*LIVRE-ARBÍTRIO DA BELEZA UNI-VERSAL* - IN "PARTITURAS DO ESPÍRITO - 01 DE MARÇO DE 2017** - PINTURA: Graça Fontis/PROSA POÉTICA: Manoel Ferreira Neto


Atrás, um sonho
se eleva ao in-finito,
Coro maternal de cânticos sonoros
À frente,
a utopia da poiésis do verso,
Cântico de crepúsculo
de melodias silenciosas,
Canção de aurora
de ritmos serenos e suaves,
Fado de enluaradas noites
de lírica romântica,
Trocas de dedos de prosa
nos cantos,
recantos,
No meio da multidão,
nas mesas das barracas
Na extensão da Praça da Cultura,
Forró de inverno de encontros familiares,
Entre amigos,
conhecidos,
visitantes,
Regados a churrasquinho e quentão,
Arroz com galinha, a pinguinha da roça,
Na nostalgia do passado, na melancolia do porvir,
na poesia do momento,
na poiésis do tempo,
na imanência da alma,
na trans-cendência do espírito,
Do divino e da divinidade
Do aqui e agora;


Sonhar os formatos oxigenados
De sublimidade e esperança
De estar a cada instante de re-flexão
Ou de liberdade de sentimentos e emoções,
Desejando
a poesia-“reflexo do real,
Mas um reflexo revelador”,
“O real poder de olhar de frente,
Vendo coisas que normalmente não vê”
Livre pensar irrestrito,
Livre-arbítrio da beleza indizível
Num só encanto,
Num só vis-lumbre ou a-lumbre das emoções,
De suas dimensões de sensibilidade e intuição,
Numa só con-templação dos sentimentos
E sensações que abrem os solipsismos do
Ser, as entregas verdadeiras do Não-ser,
Profundeza da vaidade insensata,
Superficialidade do orgulho descaracterizado,
Vaidade de ser, de acontecer,
De passar a amar no de-curso e per-curso
Da vida
O fulgor da virgin-idade mental,
“... integrar o saber sensível ao
Saber racional para suprassumir a razão
Presente, elevando-a a uma razão
Não só da cabeça, mas do Ser por inteiro”.
Despertando em mim as forças criadoras da vida,
As dimensões dos desejos de saciar a sede de conhecimento,
As vontades da verdade e da sabedoria
Profundas e eivadas de outros infinitos a serem conquistados,
Real-izo a minha íntima essência,
A essência da vida.


Nada neste mundo divino e humano preocupa-me tanto quanto o “eu”, tanto no que concerne à obra ser a origem do artista, o artista ser origem da obra,então a origem deve ser vivida com responsabilidade, não deve ser negligenciada, esquecida, com preconceitos e recriminação, juízos escusos e censura, quanto à individualidade do homem, caráter e personalidade, estilo e modo de pensar, agir, pouco mais desejo que real-izá-lo real e dignamente, não para me colocar sentado na cadeiríssima do Olimpo, isto é de uma vulgaridade sem precedentes, orgulho e vaidade são nonsenses dos mais ridículos,simplesmente para ser “eu” mesmo no íntimo e percuciência de mim, esse mistério de estar vivo, enigma de prolongar-me no mundo, ec-sistir, de ser corpo e alma, homem,pessoa, cidadão, de estar aberto e fechado a todas as situações e circunstâncias, a todas as dimensões do bem e mal, não só a natureza ama ocultar-se e revelar-se, os homens também o fazem, perambulices da realidade,pestinhices da fantasia e da mentira, de linguagem e estilo irônico, sarcástico, satírico, quando os ácidos re-clamam ser destilados, as hipocrisias ultrapassam os limites de tudo, sinto-me estar num estábulo ou chiqueiro, necessário lavar a alma delas com creolina, gasolina, ácido sulfúrico, o que chamam de “pegar pesado”, à luz da poiésis e das contingências todas,quando a sensibilidade e espírito clamam por louvores e glórias, a densidade das idéias, intelecto e razão querem o direito de figurarem com a magia do profundo e do inter-dito, místico do trans-cendente, mítico do além, à mercê dos valores e virtudes desde a Grécia Antiga à eternidade de todos os tempos, em busca da verdade minha, adentrando as de outrem é simplesmente conseqüência, a pré-{s}-ença da flexibilidade no arrasta-pés de poderes e talentos, no forró de paixões e amores di-versos, achar-me separado e isolado de todos os demais, da raça com suas estirpes e laias di-versas, da natureza com suas farsas, falsidades e instintos in-úmeros, espírito e alma únicos, sozinho ser, viver só do que faço de mim no mundo, da arte que me coloca numa posição privilegiada, da prosa-poética que me extasia, das utopias poiéticas que dão asas para voar em direção ao infinito dos amores e felicidades, dos sonhos verbais que me fascinam, curtir idéias que são a-nunciadas em mim, torno-as realidade, torno-as sementes para outros conhecimentos e sabedorias, de minhas angústias e desesperos, desconsolos e desolações, incluindo nada haver que me alivie a não-aceitação da morte, assim ter de id-ent-ificar-me, matar a serpente e mostrar o pau, o não-ser que habita o ser, o ser que habita o não-ser, desejando se comungarem, aderirem, a transcendência se fazer pré-{s}-ente, outras conquistas e real-izações se a-nunciarem, re-velarem-se, e na Vida e letras re-presentarem-lhes com distinção e verdade, de os homens assim me re-conhecerem, considerarem-me, ser esta a minha verdade, e me não poder trans-cender senão com a esperança de o espírito voar os horizontes da vida, os uni-versos dos verbos sedentos de se tornarem carne viva e vermelha, as pers-pectivas do ser de se metamorfosearem em imagens da memória, o sangue nas veias correr com mais pujança, ferver com mais facilidade do que o de costume com a beleza da vida e do mundo, e não com os desaforos e insultos de outrem, como rezam as minhas origens sertanejas, seja em que lugar sofrê-los, não os levo para casa, aceitando-os, não volto mais para casa, tornar-me-ei mendigo, nas asas de todas as fés cristãs e pagãs, mitológicas e místicas, lendárias e contos-do-vigário,folk-lore do quotidiano social, crenças ideológicas e querências particulares, esperanças de agora e de outroras, fé em algo que trans-cenda, ultrapasse os limites do bem e do mal, eterno e efêmero.


(**RIO DE JANEIRO**, 08 DE MARÇO DE 2017)


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