ANA JÚLIA MACHADO ESCRITORA CRÍTICA LITERÁRIA E POETISA ENSAIA O AFORISMO 904 /**SAPERE LONGE PRIMA FELICITATIS PARS EST/O SABER É A PARTE PRINCIPAL DA FELICIDADE(ANTÍGONA) - PROJECTO #INTERCÂMBIO CULTURAL E INTELECTUAL#




Neste aforismo de Manoel Ferreira Neto SAPERE LONGE PRIMA FELICITATIS PARS EST/O SABER É A PARTE PRINCIPAL DA FELICIDADE (ANTÍGONA) - Antígona que era um exemplo de amor fraternal e foi a única filha que não abandonou Édipo quando este foi expulso do seu reino, se baseou quiçá em Sófocles e na sua tragédia. Aristóteles disse: nam natura perennis est, non opes [a natureza é eterna, não as coisas...controvérsia, ainda porque o próprio Sófocles emitiu dois juízos inteiramente antagónicos: Sapere longe prima felicitatis pars est.


Aquilo que um indivíduo é fornece muito mais à sua dita que aquilo que contém ou afigura. Essa sempre deriva daquilo que o homem é e, logo, confina em si inerente; pois sua identidade o assiste em todo tempo e espaço, e assim esta aprimora tudo aquilo que vivencia. Em toda espécie de prazer, o indivíduo depara deleite sobretudo em si próprio; se isso é verídico em analogia aos deleites corpóreos, então quanto mais em relação àqueles da intelectualidade! Contudo, se a identidade encontrar-se mal acondicionada, todos os deleites serão como brióis delicados num bocal embebido de azedume. Assim, se deixarmos de lado os factos de enorme adversidade, tanto nas realidades benéficas quão nas nocivas, interessa menos aquilo que sucede connosco que o modo como o defrontamos, isto é, nossa essência e força de escrúpulo genérico. Aquilo que um indivíduo é e possui em si, ou seja, seu carácter e seu porte, é o exclusivo agente direto em sua dita e tranquilidade. Todo o excedente é mediato e disfarçado, de modo que sua interferência pode ser anulada e fracassada; mas jamais a interferência da individualidade. Por tal fundamento, a zelotipia acirrada por particularidades individuais é a mais inflexível, e igualmente a mais cuidadosamente astuciosa. Além, da formação de nossa percepção é o factor presente e constante em tudo que compomos ou amargamos; nossa identidade labuta mais ou menos continuamente no decorrer de toda a nossa existência; todas as outras intervenções, por outro lado, são temporais, acidentais, efémeras e sujeitas à variedade e à mutação. Podemos sustiver mais levemente um azar que nos fere externamente que aquele que concebemos para nós próprios, pois o intuito pode modificar, mas jamais nossa inerente essência. Desse modo, bens ilusórios como um carácter notável, um intelecto distinto, um carácter ameno, uma alma cintilante e um físico bem instituído, impecavelmente são, numa locução, mens sana in corpore sano [mente sã em corpo são (Juvenal, Sátiras, X. 356)], são os factores elementares e primordiais à nossa dita. Assim, devemos nos inquietar muito mais com a precaução de tais atributos que com a obtenção de magnificências e dignidades extrínsecas. Pois o imutável exercício íntimo exige apoio parcial por parte do extrínseco. Essa privação de teor é semelhante ao caso onde, em resultado de alguma sensação, jorra do interior de nós, algo que somos forçados a ab-rogar. Até as árvores, para desabrochar, carecem ser exaltadas pelo vendaval. Para contemplarmos a quão nossa dita deriva de um ordenamento divertido, e esta da nossa condição de sanidade, relacionemos a interferência que as mesmas condições extrínsecas ou acontecimentos possuem sobre nós se sadios e robustos com a que se obra quando um estado debilitado nos lega menosprezados e ansiosos. Não são as coisas objetivamente e nelas mesmas, mas o que é para nós, e, nossas inteligências aquilo que nos convertem satisfeitos ou desgraçados. Em geral, nove dízimos de nossa dita derivam meramente da sanidade. Com ela, tudo se metamorfoseia num manancial de deleite, enquanto sem ela não podemos usufruir seja do que for, qualquer seja a sua essência, e mesmo os outros proveitos egocêntricos, como atributos intelectuais, disposição e carácter, são danificados e abreviados pela sanidade escassa. Assim, não é sem fundamento que, quando duas pessoas se defrontam, primeiro questionam sobre o estado de saúde uma da outra, aguardando que encontrem-se bem; porque isso, de fato, é o que há de mais relevante para a dita. Sucede-se que a superior das doidices é descurar nossa saúde a qualquer coisa, seja opulência, estatuto, ensaios, fama e, particularmente, deleites lascivos e outros júbilos esquivos; em vez disso, deveríamos colocar a sanidade em inicial espaço.
Se no Clássico Testamento acha-se que a vida do imbecil é inferior que o fenecimento, igualmente se descobre, onde está a erudição, aí tem muito sofrimento.
Ora, ser iletrado e ditoso? Ser um feroz extinguido de seus anelos? Ou amargar inevitavelmente das perplexidades e das constrições que a erudição faculta? Permanecer na exiguidade e dela usufruir os deleites corpóreos? Ou se inverter para os horizontes de um interminável e misterioso cosmos?
"Nihil cogitatium jucundissima vita est", assim não meditar deixa a existência felicíssima pelas sensibilidades e deleites que se varrem como uma tocha de colmo? Obstando a vereda da agnosia, os estoicos verbalizavam, "Sapere longe, prima felicitatis pars est", saber vislumbrar distante é a primeira passada para se acercar à dita. Os dois são cursos contrários, o do deleite fisiológico, encerramento a si mesmo, definitivamente o mais habitual pela gente, ou a demanda do aperfeiçoamento místico que passa pela preparação, pela gnose, pela castidade.
Para alguns, a dita se centraliza em copos de bagaceira, mas não cessa nem na tigelinha de champanhe, acarretando precocemente aos transtornos da enfermidade, transfigura-se em imodéstia, em ânsia de domínio que jamais se extingue; para outros, menos bastos, é a dedicação ao protótipo sublime que não contempla na imolação um estafermo, mas um trânsito forçoso, uma taxa que se paga ao progresso.
Entre o crucifixo e o gládio, o curso transita "per áspera" e abala "ad astra". Elevar os astros, aos cumes do âmago humano, caminha precisamente pela rispidez das abdicações, dos tombos, da retiro e incessantemente pela obtusidade. O sujeito cônscio compreende que sua existência não é o início nem o termo de um percurso progressivo. Em suas opções, enxerga possibilidades que comporão seu couro privado, inabalável e perene.
Dante lembrou: Paridos não fomos para habitar como bestificados, mas para encalçar probidades e saberes. Constrições, plangências, taciturnidades, desapontamentos e até isolamento do despercebido são lapidas a polir de um rebo que se designa "existência".
Ana Júlia Machado


