**ENTRE O... E O...** - PINTURA: Graça Fontis/POEMA; Manoel Ferreira Neto
Entre o ser e o querer uma luz. Entre a esperança e as estrelas volos de
sentimentos utópicos. Entre o sonho e o universo "causos" de outrora
sobre o crepúsculo seduzindo o abismo. Entre o eterno e o sibilo dos ventos a
música romântica dos tempos ritmando o vir-a-ser, melodiando o orvalho do
alvorecer com a garoa do entardecer, o poeta na varanda de sua choupana
poetizando uma missiva para a amada de sua imaginação fértil. Entre a solidão e
o prazer o olhar con-templando o domus da igrejinha, a cruz no cimo da
montanha, a águia voando, as nuvens escuras ao longe. Entre o silêncio e a
seresta executando Desolation Row na praça pública o pastor conduzia as ovelhas
no serrado, Rapunzel na sacada de seu quarto penteava os cabelos olhando o
passarinho sugando o néctar das flores no canteiro do jardim. Entre a
inspiração e a náusea versos querendo poema com palavras suaves, dóceis, o sino
de igreja badalando a Hora do Angelus, vira-latas desfazendo os sacos de lixo,
velhinha atravessando a rua sob o cuidado de transeunte anônimo, ao estilo Bete
Davis com a mão no bolso da calça de linho larga a jovem moçoila conversa com o
namorado na esquina da rua, o professor de filosofia, desvairado, corre e grita
que Olavo Bilac está na Cabana dos Insurrectos tocando harpa com um charuto no
canto da boca.
Entre o alvorecer e as utopias no sertão mineiro, a mulher de camisola
azul prepara os pãezinhos de queijos no fogão de lenha para o marido e as
crianças, o lenhador põe o machado no ombro e vai trabalhar, a jovem
adolescente abre a janela do quarto, espreguiça-se, passa a mão nos olhos,
debruça-se no parapeito e canta Tigreza, olhando ao longe o nascer do sol, o
escritor dorme as suas horas de sono, três por noite, desde as quatro e meia às
sete e meia, sonhando com um churrasco regado a dança portuguesa. Entre a vida
e a morte as fantasias do amor eterno compõem versos e estrofes da etern-idade
plena de carícias, toques e climaces na intimidade, as quimeras da glória e do
poder inscrevem com letras góticas os dogmas e preceitos da mauvaise-foi,
sonhando tornarem-se reais e verdadeiras com o toque das mequetrefias do
profeta, as esperanças e angústias da verdade rolando à mercê e à luz do tempo
que silencia o ritmo e melodia da música do ser in-fin-tivo que debulha o terço
da fé revelam aquela miriadizinha da felicidade e alegria que compõem o espaço
poiético e con-ting-ente do uno-verso do "SEMPRE", do silêncio que à
luz e à mercê do tempo manuscreve as iríasis e éresis do ser no pergaminho da
entrega e doação plenas à melancolia do que jamais há-de perecer, do que já,
mais e mais, são semânticas e linguísticas da busca da pureza dos sentimentos,
inocência das emoções, meiguice da sabedoria, simplicidade da gnose...
(**RIO DE JANEIRO**, 09 DE MARÇO DE 2017)
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