POETISA E ESCRITORA ANA JÚLIA MACHADO ANALISA E INTERPRETA O AFORISMO 226 /**ÊXTASE DE DEVANEIOS E UTOPIAS**


Ora bem, mais um aforismo belo mas intricado de interpretar de Manoel Ferreira Neto . Mais uma vez vou tentar fazer o meu melhor e tentar no que me aparenta ser nas entrelinhas, e fazer algo….


... Jamais
Se enumere ninharia da imensidade
Dos abismos, do eminente e imortal
Fulgor dos astros, nem dos novos
Devaneios dos meses lunares;
E jamais alimento quimeras e confianças vazas
Às minhas infelizes escuridões
Emperrares .Caminho -me
Sórdido, à falda do fenecimento
Ou à débil borda - falsificada
Da confiança, tão-somente
Em alienada defesa ao inabalável
Malogro desta inútil e ignóbil
Caminhada. Mas que sofrimento é esse que oculta muitas preciosidades,
Aniquila sem fim de fortalezas, covis
E retalha, todos os asterismos de quimeras e de confianças
Se meu ancoradouro fosse mesmo fixo, se meu despovoado fosse mesmo
deleitoso, se minhas energias fossem mesmo possantes, se minhas tonturas tocassem
mesmo as sombras, se minhas garras embatessem o físico e o mais valorizado:
se eu fosse mesmo meio do que delineei ao meu jeito de contemplar, já possuiria indultado
das babas e das ficções dos retrógrados, já haveria engendrado uma existência
Menos manchado e premente, e um porvir com pedaços
senão que irrepreensíveis. Não nos devemos embair, cogitando adejarmos como espertalhonas.


Caminhamos mesmo é como formigas…mas em tão-pouco..só naquilo que nos extirpa os sonhos e a vida é tão breve como diz o autor Manoel Ferreira Neto no seu aforismo ÊXTASE DE DEVANEIOS E UTOPIA


Cataclismos de ninharias? Fica um momento cogitando se esta análise da existência da imensidão é reentrante: as lágrimas negras, toldadas, tanto poderiam encontrar-se a centímetros da areia quão camuflar o infindo.


Ana Júlia Machado


#AFORISMO 226/ÊXTASE DE DEVANEIOS E UTOPIAS#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Miudezas do in-fin-itivo eivando de luzes e sombras verbais a contingência de só efêmeros na jornada da vida.


Des-aprender o instante-limite, absurdo nauseabundo do não-ser, escancarar as venezianas do re-conhecer a proximidade do longÍnquo se encontra, estabelece-se nas ipseidades da continuidade dos sonhos e esperanças do verbo que conjuga seus modos de interação com os horizontes por onde as cores diáfanas e cristalinas do arco-íris per-vagam, circun-vagam nos eclipses do espaço poético, po-emático das miudezas da felicidade que nada são senão inspiração e impulso para o inaudito de mistérios e enigmas, des-compassado de ritmo e melodia, murmurando, ruminando, sussurrando o silêncio da solidão, emudecendo os paradigmas do solipsismo.


Devaneio... O devaneio enche-me com o mesmo gosto que tenho em arrumar as gavetas da escrivaninha, da biblioteca, correspondências, manuscritos, chego a desarrumar-lhes para arrumar novamente, entendendo isto em dois níveis: neste instante-limite das arrumações e desarrumações, a querença dos devaneios, devanear o devaneio para mergulhar na efemeridade das coisas; sendo a grande dificuldade entabular conversa com as pessoas, com esta atitude busco assunto para conversar, dizer o que penso nestes instantes, mas isto cansa as pessoas pois que falo como se estivesse escrevendo, com as miudezas particulares, aquela preocupação extremada em não cometer gafes na língua, as idéias claras, aplicação de aluno, a falta de jeito como se de súbito houvesse perdido o fio da meada, tendo de reconstituir as idéias, um momento de devaneio. Tudo isto causa-me prazeres inusitados, sinto-me em demasia feliz.


Genesis do caos. Apocalipses de nonadas elevando as travessias aos auspícios do tao ser do eidos do silêncio que todos chamam de sala de vista da re-flexão da coruja cantando o desértico de quimeras e ilusões, fantasias e sorrelfas, mas o som é a fertilidade que trafega nos joios da mauvaise-foi e diz com ternura, carinho, amor, caráter a cáritas em sendo concebida no elisio campo de orquídeas, flores silvestres, sendas e veredas de cáctus ao longo das poeiras que preenchem o coração de volos e êxtases da utopia.


Uma palavra mais verdadeira poderia de eco em eco fazer desabar pelo despenhadeiro as minhas elevadíssimas idéias e pensamentos, devaneio por abismais minutos na perplexidade e na assustadora esperança de dedilhar as cordas do violão, cantando sentimentos e emoções que me perpassam, o que íntimo revela a humanidade do ser, de meu ser, desencadeando sonhos de saber, conhecimento, compreender a ec-sistência real, é um instante que peço ser vivo.


O mar revolve-se forte e, quando as ondas quebram junto às pedras, a espuma salgada salpica-a toda. Genesis do caos? Apocalipses de nonadas? Fico um instante pensando se esta observação da realidade do mar é funda: as águas escuras, sombrias, tanto poderiam estar a centímetros da areia quanto esconder o infinito.


(**RIO DE JANEIRO**, 02 DE OUTUBRO DE 2017)


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