#AFORISMO 229/BALADA DO VENTO E DO SER# - GRAÇA FONTIS: PINTURAManoel Ferreira Neto: AFORISMO

Nas ad-jacências, bordas do ser
instante fulgura, o momento esplende,
a cada brilho, cintilância,
o destino
liga ao incognoscível
a solércia
do eterno sorriso.
Um vento ameno e suave surge nas antípodas de
minhalma, percorrendo os labirintos das vísceras e veias. Se faz aparecer uma sensação de prazer e júbilo pelo inusitado desejo?... Se faz revelar sentimentos de felicidade e consciência dos caminhos trilhados?...
Se vivido de modo lúcido na intimidade de um amor
dilacerante, logo sou envolvido por um êxtase latente de prazer, e sinto logo um amofinamento do corpo. Suave e contínua são a linguagem desta alegria ora surgida nos interstícios de desejos por desfrutar e estar desfrutando de nós. Há dúvidas de, se me encontro em nível de uma compreensão do minuto presente de sentimentos ou do entendimento carnal de emoções recíprocas, seduzindo-se, conquistando-se, vers-unindo-se, e outras cores e outras letras.
Sou uma dispersidade nos sentimentos de viver um ímpeto da carne e dos desejos, uma univocidade nos interstícios dos sentimentos volúteis de uma vida de sangue profusivo e disparatado da consciência - sou uma presença nos pensamentos, idéias, desejando o encontro da seiva do saber a
verdade dos ideais, uma versidade nos olhares ao eterno sorriso. Até o instante presente, perambulando pelas alamedas do sensível, buscando a elucidação e entendimento, estive a en-velar uma profusão enorme de tesão e desejo pelo clímax.
Afigura-se-me este sentimento, úmido em seu interior, suave em suas bordas, ser uma ambiguidade amena e triste de um desejo não realizado e o viver girando assiduamente sem qualquer ponto de segurança. Se, interiorizado e hermético nas associações à busca do entendimento dos enigmas da carne, segredos do sangue, mistérios do corpo, sinto estar esgarçando e ampliando as emoções, há um engano
incorruptível e irreversível presente na sombra de uma manifestação, há um equívoco irrepreensível e in-audível, sinto fragmentos de solércias a me instigarem deixar-me livre à beira dos ventos, seguindo-se-lhes sem destino. Se, imerso em ondas de calor e volúpia, sou trazido em nível deste desejo da carne e do corpo, as associações livres empreendem sentimentos espontâneos e suaves, se mergulhado em sensações introspectivas e ansiedade, sou elevado à consciência de que só à eternidade pertence o eterno, não mais me pertenço, um mundo de cores e letras, imagens leva-nos nos seus voos, em suas asas, seguindo-se-lhes as sinuosidades, mistérios, enigmas, cores e letras...
(**RIO DE JANEIRO**, 03 DE OUTUBRO DE 2017)

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