AFORISMO 429/RÉSTIAS DO HÁ-DE VIR# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


RéstIas
Ocasos de pretéritos sob miríades de agonias
Acasos de declinações latinas sob lâminas afiadas
De regências e concordâncias de idéias e sentimentos
Gerúndio de tempos infinitos
Compondo
De lembranças e recordações
O verbo de apocalipses
Particípio de instantes fugazes
Re-compondo
De fantasias e quimeras
O sujeito de genesis
Entre o verbo de apocalipses
E o sujeito de genesis,
As volúpias e sombras do vir
A ser,
Do vir-a-não-ser;


RéstIas
Ocasos de imperfeições sob espectros de aspirações
Aspirações do tempo flanando no vento,
vento de leste,
vento de entre montanhas,
vento ziguezagueando as arvóres
do bosque,
vento de abismos,
Sibilos esplendendo-se ao infinito,
Infinitivo de imperfeitos horizontes
Tecendo
De memórias e a-nunciações
As utopias místicas do pastoreio de ovelhas...


Espírito que está cônscio de si próprio, fala docemente, procura a obscuridade, faz que lhe esperem. Foge da luz intensa; foge de seu tempo e de seu dia. Sombra: quanto mais baixa o sol, mais a sombra aumenta. Teme o raio, teme a insegurança de árvore muito isolada e exposta, sobre a qual cada tempestade possa descarregar-se e cada expansão descarregue a sua tempestade.


Verdejantes os campos de centeio, trigo,
os jardins de rosas
os quintais de árvores frutíferas
A esplenderem o espírito da beleza,
A res-plenderem a alma do que é singelo e puro,
Pureza do belo aos auspícios do sublime,
Simples ornamento da perfeição
Arrebique do eterno a adverbiar o caos
a adjetivar o absurdo,
a substantivar a água na lata,
da cisterna,
a epigrafar a ideia, pensamento
e todos correm, todo mundo,
de pasta na manhã,
corre, corre, corre...
"Em cada bucho a digestão."
De dimensões da náusea do nada
Pervagando no cata-vento das contingências
Da dúvida e do medo de o eidos
Da esperança ser apenas movimento
serem exclusivamente gestos e toques,
serem de excelência palavras,
(se acreditasse em metáfora, diria,
com toda razão,
ser isto metáfora - mas não acredito)
Inerente ao ser-para-a-morte,
De lâminas afiadas do vazio das utopias
Do sublime, da pureza,
Perpassarem de leve a superfície
Dos desejos e volúpias.


O alvorecer se anunciando
No córrego raso de águas cristalinas,
No rio profundo de águas límpidas,
Canoa solitária sendo levada às furtivas
Do tempo, aos antemãos e revezes
Re-versas, in-versas, ad-versas
Às margens ao longo da estrada
Sendo con-templada pelos boêmios dos portos,
Nalguma taberna,
Boêmios do ocaso tomam a última
Dose de aguardente antes de refestelarem
O sono nos braços das imaginárias
Sereias que curtem o silêncio do mar,
O desejo da solidão nas areias do rio
A vigília dos gestos e querubins
Que performam e encenam a dança
Lúdica da pureza e estética do sublime,
Do sublime, a estética concebe o espírito,
Da pureza, o sublime cria a estética do sensível...


Ópera do vazio
Sinfonia da náusea
Concerto de vazios-nadas


Música - arte independente
Linguagem da própria vontade,
Que fala diretamente do abismo,
Revelação sua, pessoal,
Fundamental, imediata...


A representarem a com-pletude ab-soluta
Das quimeras à luz do mais-que-perfeito
In-fin-itivo cristalizando as ins-pirações
Do nunca a vers-ejar no eidos do obtuso
Os inter-ditos do sempre que re-luz
Ad-luz as sombras à soleira do particípio
Que trans-eleva o orvalho do efêmero,
As lâminas de raios solares do eterno,
Às long-itudes dos limites entre o não-ser
Dos idílios e o nada dos flumens
Que eterizam o espírito da alma
Nas suas dissenções do prazer e glória
Audiência de melodias e ritmos,
Das résteas do há-de vir...


Consciência em nome do brilho da lua,
Liberdade em nome da cintilância das estrelas,
Destino em nome da luz, dos raios de sol...


Estrela, na testa,
outra na face,
Sons, ritmos, melodias, harmonias, musicalidade,
O cavaquinho danado
Esplende por todo o universo...


(**RIO DE JANEIRO**, 01 DE DEZEMBRO DE 2017)


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