#AFORISMO 444/NO LIMIAR DAS ONDAS DA IMAGINAÇÃO DES-VAIRADA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
A paz do coração posta em desvio
A sublimidade sentida no âmago da alma
Em extravio de ondas de sensações indizíveis,
Em improviso de inspirações de ventos
De comoções morais in-inteligíveis,
O gosto em desenganos sufocado,
Lágrimas com lembranças desafio,
E pela tarda Morte às vezes brado:
Tão maviosos são meus ais mesquinhos, tanto pode a
paixão que em mim suspira, que se esquecem das mães os cordeirinhos: tantas
volúpias que em mim se patenteiam, que se esvaecem nos mistérios,
incognoscíveis das idéias e ideais que perpassam os interstícios, esperam
outras escolhas de se ver o mundo esplender-se. Quanto tempo antes de voltarem
os sentimentos, emoções, sensações, devastando a sede de sabedoria das
dialécticas e contradições que são húmus de outras luzes de conhecimentos, de
outras contra-luzes de in-vestig-ações do não-ser, e se a vossa sublimidade de
espírito não se lhe revelar, é que os sibilos do vento estão acabando de à luz
do sol, esplendendo-se no tempo, movendo moinhos e cataventos, devorando idéias
e utopias, devorando esperanças e vontades, seguir no "café com pão,
manteiga não", as sinuosidades das trilhas.
O vento não se mexe, nem respira;
Deixam de namorar-se os passarinhos,
Para me ouvir chorar ao som da lira.
Quantas vezes o olhar implacável do artista se
detém, subitamente desarmado, numa criança suja ou papoula tola, no ápice
gelado de uma elucubração absolutamente cética, o pensamento se corporifica
como nó na garganta e transborda, liquefeito em lágrimas. A história de meu
corpo é de afetos represados. Sepulto vivo, quem é a outrem dado, e quem ao
outrem que há em si, sepulto, não poderei Senhor, alguma vez, qualquer rumorejo
de vento no arvoredo, brilho incerto sobre o rio, acordar de repente o
“sentimento-raiz”, recalcado, mas formidavelmente vivo: “Quem me entalou estas
lágrimas nos interstícios do coração?!”
Do antiqüíssimo de mim, onde têm raiz todas as
rosas de maravilha, cujos odores são esperanças que amo, das honras e
dignidades caprichosas, vaidosas, porque as sei fora de relação com o que há na
vida, uma vontade estranha, oculta, e deliberada de verter lágrimas quentes e
fáceis, talvez porque a alma é infinita e a vida, finita.
A compaixão(éleos) surge na existência contínua,
cíclica, com grandes fontes de alegria como a misericórdia, o que desejo é que
iluminai a todos como tendes iluminado a mim, e deito tranqüilo e sereno,
sabendo que vós estais a meu lado a todo instante.
É de sonho e de cinzas que se existe a vida, que se
ec-sistem as náuseas e as angústias, que se ek-sistem os pós e as poeiras da
estrada, ec-siste a ec-sistência cumprida e solitária, a liberdade é que se
despetá-la ao re-colher, a-colher, colher as luzes que se bailam nos seus
reflexos, útero que concebe e gera criações, criatividades, invenções,
in-vestig-ações, ec-siste a metafísica que vomita perquirições, os gritos que
se revelam altissonantes diante dos verbos do silêncio há tempo recolhido e
acolhido, esperando o instante-limite de se patentearem, e das cinzas o templar
o re-nascer do incognoscível do eterno, que são mistérios que voam longe, o
in-audito de o efêmero ferir o eterno, despetalando-se, mostrando, com a dura
semente que se prende no peito de toda multidão o que virá como aflição e
cor-agem, na voz de peregrino que anda solitário atravessando os campos e
florestas, bosques.
Esta antiga angústia que trago há milênios no
coração, transbordou da taça em lágrimas, imaginações férteis, desejos de
mostrar o íntimo, mesmo com todas as dificuldades, carências. E, no entanto, na
lua que esplende no céu, no sol que incide sobre o vale, um indício fala no
limiar das origens.
Ainda que o perdão não seja a resposta, é possível
encontrar paz.
(**RIO DE JANEIRO**, 06 de dezembro de 2017)
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