AFORISMO 231/O INTELECTO AFASTA GÉLIDOS PRIVILÉGIOS# - GRAÇA FONTIS: PINTURA/Manoel Ferreira Neto: AFORISMO
Perscrutando
folhas e flores primaveris, orvalhadas da alma, pressinto em mim miudezas de
sensações que de pers em pers, iríadas em iriadas, éresis em éresis do não-ser
nasce o in-verso precedendo o verso, re-nasce as revezes postergando os
re-versos, é concebida de gerúndios, particípios, in-finitivos das ilusões e
idílios a-temporais a perfeita leveza do ser. Quê sujeiras o vazio deixou nas
bordas do perpétuo! Inimaginável!... Indescritível!... Inconcebível!!! Vento
algum vindo de algures leste digna-se a soprá-las aos confins.dos horizontes. É
entregar-me solene e solícito nos braços parnasianos das insolências de
saberem-se desprovidos, destituídos de essências. Entrega que não tem
fin-itude.
O
coração esteja aberto para sentir nas entrelinhas o meditar diante da vida, o
efêmero que con-ting-encia o vir-a-ser do nada, e este eleva o porvir ao cume
dos alhures do tempo, augures do vento, à busca da refinada beleza do ser, do
querer desejar ser, do expressar o verbo do espírito que retrata a vida no per-curso
das estrelas à margem do uni-verso esplendendo o lado outro da lua.
Seria
que a imperfeição perfeita alucinasse, fascinasse, extasiasse por a perfeição
ser mera quimera, imaginação fértil?
Mistérios
do mar com transparência de rio, enigmas de matagais. Coisas preciosas de
con-templar. Os olhos são profundos e a boca vem de longe. Uma folha baila
indecisa e pousa. Então caminho no bosque e rondo o grito. De morte, que
sepulcro ostenta a lápide branca, cinza, preta, sem quaisquer modos e estilos
de epitáfio, apenas nome, data de nascimento e fenecimento? Oh mitos de sopro e de inocência cultuo,
falsos, arquejos poéticos acadêmicos, o pé errante, a estrada fugida. Oh
palavras desmoralizadas, entretanto salvas, ditas de novo, a voz inventando
novos vocábulos, só o intelecto afasta gélidos privilégios, sopram as angústias
e tristezas por serem bálsamos, sopram o ser por serem singelas.
Seja
imitação da realidade que chegue até o simiesco, em idílios ou em sátiras
docemente humorísticas, aquele ácido crítico acridoce. Aprecio apenas a cópia
minuciosa ou a fidelidade fotográfica na re-pres-ent-ação do presente.Conclamo
as virtudes sem defesa para tapar os olhos.
Vão-se
os dedos, ficam os anéis - mas colocar anéis onde? Prazer de saborear um cálice
de Martini seco!
(**RIO
DE JANEIRO**, 04 DE OUTUBRO DE 2017)
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