ESCRITORA E POETIZA ANA JÚLIA MACHADO ANALISA A PROSA POÉTICA /**SER VERBO DO NADA SOU**/
O escritor Manoel sempre muito à volta do Verbo do nada de ser...
Coração emparedo, mutismo inerente do planeta, imensidão cã com
sinuosidades nas morosas dos morros, embarcação negra de habitações, árvores de
ramais de mastros...
Sou de verbo o nada de ser...Esta é uma questão que constantemente eu
analiso…mas, difícil resposta…. Eu poderia dizer tantas coisas.Por vezes sou
divertida, outras vezes sou sisuda... Sou garota, sensivelmente uma menina... e
outras ocasiões sou fêmea! Sou difícil e irresoluta, outras ocasiões, decido
tudo e nem quedo para cogitar. Prezo excessivamente as individualidades, mas
possuo instantes que me desaponto em exagero... Abjurando a humanidade! Aprecio
que me facultem reparo, mas possuo instantes que nem desejo que ninguém me
contemple... Se permissível desejo abalar...! Às vezes intenção tudo ao mesmo
tempo, outras ocasiões não pretendo nada! Sou agitada com o planeta, desejo que
tudo se decida célere, outras sou pacata, o planeta pode expirar e eu nem
apercebo-me... Eu pranto, quedo infeliz, outras ocasiões topo graça a
tudo...Rio bem alto. Às vezes escuto e pronuncio factos que não pretendia,
outras tapo os ouvidos e silencio... Sinto mágoas, e no instante a seguir
cogito que o que tiver que ser será... Creio que simultaneidades sucedem, mas
outras vezes admito no desígnio... Dou ansas à minha mente e devaneio mais
elevado que o habitual... Tanta coisa para não verbalizar nada... Mas o
relevante de tudo é SER! Não conceber do faz de conta que és!
Utilizei aqui que ocorre-me tantas vezes no ser nada, mas chego à
conclusão que devo utilizar o verbo Ser com a global significação do vocábulo…e
assim cogito que sou..mesmo não sendo…e como verbaliza o escritor no final do
extenso escrito…. marasmos, mesmo que os "diabinhos" da ante-manhã em
emboscada adiem o poema, abandonem as estâncias, protelem as versejas, num
cicio, num rumorejo, esta ode avassalará a resplandecência, executará os
primeiros coriscos de resplendor, preencherá as folhas suaves e aromatizadas de
flores florindo, expelindo a fragrância embriagante das imortalidades da
excelsitude do verbo adorar.
Chegando à conclusão que o nada, é que não o impedirá de ser….ser um ser
que ama…mesmo que todos os diabos andem à solta e queiram colocar-nos na
escuridão do nada ser….
Ana Júlia Machado
*SER VERBO DO NADA SOU*
PINTURA: Graça Fontis
POEMA: Manoel Ferreira Neto
Verbo do nada de ser...
Coração represo, silêncio intrínseco do mundo, mar branco com ondas nas
lentas dos cerros, barcos negros de casas, mastros de ramos de árvores...
Sou de verbo o nada de ser...
Silêncio profundo, silêncio cósmico de astros rolando pelo espaço vazio,
nuvens desprendem-se das mechas de neve que arrasam, em planura, a última
arrogância das coisas...
Ser verbo do nada sou... débil lembrança de um momento nunca abarcado
pelos sentidos, JAMAIS SENTIDO PELO INTELECTO, de uma verdade só memória, sem
tempo, cheiro real do mistério fluído da hora, tantas vezes evocada
saudosamente...
Sou o nada do verbo ser e verbo do nada de ser...
Com uma estrela branca aos pés e ao lado, e uma meia-lua vermelha do
lado oposto e ao alto, emerjo, alfim entre os astros, doce e belo, irmanado ao
absoluto dos meus instantes-limite, regressado à in-verossímil pureza que
ignoro em mim.