#ASFORISMO 904/


SAPERE LONGE PRIMA FELICITATIS PARS EST/O SABER É A PARTE PRINCIPAL DA FELICIDADE (ANTÍGONA)
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


“Começar das flores a primavera das metafísicas do encontro e liberdade” ou “começar das metafísicas das flores o encontro da primavera e suas líricas”, lírios, lilases, rosas, orquídeas, que resplendem de beleza as auroras, exalam perfumes que extasiam e elevam os desejos de sentir plenamente a natureza em seu ser, as suas sendas na essência, mistérios e enigmas no espírito de suas re-vel-ações e ocultações, e per-fazer o encontro do estilo e linguagem de se expressar a liberdade, a forma e o conteúdo de se dizer as profundezas do inconsciente.
Da primavera os interstícios da alma, do outono, nas veredas de outrora, os mitos, ritos, gritos da língua em riste que saboreia as palavras que emite, desejando enfática, enfálica e euforicamente o dó-ré-mi-fá-sol-lá-si das notas de amor, cáritas, a musicalidade e ritmo das idéias em harmonia com o que o espírito manifesta na memória, com o que a inteligência lê e interpreta de seus movimentos nas nuanças da id-entidade que se re-faz, que se re-constrói ao longo do eu que se busca nas situações da vida e do quotidiano, que se des-faz no outono das primaveras do ontem e hoje, re-nova-se nas antemãos e revezes do verão de outros raios de sol à luz das outroras-razões e sensibilidades, subjetividades com o que a alma ilumina na inspiração, intuição e percepção, com o que a razão in-versa e re-versa dos sentimentos a sensibilidade da lírica em seus versos e estrofes de iluminação e trans-cendência, com o que os ideais e utopias do belo puro, da beleza inocente, ingênua trazem em si para res-plandecer as sombras que se projectam com os raios faiscantes do sol, em cujos idílios do ser e não-ser nascem as con-templações das vontades da con-versão do in-verso ao real, do re-verso à verdade das linhas e inter-ditos, às in-verdades das além-linhas dos passos, traços, marcas das aventuras que fizeram as lágrimas caírem leves, livres e suaves...


