Ana Júlia Machado ESCRITORA E POETISA ANALISA E INTERPRETA O AFORISMO 217 /**CORREÇÃO DE LINGUAGEM E ESTILO**/


Sucede-me uma reflexão sem-vergonha, que é, ao mesmo tempo, uma rectificação de língua e género.
Em relação a este tema do autor Manoel Ferreira Neto nem sei que dizer….


Que muitas vezes, enfada-nos decifrar sobre factos, sobre criaturas, é incomum descobrir escritos sobre reflexões. Por isso quando verbalizam sobre a fetichização da mudança da linguagem não resisto. Habitamos um tempo em que a reflexão do diferente encontra-se na organização do dia. Seja pelo atemporal, pelas fundações, pela mente grupal, quer se alumiar pelos secretos, pelo Uso, está sentenciado aos condenados. Ser-se «liberal» passou a ser sinónimo e conhecimento e boa alma. Lógico que às vezes vai-se para muito pior. O risco do novo sem suporte no clássico e admitido e esse: abate-se por si próprio. O progresso na língua por vezes é motivo de riso…cai-se no ridículo.


Mas não poderei de citar o nosso Grande Camões do que era efetivamente a Língua Portuguesa, hoje tão esquecida…
Verso de Camões que andava um pouco olvidado: “Esta é a ditosa pátria minha amada.” Comparece n’ Os Lusíadas, um exemplar que ainda alicia estadistas “Esta é a ditosa pátria minha amada, / À qual se o Céu me dá que eu sem perigo / Torne com esta empresa já acabada, / Acabe-se esta luz ali comigo”, redigiu Camões no canto III, 21ª oitava, d’ Os Lusíadas. É uma das mais sublimes quadras deste feito matriarcado da língua portuguesa cujo tamanho de reputação se confronta bem pela comparência de muitos dos seus versos na nossa linguagem de todos os dias. Com efeito, é trivial aludirmos à “ocidental praia lusitana” (canto I-1), àqueles que foram “dilatando a fé e o império” (I-2), aos que “se vão da lei da Morte libertando” (I-2), ao “engenho e arte” (I-2) ou ao “peito ilustre lusitano” (I-3). São analogamente usuais, até a quem não enxergou uma só risca do amplo poema, poemas como estes: “Cesse tudo o que a Musa antiga canta, / Que outro valor mais alto se alevanta!” (I-3); “Vós, poderoso Rei, cujo alto Império / O Sol, logo em nascendo, vê primeiro” (I-8); “(...) julgareis qual é mais excelente, / Se ser do mundo rei, se de tal gente” (I-10); “Duma austera, apagada e vil tristeza” (canto X-145).


Os Lusíadas é uma obra distinta igualmente pelas feições que concebe ou reproduz. As Tágides (“E vós, ó Tágides minhas, pois criado / Tendes em mim um novo engenho ardente”, I-4); Vasco da Gama, o “forte capitão” (I-44); a deusa Vénus, defensora dos portugueses, que “novos mundos ao mundo irão mostrando” (canto II-45), pois “se mais mundo houvera, lá chegara” (canto VII-79); Inês de Castro, aquela “que depois de ser morta foi rainha” (III-118); o Velho do Restelo com as suas imprecações (“Ó glória de mandar! Ó vã cobiça / Dessa vaidade a que chamamos fama”, canto IV-95); ou o sinistro Adamastor (“Cheios de terra e crespos os cabelos, / A boca negra, os dentes amarelos”, canto V-39). Já para não pronunciar das investidas autobiográficas do autor no seu poema, como aquela em que se representa como alguém que tem “numa mão sempre a espada e noutra a pena” (VII-79). Ou, delineado em inserido navegante no afamado acontecimento da Ilha dos Namoros, nos alumia que “Melhor é experimentá-lo que julgá-lo / Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo” (canto IX-83).


