#AFORISMO 842/ EIS A FRALDA DA MONTANHA ONDE A CONTEMPLAÇÃO DO PARA SEMPRE E O JAMAIS RESGATA A MÃO FRESCA DA NOITE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Apanho em flagrante a linha que é o verdadeiro nome para o frontispício
de uma rocha sólida. O sentimento de plenitude de vida, provável, mas inda não
atingido, deixa-se, por vezes, entrever, lega-me o ensejo de vislumbrar, e
torna a voltar em meio a essas eternas represálias, esforços ansiosos por
murmurar uma nitidez delicada. Poder sentir-me seguro.
Sobretudo servem de testemunhos para re-presentar de forma talvez mais
significativa.
A figuração de jogos e prazer, de achaques e medos, de amores e de
traições – força enfim que modela não esse que sou quotidianamente, mas o
possível, o constantemente inatingido, que persigo como se acompanha o rastro
de um amor que se não persegue, o féretro de um íntimo que não deixou só
lembranças e saudades, que se deixou no mundo.
Vida-viagem-tempo trazem em seu bojo, se se quiser, alforje uma
contraparte, que, des-velada, integra inda mais o sentido real que
trans-portam. Essa viagem, alfim, é uma anti-viagem e se afirma por suas
dialéticas.
Conquanto, não é possível desconhecer a pedra. Mudo-a de lugar, mudando
os passos. Seja como for, existirá enquanto houver homens que a sentem de por
baixo dos pés. No momento, a pedra apóia o desejo de compreensão e
entendimento; sempre, faz-se necessário olhar para as pedras e os passos,
passos em falso resultam em queda, posso cuidar disso, com destreza e
perspicácia, evito as quedas. Mudar os passos é a função e responsabilidade,
merecimento e dom, dos homens; é necessário escolher entre realiza-los ou nada
fazer, sentar-me na pedra e observar as águas batendo nas pedras; o sol, o
vento leve, a inclemente tonalidade azul do céu, tudo já me permite imaginar a
doçura do anoitecer.
Às vezes, sinto-me perdido no meio de um sorriso. Não faço sucumbir a palavra
ao fosso onde a fralda da montanha se banha nas ondas, onde enterraram a carne.
O fio de luz plenificou-se no barítono da morte. O medo de persistir atiçou
impressões da arte, trazendo o riso da coincidência, a coragem de per-sistir
eriçou os pelos dos braços do desejo da beleza. No outono, antes de primavera
outra, o olhar não intimidava nem retorcia no tempo conjugado do verbo,
preenchendo o vazio das respostas às perguntas que perpassam o espelhar os
projetos superpostos na indagação. No in-verno, antes de qualquer verão outro,
o con-templar não perscrutava nem perquiria se o tempo devorava a si mesmo e,
como Chronos, se alimenta do que gera.
Os raios solares não me atingem; a poeira ainda não se alevanta da
estrada, após a chuvinha desta madrugada, chuvinha fininha, quase que uma
simples garoa, chuvinha de início de primavera; eis a fralda da montanha onde a
con-templação do para sempre e o jamais resgata a mão fresca da noite sobre um
coração sedento do belo; o espírito se une aos apóstolos adormecidos e os
sancionam; e o refúgio coberto de erva convém melhor a um rapaz do que um leito
de penas. A nascente murmura lânguida a meu lado. Estaria realmente equivocado?
Seja como for, tive sua revelação.
As estrelas velam o ossuário da terra onde a fralda da montanha se banha
nas ondas... A lua con-templa as palavras bailarem no silêncio vazio de sons
onde as docas ressonam extasiadas - sonham sentidos, significados e
significantes.
(#RIODEJANEIRO**, 10 DE JUNHO DE 2018)
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