GRAÇA FONTIS ESCRITORA PINTORA CRÍTICA LITERÁRIA COMENTA O AFORISMO 843 /**ONDE A FRALDA DA MONTANHA SE BANHA NAS ONDAS**/
Amor, relendo este texto é que vejo a magnitude de sua sabedoria; pois
bem, cheguei a uma triste conclusão: nem que eu e outros quiséssemos chegar até
ti, sessenta e poucos anos não bastariam... portanto, aspirar seu saber é vã
infantilidade, imaturidade e falta de discernimento quanto ao poder nato
daquele que é genuíno, inigualável e Inimitável, portanto aos inteligentes, que
de toda sua sabedoria, captem e apreendam seus ensinamentos contidos em cada
palavra, frases e mensagens interditas cujo valor é inestimável para um
aspirante escritor; o mais, é só agradecer a Deus por você existir meu Escritor
favorito! Amor sempre Beijos. ...
Graça Fontis
Bem, minha amada Esposa e Companheira das Artes, Graça Fontis... A vida
dera-me as letras como alma. Assim, ser-no-mundo e estar-no-mundo são o sonho,
a busca do Ser, compreendendo e entendendo que o Ser habita o Silêncio das
Letras, e toda a existência é pouca para atingir e alcançar a Sabedoria, mas o
Saber fica no inter-dito de toda a obra.
Só peço à vida que me con-sinta estar-no-mundo por mais uns dez anos,
quiçá este Saber se manifeste, se re-vele com transparência.
Beijos, Amor de minha vida!...
Manoel Ferreira Neto
#AFORISMO 843/
ONDE A FRALDA DA MONTANHA SE BANHA NAS ONDAS**
GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Sim, que é o para sempre senão a última imagem, nítida, metálica, vem do
lado de lá das arribas, vem do lado de lá da vida, não exclusivamente deste
mundo, mas de qualquer mundo que se enovele numa arquitetura de sonho e de
permanência numa moldura de imagem do vir-a-ser envolvido nas teias da
eternidade.
O advérbio vem entre vírgulas e, mesmo assim, sentido algum possui, pois
não se realiza. O verbo vem logo após o sujeito e qualquer sombra deixa-se
trans-parecer no seu inter-dito. Mister chutar, espancar, surrar, esmurrar as
palavras, fazê-las espernearem, e não o contrário: deixá-las dar-me uma coça. A
vivacidade destas vírgulas é de tal forma persuasiva que num primeiro instante
nada se distingue, a não ser um efeito de ofuscamento difuso. Quando, porém, me
aproximo do advérbio, os olhos brilham intensamente, as estrelas velam o
ossuário da terra onde a fralda da montanha se banha nas ondas, enfim surgiu-me
o de que tanto necessito para me locomover nas pedras, rumo a onde a fralda da
montanha se banha nas ondas; sempre, se faz necessário esperar o momento
propício, não de imediato, e também de soslaio, porque, caso não o seja, uma
assembléia de sombras negras e brancas somem dentro da noite.
Sim, que é o jamais senão a primeva imagem, transparente, translúcida,
revela-se ao ocaso dos espíritos, mostra-se à face do vento, distribui seus
mistérios e milagres às mãos vazias no momento presente.
Aproximando-me de ambos, advérbio e vírgulas, já com a atenção bem
desperta, verifico que estas pedras, antes de me aproximar de onde a fralda da
montanha se banha nas ondas, têm um sentido: a graciosa figura dos direitos à
eternidade, o espírito tira proveito desses antemãos de sonhos e desejos. Que
tentação mais voluptuosa esta a de identificar-me com as pedras, realizar os
liames de mim e dela intimamente a esse universo frio e suave onde as águas
escorrem de volta às águas, universo que desafia a história da misericórdia e
compaixão – Cristo anda por sobre as águas, salva Pedro de se afogar, porque
ele não teve fé – e suas agitações.
Tamanha solidão e grandeza de Cristo dão a estes lugares, onde a fralda
da montanha se banha nas ondas, quem sabe até seja possível relacionar este
lugar com o Reino de Deus, assim definir o Reino de Deus como o lugar onde a
fralda da montanha se banha nas ondas, tais imagens dão a estes lugares um
rosto inesquecível. Ao nascer da madrugada frágil e singela, passadas as
primeiras vagas ainda negras e amargas, é um novo ser o que fende a água da
noite, tão exultante de a seguir – Ainda Cristo chamava aos seus discípulos,
dizendo-lhes que tudo abandonassem e o seguissem –; e, retornando, o mesmo céu
continuaria derramando sobre mim sua carga de suspiros e estrelas.