A solidão não quer mais perder as águas de vista nas suas límpidas jornadas para alumiar as esperanças do encontro do brilho dos olhos que abrem visões e idéias para a fin-itude do amor que se ama sonhando, se vai ser assim, do avesso aos novos sonhos do verbo de conjugar balada às estrofes do espírito que se alimenta da beleza das flores que nascem nas auroras, morrem nos crepúsculos, da natureza que se projeta na distância, no longínquo, absolutiza-se na beleza de inspirar as palavras que lavram o ser das profundidades, a alma dos conhecimentos e sabedorias, a sensibilidade das profecias e nadas-a-dizer, nadas-a-cogitar, o conhecimento do desequilíbrio, do desequilibrado sentimento da solidão à busca do sublime, da angústia da carência, desejando a ópera das verdades e transcendências do “SER”, esperança do homem-novo nos inter-ditos das outroras inspirações do belo e da magia.


O dia translúcido, cristalino. Coriscos de sol possantes. Amanhecer de invernia avesso de vocábulos em cujas missivas descansam sensibilidades distintas, alvoroços. A autonomia gravada na campa de indiferente, a paridade degradada. Sinagogas, oratórios de concepções opostas, fantasias de anteriormente. Opostos motivos de existência e regalias, regulados em itens, alínea e artigos, permeiam melancolias clareiras, cerúleas (transparentes no futuro, as aparências).


“Começar de outrora essa aurora de outono”, entre o outrora e outonos de infinitos uni-versos na finitude das venturas e fortúnios da verdade às avessas da in-verdade, da in-verdade re-versa à essência da verdade, por intermédio da janela da alcova entrando os raios solares escaldantes, algumas sombras se projetando no chão de tacos sujos, amanhã, quem sabe, mande sintecá-los, o calor será imenso por todo o dia, além do mundo não há para lá me refugiar, de madrugada o friozinho estava bem agradável, na escuridão da alcova, a esposa dormindo, pensava na Sibéria, na con-versão das culpas que o inverno re-vela com distinção em sentimentos de amor e carinho pela humanidade, o peito arfando de calor, as chamas do coração brilhando livres e resplandecentes, desejava sentir-lhe o frio, ninguém está satisfeito com o que tem, eis a di-versão que encontro pura e singela, suave, em última instância, para mergulhar profundo na roda-viva das quimeras de alegria e felicidade, assim sentidas nos interstícios dos desejos, vontades, por serem efêmeras, nem ainda se a-nunciam já se despedem solenemente, nem dão tempo ínfimo para sentir e toda a alma eivada de suas esperanças e fé empreende a longa jornada sonho adentro à busca do que elas deixaram no íntimo que possam ser sementes e raízes de outros encontros e luzes do “SER”, luzes que irradiam novos ideais, inéditas idéias e projetos, iluminando as sendas de florestas esquecidas, de estimadas querências deixadas para trás, por inconsciência das verdades que habitam o tempo da ec-sistência, os instantes das fantasias, encontros que esplendem outros sentimentos de entrega, outras imagens de mimeses e do belo-estético, outras conversões do amor e amizade, outros amores e prazeres.


Encontro-me à janela, cotovelos no parapeito da janela, mãos amparando o queixo, neste alvorecer, rosto virado, um olho invisível, o outro visível, introspecção, circunspecção, pensando o que me vai íntimo. Entre a cruz e a espada, o caminho passa "per áspera" e vai "ad astra". Subir as estrelas, aos píncaros da essência humana, transita justamente pela aspereza das renúncias, das quedas, da solidão e sempre pela incompreensão. O indivíduo consciente entende que sua vida não é o começo nem o fim de uma trajetória evolutiva. Em suas escolhas, vê oportunidades que formarão seu cabedal íntimo, indestrutível e eterno.


Dante avisou: "Feitos não fomos para viver como embrutecidos, mas para perseguir virtudes e conhecimentos". Angústias, tristezas, melancolias, frustrações e até solidão do incompreendido são facetas a lapidar de uma pedra que se chama "vida".


Escol de poesia e estâncias, na consciência a comunicação de diferentes existências em cujas literaturas as prímulas alteiam o entendimento, declaração de fantasmas e imaginações (escol de ociosidades e ocupações; pétalas de labutação e ânsia).


(#RIODEJANEIRO#, 27 DE JUNHO DE 2018)


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