**Maria Isabel Cunha ESCRITORA E POETISA COMENTA O POEMA E A CARICATURA DE GRAÇA FONTIS, QUE O ILUSTRA, "OH, SÁBIO DO MISTÉRIO** - PINTURA: Graça Fontis/POEMA: Manoel Ferreira Neto
O autor sempre se procurou a si próprio, pois é esta a atitude sensata
de todo o "ser" para deixar a condição do " não ser". Agora
pretende ir mais além, procurar o mistério do que o transcende. Pede ajuda ao
sábio Sófocles, a quem designa de " sábio do mistério " a desvendar a
luz que avista ao longe de poder clarificar o Ser e a Verdade. Excelente texto
que traduz bem o cerne de toda a obra do escritor Manoel Ferreira Neto na sua
busca constante sobre o Ser. Parabéns, meu amigo. Não quero deixar de ressaltar
a magnífica imagem que o ilustra de autoria da artista plástica Graça Fontis e
que me maravilha sempre com a sua extraordinária arte, em que consegue dar vida
às imagens, dando ênfase ao que deseja ressaltar, neste caso, o olhar pensativo,
sábio e penetrante da personagem. Parabéns e beijinhos aos dois.
Nota: Espero que, desta vez, não desapareço o comentário que acabei de
escrever como já tem acontecido, o que de tão estranho, me preocupa e
entristece.
Maria Isabel Cunha
O escritor, poeta, revisor e crítico Literário Paulo Ursine Krettli
nesta manhã disse-o com excelência: "A junção de Manoel Ferreira Neto e de
Graça Fontis na arte sinaliza uma releitura de ambos em cada obra finalizada;
se é que dá para finalizar uma obra de arte!" Com efeito, e vai de
encontro com o seu comentário, Maria, Graça Fontis sempre tem esta preocupação
de a caricatura aderir-se aos poemas, textos, e isso ela realiza com
genialidade.
Manoel Ferreira Neto
**OH, SÁBIO DO MISTÉRIO - IN "PARTITURAS DO ESPÍRITO" - 01 DE
MARÇO DE 2017**
PINTURA: Graça Fontis
POEMA: Manoel Ferreira Neto
Epígrafe: "O mistério é o próprio mistério de mim." (Paulo
Ursine Krettli, in "Mistério", Grito Antigo)
Em primeira ins-tância, coerente e percucientemente, é necessário
erudição em que posição nos achamos, os projetos trazemos nas nossas mochilas
para lançar às futurais con-ting-ências. Entendermo-nos do “A” ao “Z”: os
feedbacks, os insights, os prazeres, as propensões, prospecções, as tendências,
as pers das angústias e medos, o jeito de cogitar, estilo e linguagem de pensar
o pensamento que pensa.
Vislumbro o longínquo, sentindo os éritos da memória que foram raios
numinosos a incidir nos horizontes das esperanças de ser vida a vida, amanhã
re-costado na amurada da ponte de um córrego, olho as águas turvas passando,
passando no particípio in-fin-itivo do nada per-feito de in-congruências da
meiguice e perspectivas da determinação.
“Entende-te a ti próprio” era para os helenos da Antiguidade a máxima
erudição, o rebo enviesado para a edificação do homem incorruptível. Deveras,
quem quer que se faça o feitor desta máxima, redigida no templo de Delfos,
alcançou em repleto, atingiu em cheio a condição do "não-ser" e a
busca do "ser". No princípio do feito mais afamado de Sófocles, Édipo
é-nos ostentado como rei e, ao mesmo tempo, pai apoquentado pela epidemia que
fustiga o seu povo. Partilha o seu pesar, mas não se ajusta com expelir um
berreiro infrutífero. Busca os meios para achar o recurso para as imperfeições de
Tebas. Édipo é um homem coeso que alcança concretizações incontestáveis e não
se lega capturar na mata dos “desejaria”, “apreciaria de”, “inquieta-me”.
Vós que conheceis todas as coisas, oh sábio do mistério, tudo o que se
possa averiguar, tudo o que se possa in-vestigar, tudo o que se possa
des-velar, tudo o que se possa des-vendar, e o que deve permanecer sob
mistério, sendo o mistério a luz que haverá de sempre despertar o mergulho nos
sonhos e utopias, sob os enigmas en-velados de rituais e lendas, sob o
in-cognoscível do efêmero e ab-soluto, os signos do céu e os da terra. O poeta
diz que "O mistério é o próprio mistério de mim", investigando as
três dimensões do tempo, passado, presente, futuro, foi o que foi, nada mais
além, é o que é, nada mais além, será o que será, nada mais além. Não nos
recuseis as re-velações oraculares dos pássaros, águias e corujas, nem
quaisquer outros recursos de vossa arte divinatória, tendes os ex-tases e as
sin-estesias do tempo que compõem a estética e a beleza de sua ciência
omnipresente e omnisciente.
Vós sois hábil em manusear a palavra, re-versá-la de semânticas e
linguísticas do desejo, com ela levar-nos por todos os universos, é justo
considerar íntegra a palavra que semeia os grãos do verbo e do in-fin-itivo que
são dádivas para o encontro e a vivência do ser. Estou dis-posto a ouvir-vos,
beber de vossas palavras, deixá-las livremente perpassar-me todas as dimensões
sensíveis, e o que deixarem em mim não comporei versos e estrofes, mas
edificarei outros sentidos, outros significados, tendo em vista o in-transitivo
do eterno oráculo do sublime.
Vêde vós, oh sábio do mistério, uma lâmpada acesa atrás da janela do
templo vigia no coração secreto da noite a estrela prisioneira vista no gelo do
instante. Dizei-me uma palavra ao sabor das in-versões entre o devaneio e a
realidade, entre a poesia e a con-ting-ência. A casa distante e sua luz que
ambos con-templamos é para mim, diante de mim, a casa que olha para fora - bem
a seu modo!
Essa é a poesia da casa na noite.
Dizei-me o espírito do alvorecer
na manhã do ser e da verdade.
Não me dirá não. Serei eu a senti-lo, quando o tempo assim se revelar.
(**RIO DE JANEIRO** - 01 DE MARÇO DE 2017)
Comentários
Postar um comentário