#AFORISMO 435/ASAS DE ÁGUIA# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Epígrafe:


"Ser é escrever a alma."


Páginas brancas de nada, outrora sonhos, fantasias, miríades de imagens projectadas aos confins, ilusões de serem re-fletidas no espelho do tempo, semblante, fisionomia mostrando o que na alma residia, o nada performado de sentimentos, emoções, o vazio con-figurado de ideais, idéias, pensamentos, o ab-surdo pre-figurado de medos, in-seguranças, im-perfeitos os verbos, chamavam a atenção, ad-miravam, surpreendiam as preliminares intenções lhes tornarem perfeitos, im-perfeitas perfeições numinando litteris ipsis as estradas ao longo das esperanças do porto de onde vislumbrar a imensidão do mundo seria este vislumbrar seguro, sem quaisquer ilusões de óptica?, isto porque não acredito em porto seguro -, atrás tudo tornado princípio, éritos de circunstâncias e situações, dores, sofrimentos, dis-posições a morrer em nome de perfeccionar verbos im-perfeitos, criar a vida, re-criando as condições, habitando o "nada", largando mão dos dogmas do ab-soluto.


Sem lenço, sem documento, empreitada sem re-torno, no silêncio o murmúrio, sussurro serem as chaves de ouro do soneto "entregar-se à viagem à plenitude", alfim e enfins ec-sistir são passos para o nada, de sendo-em-sendo nonadas, itinerário de mergulho profundo nos cofres da in-consciência, retirando de lá o que alimenta e seiva os in-fin-itivos dos sonhos, ora indicativos, ora subjuntivos, ora gerúndios, ora particípios, mas sempre iríasis-para o ser, con-ting-ência e trans-cendência, ser e nada, ser e tempo, homem e ideais, indivíduo e liberdade, colocar em questão todas as travessias em direção às verdades que são as ribaltas que iluminam íris, pupilas e retinas para a visão além dos instantes-limites, além do que trans-cende as divin-itudes, além das arribas das esperanças do pleno, das utopias do silêncio.
Apoteose... Ex-tases... Volúpias...


Esperanças voam livres, acasos de sonhos perpassando no tempo, acasos de liberdade emoldurando pectivas de con-templar nos interstícios da alma a luz que ilumina mistérios e enigmas, velando-lhes, des-velando-lhes, des-cobrindo outras iríasis a serem re-colhidas e a-colhidas, trans-formando a vida, de sendo-em-sendo verdades, de sendo-em-sendo o silêncio, sons, ritmos, melodias, a lírica solene do "Ser" compondo o eterno de versos e estrofes, criando e re-criando a música a embalar a alma carente de sono profundo, tranquilo, sereno, esquecendo-se das intempéries das éritas angústias, tristezas, sentimentos de solidão, desolação, alfim a leveza suave e terna de sonhar as águas cristalinas sarapalhando nas margens do In-finito seu ser de espiritualidade, o In-finito mergulhando profundo nas suas moléculas à busca da química de suas divin-idades, no despertar do sono o que era, o que era desejo, o que era esperança tornados simplesmente o eidos da vida, a vida sem metáforas, re-presentada por semânticas e linguísticas, sem teologias, sacralizada pela fé, evangelizada pela espiritualidade, sabedoria do divino, sem filosofias, dialécticas do tempo e do ser, do tempo e do nada, águia de iríasis que voa livre, no seu olhar o brilho diáfano da plen-itude in-fin-itiva, a vida sob a luz abissal de sua verdade. Apoteose.


Nos horizontes do mundo, nos uni-versos da terra, a solidão do silêncio, o silêncio da solidão, na rua a obra do homem, violência, fome, mendigagem, em cada rosto uma expressão, a eidética que suprassume a trans-cendência, a con-ting-ência da alegria perpétua.


Poemas poetizam... Poemas poematizam... Poemas poietizam o trem azul que segue seu itinerário de outras esperanças e sonhos, de outras utopias e fé, a vida deve continuar.


Em mim, a vida. Con-templo-a ad-mirado e surpreso, tantos caminhos trilhados, e vou seguindo tranquilo e sereno, leve, as iríasis do In-finito, minha luz para o porto, inda passeando pelas margens do rio sem pressa, sentindo a vida, alfim viver é sentir o espírito da vida, e que espírito não voa nas asas da águia do ser?


(**RIO DE JANEIRO**, 03 DE NOVEMBRO DE 2017)


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