Nas minhas noites de sendas perdidas, murmuro uma cantiga ou penso na
eternidade de alentos últimos e derradeiros que habitam o seio humano, e repito
baixinho, quase em silêncio, um nome.
A sós comigo entre o meu Cristo e as flores colhidas no crepúsculo, com
que ornamentei o criado-mudo de minha alcova, mergulho nas águas sagradas
con-vertidas em felicidades e alegrias, na fresca noite chovendo sobre mim o
piedoso orvalho da paz e de todas as auroras sublimes e divinas.
Tantos sonhos de ouro, tanta esperança, que do gênio a fortuna,
suspirando a brisa de lágrimas ardentes, convida à prece solene, cantando dos
tempos as vozes e graças da imortal verdade.
Crio emoções que sonham, re-versam desejos de amar livre o silêncio.
Edifico linhas no uni-verso, nas noites de carências latentes, aladas de
esperanças do encontro, das flores se abrindo no jardim de primaveras do que
há-de vir. Num verso silábico de ilusão, crio, re-crio o além numa palavra
monossilábica de ternura, invento o aquém num som suave de pá-lavra
sin-tagmática e esvoaço as bordas do abismo de vazios... O que sinto em mim
dentro recito de fantasias a melodia do encontro. Sou a liberdade musical de
sentimentos que me perpassam a alma de vontade do gozo... clímax... prazer.
Sem o verbo da carne, sem a carne das volúpias, o verso é etern-itude
solitária à luz do deserto.
Este cântico, quem sabe lírico, quem sabe metafísico!, quem sabe
idílico, quem sabe verbal do ser!, feito na madrugada, entre nostalgias, entre
alegrias do amor, entre desejos de a-núncio e re-velação de sentimentos inda
por virem à luz, que se compôs, que foi recitado em silêncio, há algum tempo, é
mais que um cântico, é mais que uma canção.
É arco-íris esplendendo cores, são pingos de chuva deslizando no vidro
da janela,
é chama na lareira, aquecendo o corpo do inverno, é chama, descortinando
as fumaças efêmeras de ontem, de outroras antes de quaisquer outras outroras. É
cântico composto de dentro dos recônditos da alma, perfumada de lágrimas
pujantes, de suores da labuta, arrematada nas ad-jacências, cerzida nas bordas,
andou por anos latente nas profundezas do coração, venceu chapadões,
venceu estradas de só poeiras, varou florestas silvestres, varou abismos e
montanhas,
muitas grades e cavernas, muita lama e privações, muitos mata-burros e
obstáculos.
Cântico composto na solidão de ruas boêmias, cantadores tropeçando nas
pedras, nos buracos das calçadas, no silêncio de estrelas, da lua, das alamedas
desertas,
pirilampeando a escuridão, o breu de terrenos baldios, que sendo o
amanhã, tempo de outros sonhos e fantasias, templo de novas esperanças, de fé
outra, no alvorecer se complementa, absolutiza-se, etern-iza-se, e cresce como
o fermento, como aboio que na distância, no longínquo dos confins do Infinito,
escuta-se, glorificando o berrante.
No per-curso, de-curso, in-curso deste cântico
- comedido, lento, mas constante -
Temperado de suspiros, lágrimas e sangue, o homem transita do escuro
pleno, do breu absoluto, da escuridão completa, para inicializar a madrugada,
para iniciar os idílios da aurora se anunciando na passagem dos ponteiros do
relógio suspenso na parede.
Mesmo que os fantasmas da noite, mesmo que os monstros dos pesadelos,
mesmo que os "capetinhas" da madrugada em tocaia re-tardem o verso,
posterguem as estrofes, atrasem as rimas, num murmúrio, num sussurro, este
cântico conquistará a claridade, realizará os primeiros raios de sol,
plenificará as pétalas de flores des-abrochando, exalando o perfume inebriante
das etern-itudes da sublimidade do verbo amar.
(**RIO DE JANEIRO**, 11 DE MARÇO DE 2017)
Comentários
Postar um comentário