Camões foi um exemplar na arte do adágio em formato de verso, como Os Lusíadas bem atestam. Eis alguns: “É fraqueza entre ovelhas ser leão” (I-68); “Sempre por via irá direita / Quem do oportuno tempo se aproveita” (I-76); “Quanto mais pode a fé que a força humana” (III-111); “Um baixo amor os fortes enfraquece” (III-139); “É grande dos amantes a cegueira” (V-54); “Contra o Céu não valem mãos” (V-58); “Quem não sabe a arte, não na estima” (V-97); “Fraqueza é dar ajuda ao mais potente” (IX-80).
Não estranha que o nosso superior poeta perdure a seduzir estadistas: foi ele quem apontou que “toda a terra é pátria para o forte” (canto VIII-63). Foi ele que tão bem conseguiu entoar essa “ínclita geração” (IV-50) que se arriscou no ponto preciso “onde a terra se expira e a imensidão começa” (VIII-78)".
Foi no entretanto também Camões quem alumiou – aludindo a D. Fernando – que “um fraco rei faz fraca a forte gente” (III-138). Este é um poema que não cogitamos em nenhuma dissertação de poder. O que não quer dizer que não seja analogamente merecedor de meditação.
A correção da linguagem e estilo deixou tanto a desejar, melhor seria chamá-la de re-flexão imoral…concordo a 100%...o Português já era. Usa-se uma linguagem tão brejeira em tudo…o acordo permitiu coisas de bradar aos céus…Como “´h, amor és bué de gira….um amor descartável o de hoje…não se utiliza os termos belos de outrora. A Juventude olha para um campo belíssimo de flores…nem liga…não sabe contemplar o belo, nem uma pintura…o que ela quer significar e os termos adequados…


Enfim, lamento que seja assim….por isso, quando vejo tantos escritos, fico pasma…não há português puro… erros.. falta de concordância…
Saudade dos grandes escritores de outrora…esses sim falavam e refletiam dignamente.
Hoje, deita-se as mãos à cabeça ouvir falar um apresentador numa televisão… Antigamente para ser-se o exame era rigoroso no português….hoje, basta ter um palmo de cara….


Ana Júlia Machado


#AFORISMO 217/CORREÇÃO DE LINGUAGEM E ESTILO#
GRAÇA FONTIS: PINTURA
Manoel Ferreira Neto: AFORISMO


Ocorre-me uma re-flexão imoral, que é, ao mesmo tempo, uma correção de linguagem e estilo. De imediato, lendo este início, o questionamento vem à superfície, por curiosidade, nenhuma por sabê-la: "Quê re-flexão imoral é esta?" Querem saber da imoralidade, a criação dela a critério de cada um, eis por onde suspender a querência de a imoralidade estar ligada à sexualidade, sensualidade, por que a censura? A correção da linguagem e estilo deixou tanto a desejar, melhor seria chamá-la de re-flexão imoral.


O sol estava claro e diáfano: vinhozinho branco. A luz do sol mal aflorava os corpos, não lhes dava sombras nem relevo. Todos os homens de sobretudo pareciam flutuar suavemente a algumas polegadas do chão. De quando em quando, o vento empurrava em direção aos que estavam sentados, tomando o seu drink na calçada do restaurante sombras que tremulavam como água, os rostos se apagavam por alguns instantes, ficavam cor de giz.


Era domingo: a multidão na Praça da Liberdade, entre as algazarras, se des-fazia em pequenas vagas, para se perder nos caminhos, por entre os jardins. Observava todos os rostos, quase rejubilados no verdor de uma manhã de domingo. Banhados de sol, exprimiam apenas a calma, o relaxamento, uma espécie de preguiça e obstinação. Prouvera ao céu não lhes houvesse doado a diversão, o lugar, os gostos, os interesses, a personalidade e o modo de vida. Senhora observava absorta o artista pintando o rosto, os gestos com o lápis.


Não padecia sensação de enfado, pinturas em série, paisagismos, mas outra, e deleitosa. As fantasias tumultuavam-se dentro, vinham umas sobre outras, à semelhança de devotas que se abalroam para ver o anjo-cantor das procissões. Não ouvia os instantes perdidos, mas os minutos ganhados. Imagens... cores... e visões. À tarde, no entardecer, sentado no banquinho de madeira da república, lembranças do passeio na Praça da Liberdade, pessoas passando, algumas indo à Igreja, três quarteirões depois.


Cada instante só surge para trazer os que se lhe seguem. Apegava-me a cada instante com todo o meu coração: sabia que era único, insubstituível. Às pinturas e as esculturas dava maior atenção ao contemplá-las, no banquinho de madeira, relembrava o que havia observado. Mas no restaurante, FIM DE TARDE, tomando uma cerveja acompanhada de gim, garatujava algumas coisas que pensava enquanto comia os quadros com os olhos, descrevia os sentimentos.


Um deleite matutino, dominical.


(**RIO DE JANEIRO**, 28 DE SETEMBRO DE 2017)


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