogados, que fazem mais estardalhaço que todo o bronze dodôneo, sendo que cada um deles poderia superar em “tagarelice” “trocentas” mulheres, mesmo as que costumam distinguir-se pelo falatório, inda mais quando se trata de considerarem a vida alheia como objecto específico de suas vidas, a que se entregam de corpo e alma até que a morte chega, tornando-se alcoviteiras imortais. Não obstante, seria inda de ter vontade de que não tivesse outro defeito senão de falar demais; mas, por desgraça dos homens, são sempre discussões de Lana-caprina, e à força de discutir para sustentar a verdade(como intencionam eles), perdem de vista a própria verdade. Esses imortais discutidores estão sempre alegres consigo mesmos e, armados até os dentes de quatro ou cinco silogismos, sempre dispostos a desafiar, confrontar para a controvérsia quem quer que seja e sobre qualquer argumento. A obstinação serve-lhes de espada, no imaginário a de São Jorge, invencível, pois nunca cedem.

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Agora sim, a minha predileção, a menina de meus olhos, os filósofos. Gabam-se de ser os únicos sábios, crendo que todos os outros homens não passam de sombras móveis. Rasgo com toda a categoria esse véu de seda de orgulho e presunção, e mostro-vos o que são os filósofos. Não passam de ridículos loucos: quem pode conter o riso, quando desgraçam a tagarelar sobre a razão prática pura. Na verdade, com tanta convicção sobre esse tema tão prolixo, qualquer os julgaria senhores lídimos do racionalismo sem precedentes, os deuses do saber peremptório. Basta refletir-se sobre a estranha diversidade dos sistemas, para se dever confessar que eles não tem nenhuma idéia segura da razão, muito menos da razão prática pura, enquanto se gabam de saber tudo, não estão de acordo em nada. Os filósofos nem ao menos se conhecem, exceto Nietzsche quem se conhecia sobremodo, tendo escrito a Genealogia da Moral, a sua auto-biografia psicológica. Todos os demais, ao tentarem elevar-se às mais sublimes especulações, caem numa valeta com que não contavam e quebram a cabeça contra uma pedra.

RIO DE JANEIRO(RJ), 17 DE JANEIRO DE 2021, 19:23 p.m.   

    

 

 


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