#AFORISMO 431/DA GNOSE DA VIDA, AS ONDAS DE TODOS OS DIAS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Felicidade é conhecimento,
da gnose da vida, o pão de todos dias,
ondas de todos os dias,
momentos,
instantes-limites,
e meses seguintes,
e anos consecutivos,
e até hoje,
a querença de cantá-la sem música,
recitá-la sem poesia,
dizê-la sem entonações, ênfases de voz,
sentir-lhe o gosto do sonho de outras
esperanças!
saborear-lhe o prazer do nada
de sonhos!


É saber
Da finitude, in-finitude,
É sabedoria
Da morte, vida,
É consciência
De que o Ser é sempre busca,
De que a busca é sempre outra perspectiva
De vivenciar a con-tingência do Ser/Ec-sistir,
Da ind-igência do quotidiano
Que é contraste entre o agora de aqui
E o lá de amanhã,
Estar na expectativa,
Exultante de volúpias e desejos bastardos,
é jogo de encontros e des-encontros,
Conquistas, frustrações
Do coração que versa sentimentos
De plen-itude
No giz que risca o éter
Do sem-fim,
Do diamante que corta o vidro
Do sem-destino,
Dos ideais e ideias que dialogam
As sinuosidades até o início
Do fim,
Os ziguezagues até o desenvolvimento
Dos átimos de instantes,
Na roda-viva do chão preto,
Na velocidade que nada
Guarda ou acumula
Das milhas percorridas.


Felicidade é saparalhar
De antemãos, os re-versos do orvalho,
De linces, os avessos da garoa
Caindo nas luzes dos postes,
Umedecendo o solo do quintal.
À forja das ideias, os reversos
Da neblina, neve,
Levados e soprados pelos ventos,
Coro de sibilos,
Aos avessos dos pensamentos,
Os inversos da chuva, dos raios de sol
Fulgurando de luzes à soleira da caverna.


Assim,
Tão simples assim,
Disperso à solenidade
dos mundos,
dos métiers,
do gauche,
do droite,
Entrego-me, futilmente,
Às sensações com grande
Escrúpulo de erudição sentida
Pejo de modernidade abominada.


Continuo traçando letras,
Conjugando verbos,
Criando vocábulos,
Des-aprendendo vernáculos
Do eterno, do efêmero,
Do fugaz, do imortal,
Tripudiando com os sentidos,
Tramóia com as vicissitudes,
digo-lhe as suas bem-aventuranças,
Revela-me as perspicácias e solércias
Das virtudes,
Metáforas,
Símbolos,
Signos,
Não lhes digo o porquê de não declamá-las,
Recitá-las com a presença das dimensões
Dos verbos e da poesia,
Mesmo com a linguística das nonadas
a semiologia das náuseas,
a metafísica do vazio
são a alma, o mais abismático
a origem,
nelas habitam a poesia e o verbo
Dos temas e temáticas,
Com todo esmero, carinho,
No alforje e algibeira,
De por baixo do punho da camisa,
Por vezes ases, por vezes reis,
Por vezes rainha,
No lúdico jogo de pôquer,
Semiologias, Semânticas, Sin-estesias,
Sentidos. Significados. Significantes
Dos sonhos e fantasias
Da verdade,
Lá para o fim do futuro,
Haverá quem dos sentidos
Sentirá o paladar das metáforas,
Além do vale profundo,
Espírito do espírito,
Alma das sementes,
Carne das raízes,
Cinzas de ossos-húmus,
Essência da essência
À luz da espera de outro
Alvorecer,
Do verde da folha de samambaia
Brilhar e resplandecer
Aos primeiros
raios de sol,
Incidindo no re-verso/in-verso
De curtir o só de ser,
Desfrutar o ser de ser só
Degustar o ser-só de curtir,
E ser feliz na solidão da ópera
E sinfonia
Da vida, do viver,
E ser livre no silêncio das baladas,
De canções
Que bebem na gruta,
Uma a uma,
As gotículas de leveza, serenidade,
Que calam o que rebusca a consciência,
No jogo de tripudiar,
No jogo de tramóias,
No jogo de trambiques...
Da inconsciência... serpente perspicaz.


Diante de tudo o que é perfeito, diante de todas as perfeições e imperfeições dos homens, estamos acostumados a omitir a questão do vir-a-ser e desfrutar sua presença como se o futuro houvesse desabrochado, tivesse brotado magicamente do chão, percorrido chão preto em busca do arco-íris que perpassa as curvas das montanhas, estende-se ao longo de terras e florestas, rios e chapadões, espalha-se pelo silvestre da natureza.


(**RIO DE JANEIRO**, 01 DE DEZEMBRO DE 2017)


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