#AFORISMO 455/PRETÉRITOS E PARTICÍPIOS DAS TRAVESSIAS PARA A LIBERDADE# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Sem medo...


Sem medo de re-truquizar com os naipes da solidão e da náusea,
Re-trucando com os caracóis da honra e liberdade,
O obtuso, oblíquo, com aflição, ansiedade, aquele retoque cínico,
Sarcástico, irônico, um rebuliço com devoção,
Plantar o que não foi plantado,
Acreditar a semente emergirá do solo, dará o seu fruto,
Raízes vivas, latentes, fortes,
O que fora não colhido outrora, sê-lo-á noutros tempos,
Viajando com ensandecidas idéias, tresloucados ideais,
Devaneando diante do panorama, paisagem do que era invisível
Em idas eras, longínquos in-finitos, a beleza inestimável das imagens que se patenteiam,
Vislumbrá-las, con-templá-las,
Divagando diante do esplendor, resplendor das constelações, planetas,
Viagem eterna, mesmo que me seja chamado à terra, aos afazeres,
Alfim, a liberdade é construída de feitos, realizados, criados, re-criados,
Olhar o fundo da cisterna, vendo-lhe a água que me dessedenta
Sacia-me os ideais que revelo no olhar,
Místicos pensamentos, gotas de silêncio eivando-lhes de re-velações,
Atitudes de re-flexão, ações na feitura das coisas,
Seguindo a linha do lácio que um dia me fora doado,
Mostrou-se-me, con-sentindo a destruição do tempo,
Instaurando poeticamente, quiçá, pela memória-poesia
Numa luminosidade in-temporal,
Ad-versidades várias,
Para viver numa ilha, em contacto com a natureza
Mister afagar-lhe com liberdade, dignidade...


Sem medo...


Sem medo de coisas estranhas,
E a mais estranha de todas elas,
O homem,
A linha do céu em nós se esfuma,
Tornando-lhe estrangeiro mais que estranho,
Oblíquo, obtuso, apólis, sem cidade e lugar,
Solitário,
Aporético no meio do ente em sua totalidade,
Sem constituição e limites, sem estrutura e dispositivo,
Falar e instaurar tudo isso, rasgando os verbos do íntimo,
E por algum truque ou tramóia conjugar o in-finitivo,
Sintetizar o gerúndio e particípios, devaneios amiúdes,
Nos cofres inconscientes, expandir o acontecer histórico,
E se a metafísica é um ramo da literatura fantástica,
Não deixar de ser menos metafísica, poética e/ou verdadeira,
Outras formas de pensar, outros estilos de in-vestigar,
Outras linguagens de olhar, ouvir, auscultar o in-audito,
A nova filosofia,
O elemento do fogo,
O espírito do homem ante a iminência do eterno,
Ante o ex-cêntrico, alterar a relação sujeito-objeto,
Abominar os que cambaleiam apenas no círculo
Do próprio e da in-{com}-preensão...
Oh, oh, oh, oh...
Per siempre acorrentado aos sonhos, ideais,
Deixar-me ser levado, já me passaram as primaveras...
Estar indo embora, sem jamais haver chegado...
Pediram-me não tocar neste tema,
Metaforicamente, as primaveras passaram, sigo-as, cantando...
A orla do mar não tem limites, sem distância, caminhada...


Sem medo...


Sem medo de re-versar sin-estesias e metáforas
Para o silêncio dos medos e inseguranças do vir-a-ser
Do destino in-evitável, da existência alhures do desconhecido,
Da algures sobrevivência das incertezas, dúvida,
Mostrar-se em sua inteireza, compl-etude
E assim, refestelando-me na rede, na varanda das sorrelfas,
No chão da varanda deitado, ouvindo música e o canto dos pássaros,
As cadelas latindo, brincando, mordendo-se,
Re-fazer as poeiras metafísicas po-ematizadas,
Re-criar os ventos gnósticos po-etizados
Re-inventar as trilhas do vale trans-literalizadas
Criar croqui do invisível, indivíduo de alforjes no peito, enlaçados no pescoço,
Terços de brilhantes, ornamentos, quiçá, não os debulha,
Quiçá amuletos os alforjes,
Re-estruturar o itinerário das verdades íntimas, recônditas,
Latentes por terem de ser ditas, à margem do que possa ser consequência,
Sob a presença insofismável e incólume da lua
Romantizando sentimentos e ideais que fluem livremente
E as dimensões sensíveis per-vagando solenes
Nos interstícios do que trans-cende o efêmero,
Do que trans-eleva a ponte partida do rio sem margem,
E a intuição do verbo sem ossos da carne,
Pres-ent-ificando o pálido solstício do entardecer,
E à soleira da etern-idade o manque-d´être da imagística
Da paisagem do horizonte e o uni-verso re-colhendo e a-colhendo
A contra-luz das divin-itudes que eivam o espírito do Ser
Com as perspectivas da Face do mais-que-perfeito da perfeição
No banquete das orgias lúdicas dos deuses,
Vinho e carne fresca de ovelha saciam a sede e a fome...


Sem medo...


Sem medo de tergi-versar linguísticas e semânticas
Para a beleza e uni-versal-idade dos versos que a-nunciam
Além da poética do espaço o in-fin-itivo dos gerúndios
Eivados de nadas e vazios,
Seivados de nonadas e nonsenses
Estou dizendo da ausência da iluminação, apenas a mera inspiração
Estou dizendo do vazio da percepção que não re-colhe e a-colhe
Os pretéritos e partícipios das travessias para a liberdade
Que abre os leques para a sensibilidade das etern-itudes do clímax
No instante do conúbio entre o efêmero e a volúpia da carne
Entre a fornicação entre a hipocrisia e o eterno, felizmente que a hipocrisia
Sofre de frigidez, o eterno não a engravida.
Estou dizendo do instante-limite da náusea dos sofrimentos e dores
No percalço e encalço dos volos da felicidade e do ser
Permaneço quieto, sentado na areia da praia con-templando
As ondas do mar e a distância do além
Há o sítio onde as nuvens e as águas se comungam
Nada mais pode ser visualizado, tudo re-vela o mistério, enigma
Ausência de iluminação para pensar que se re-flete a si
Ilusões perdidas do sentimento que sente os sentires...


Sem medo...


Sem medo de in-versar son-éticas e fon-éticas
Para ouvir no silêncio dos rituais místicos o som das águas,
Que musicaliza a jornada do tempo
Em direção ao Ser do Sublime e da Leveza,
Para escutar no instante-limite da solidão dos folk-lores míticos
O Blues "The Thrill is Gone" re-presentando a passagem singela
Do Amor Eterno à Eternidade da Esperança do Amor Absoluto
Re-compondo as tessituras e tecituras do Genesis,
Re-inicializando as origens e primev-idades do Apocalipse,
Re-sonetizando a terceira margem dos caminhos do campo
Com a imagem da colina coberta de neblina
Vislumbrada e con-templada pela águia que rasga o uni-verso
Para auscultar nas forclusions mitológicas
Ritmos e melodias das metafísicas e gnoses da alma
Eternamente, per siempre, sob os auspícios do desejo
Da plen-itude, da compl-etude que a liberte litteris e ipsis
Das algemas e correntes dos éritos da verdade
Trans-elevando-a às iriásis lunares do In-fin-itivo regencial
Dos verbos da perfeição eivada da espiritualidade do espírito
Iluminada das inspirações e percepções sin-fônicas do Ser...


(**RIO DE JANEIRO**, 10 DE DEZEMBRO DE 2017)


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