Como homem no mundo, por se satisfazer, serei o significado e sentido,
serei o presente. Se recebo aplausos e elogios, sonho um pouco, sinto que não
me resta muito para assistir aos sonhos na tela resplandecida da eternidade; se
descobrem nas entrelinhas a vivacidade do sempre, o jogo de terços de antemão
que unem e resumem as orações, sinto-me exultante, uma alegria deslumbrante
perpassa o corpo inteiro como mãos que a acariciam e amam de paixão, sou homem
quem acredita de corpo, alma, espírito, nos sonhos onde a fralda da montanha se
banha nas ondas, ah, sou quase um deus por criar esperanças; se me não
compreendem, espanto-me menos ainda. Esqueço e sorrio a quem me ultraja ou
então cumprimento com excessiva cortesia a quem estimo, olhando de soslaio para
quem me ofendeu, dizendo-lhe que poderia estar também sendo cumprimentado com
extrema cortesia.
Tal perseverança em tecer os liames do advérbio e vírgulas,
estabelecendo a harmonia de ambos com o para sempre e o jamais, tem algo de
emocionante e traz consigo uma lição: a de todos os momentos da criação, do
sentimento, da emoção, do sonho do verbo e a da busca do desejo mais divino
para a origem e gênese da alegria e felicidade.
Apanho em flagrante a linha que é o verdadeiro nome para o frontispício
de uma rocha sólida. O sentimento de plenitude de vida, provável, mas inda não
atingido, deixa-se, por vezes, entrever, lega-me o ensejo de vislumbrar, e
torna a voltar em meio a essas eternas represálias, esforços ansiosos por
murmurar uma nitidez delicada. Poder sentir-me seguro. Sobretudo servem de
testemunhos para representar de forma talvez mais significativa.
A figuração de jogos e prazer, de achaques e medos, de amores e de
traições – força enfim que modela não esse que sou quotidianamente, mas o
possível, o constantemente inatingido, que persigo como se acompanha o rastro
de um amor que se não persegue, o féretro de um íntimo que não deixou só
lembranças e saudades, que se deixou no mundo.
Domingo, à tarde, passeava pela Rua São Paulo, esquina de tupis, ligo
para o amigo-irmão, aquando tomei consciência de que a mamãe havia morrido;
ligo para minha residência, desejando saber o horário do enterro, tomei
conhecimento de que havia já sido enterrada. Não deixou lembranças e saudades,
deixou –se no mundo. Deus sabe o que faz!... Com certeza!...
A lembrança dessas tristezas não é uma saudade triste; por isto sei que
não sofri por não haver visto a mamãe morta. Tantos anos depois, seis anos e
cinco meses, ainda persistem em algum lugar de meu coração, cujas fidelidades
costumam ser difíceis, sempre, é com a mamãe, a lembrança viva de ela dizendo a
todo momento que saía de casa: “Maria Santíssima ilumine seus caminhos!...”
Conquanto , não é possível desconhecer a pedra. Mudo-a de lugar, mudando
os passos. Seja como for, existirá enquanto houver homens que a sentem de por baixo
dos pés. No momento, a pedra apóia o desejo de compreensão e entendimento;
sempre, faz-se necessário olhar para as pedras e os passos, passos em falso
resultam em queda, posso cuidar disso, com destreza e perspicácia, evito as
quedas. Mudar os passos é a função e responsabilidade, merecimento e dom, dos
homens; é necessário escolher entre realiza-los ou nada fazer, sentar-me a
pedra e observar as águas batendo nas pedras; o sol, o vento leve, a inclemente
tonalidade azul do céu, tudo já me permite imaginar a doçura do anoitecer.
Às vezes, sinto-me perdido no meio de um sorriso. Não faço sucumbir a
palavra ao fosso onde a fralda da montanha se banha nas ondas, onde enterraram
a carne. O fio de luz plenificou-se no barítono da morte. O medo de persistir
atiçou impressões da arte, trazendo o riso da coincidência. No outono, antes de
primavera outra, o olhar não intimidava nem retorcia no tempo conjugado do
verbo, preenchendo o vazio das respostas às perguntas que perpassam o espelhar
os projetos superpostos na indagação.
Os raios solares não me atingem; a poeira ainda não se levanta da
estrada, após a chuvinha desta madrugada, chuvinha fininha, quase que uma
simples garoa, chuvinha de início de primavera; eis a fralda da montanha onde a
contemplação do para sempre e o jamais resgata a mão fresca da noite sobre um
coração sedento da beleza e do belo; o espírito se une aos apóstolos
adormecidos e os sancionam; e o refúgio coberto de erva convém melhor a um
rapaz do que um leito de penas. A nascente murmura lânguida a meu lado. Estaria
realmente equivocado? Seja como for, tive sua revelação.
As estrelas velam o ossuário da terra onde a fralda da montanha se banha
nas ondas...
(#RIODEJANEIRO#, 10 DE JUNHO DE 2018)
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