#AFORISMO 683/ ASAS QUE VOAM A ÁGUIA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/ARTE ILUSTRATIVA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO



A voz cai no abismo
De teu silêncio,
As palavras elevam-se no deserto
De tuas necessidades de viver
O ser dos sonhos
E dos desejos
Aportam na esperança de lograr algo de valioso.


Meu cântico de vida e verbos é profundo.
Há melodia de amor e nada posso senão nascer,
Des-cobrir o que é nascer e estar dis-ponível
Para a Vida em todas as suas dimensões.
As muitas urbes que miro
E mentes de homens que escrutino,
As muitas dores amargadas
No mar a fim de preservar o próprio alento.


Tudo atrás do ser
- dentro de si,
aquela dimensão onde não existem viagens,
nem necessidades imediatas,
nem conhecimentos a serem adquiridos -
Tudo atrás do pensamento e idéias,
- a verdadeira liberação é a consciência -
Tudo atrás das intuições,
Percepções, inspirações
- ponto equidistante entre a vida e a morte,
entre o prazer e as mágoas,
entre o amor e o ódio -
Tudo atrás da razão,
Do cogito,
Das oratórias,
Logus
- apagando as mágoas do passado
e possibilitando assim
o recomeço de uma vida futura.


Nos raios de luz das estrelas,
Lua e sol,
O passado diz apenas de fomes e sedes
De sobrevivência,
De carências de amor e paz,
De interesseira des-lembrança,
Re-versa re-cordação
- diria mesmo -
se entendo ser verdadeiro com o que
Me perpassa a razão e o intelecto,
Sentimentos e emoções,
Com o que me habita o mais profundo do íntimo,
Com meu ideológico esquecimento,
Melhor ainda,
Meu utópico olvidamento que se utiliza
Do sudário das questões abstratas
Para cobrir os limites e fronteiras dos olhares
À con-templação das verdades in-verdadeiras,
Das verdadeiras in-verdades,
Para comer o pó obtido
Do fruto do lótus.


O céu, porém, traça in-finitos, volvendo-se anos,
Desnudo e gélido
Que se insinua
De noite arcaico,
Por entre estrelas e a lua
Sufoca as constelações
Deixa-me
Em alta noite
Insone, nulo.
Cruzo o mar das sensações abstratas e inauditas,
Atinjo um porto na beira ocidental do mundo.


Ser o que em mim sou,
“Não bastasse o profeta
Se vingar do futuro”,
Deixo fluir em versos
A morte que conjuga
Verbos.
"Não bastasse o peregrino
Re-colher e a-colher as areias do deserto",
Deixo flanar as tempestades...


Nas viagens aos mistérios,
dúvidas,
incertezas,
ao inaudito,
inolvidável,
ouço as vozes carnívoras,
os sonhos verbais,
que lamentam tempos imemoriais:
e tenho pesadelos indecentes,
indecorosos,
imorais sob ventos doentios,
que oscilam,
tremem e tremelicam,
que elevam as folhas e pétalas secas,
fazem-nas pairar no vazio,
que fazem cair o verde,
o viscoso,
a vida delas,
ao longo do deserto seco.


Tu me lês,
em silêncio.
Nesse ilimitado campo de trevas,
o desejo de luzes ainda mais forte
para que a claridade
seja esplendorosa
aos nossos olhos,
Os ventos voam para fora do
então não apenas des-{dobrar}
as asas e voar,
mas ser a Vida,
ser a águia no voo,
ser as asas que voam a águia.


(**RIO DE JANEIRO**, 09 DE ABRIL DE 2018)


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