**PENA MOLHADA NA TINTA** - Manoel Ferreira Neto e Ana Júlia Machado.


Pensar, re-pensar, escrever, re-escrever, sonhar, sentir, viver, palavraveados muitas vezes sem a-nexo, sentimentos contidos, tentando de alguma forma expressá-los. Poetizando palavras, vivenciando momentos, caracterizando pessoas ditas famosas por seus versos expressos, pensamentos de tempos outrora vividos, de certa forma guardados no inconciente poético.


Francisca Silva.


**PENA MOLHADA NA TINTA**


Pena molhada na tinta dos desejos inter-ditos nos pretéritos verbos defectivos de ser busca, de ser querência, de ser lince do olhar a distância, até de ser In-finito nas bordas do rés-do-chão. Percorrendo as linhas discursa em letras góticas a ec-sistência de efêmeros, de nadas, de versos e estrofes do espírito, de prosa da contingência, absolutizando sonhos e esperanças.
Mas é com vocábulos, vernáculos, termos que eternamente induzirá metamorfosear a interpretação de Universo, a análise de verbos do Horizonte e instalará a todos a autêntica significação de querença, não obstante, sim bem-querer seres, e mais seres para poder findar com essa erradamente questão que ainda subsiste.
Pena erudita, pena clássica, realizou inauditas dimensões da alma, desvendou segredos do ser e não-ser, e hoje esquecida por inteiro, os escritos que deixou nas páginas imortalizaram-se, a pena serve apenas de objeto de galhosa: "Escrever com isso, Deus me livre!"
Manuscrevo as incongruências duplas das nonadas gerundiais do vir-a-ser que desfila nas nuanças do tempo, perpassa as contra-dicções e dialécticas do ec-sistir jogado na terra, mesmo que a erudição haja aberto as persianas dos caminhos para a in-vestigação dos enigmas do eterno.
Um dia você descobre que a inteligência
Cotovelou seus pressentimentos e extraiu sua causa,
Submergiu suas emoções numa imensidão designada quimera.
Um dia a tormenta transpõe,
E você capacita que tudo na existência tem sua importância.
Mesmo todos os percalços que se cruzam connosco,
Mesmo que aparentem ser nonadas
Mas que possuem um fundamento
E melhor do que ninguém descobre que o apreço da felícia é erudição do que é viver.
O tempo elabora, burila, aperfeiçoa as experiências, vivências, o que fora sendo re-colhido, a-colhido ao longo da jornada entregue ao infinitivo do verbo esperança, e no absoluto do tempo que é a continuidade haver-se-á sempre de re-fazer, criar, re-versar a luz que ilumina a alma para o mergulho nos interstícios do ininteligível, re-criar os caminhos já percorridos, vestígios do nada e efêmero são pedras de toque de outros alvorecer e entardecer dos ocasos. A liberdade em questão. O verbo do sonho na pauta da jornada sem fim. Fascinante o ziguezague da pena nos contornos da prosa que vers-ifica as razões pers-criptas no tabernáculo do vernáculo das travessias em pontes partidas, verseja a sensibilidade no paráclito do erudito das veredas do Uno-Verso.
Quimeras e anseios de um ser...
Quando malogrados são rosas dilaceradas, corações desagregados, sensibilidades ignotas...
Quando bem-sucedidos são corações encarcerados pelo amor, são rebentos de rosas oriundos do resplendor, são emoções bem admitidas...
E por mais que não alcance uma favorável novidade diariamente, há razões de excedente para existir rindo.
O tempo hoje alvoreceu nublado, aspecto cinza, realizando o espírito do corpo que sente o espaço de sentir a presença deliciosa dos pingozinhos de orvalho do dia, garoazinha da plen-itude das nuvens baixas, elevando, trans-elevando os idílios perenes das melancolias, nostalgias aos auspícios do Infinito, Infinito de silêncio, Infinito de inauditos. Infinito de magias. Forclusion de saudades. Surpreende-me por vezes, quando acordo na madrugada agitado, a mente são vernáculos, a vida são palavras eruditas, se não tomo da pena, molhando-a na tinta do vidrinho Parker, garatujando letras nas linhas, não tenho o mínimo sossego, angústia toma-me inteiro. Os anjos que cuidam de meu sono recitam versos e prosas, a memória re-colhe e a-colhe. Carne de palavras, ossos de litteras, corpo de signos e metáforas. Haja tinta. A pena é eterna.
Palavras há cujas lâminas afiadas cortam a alma do espírito em pedacinhos, reuni-los só com as verdades doídas da contingência. Reúno-lhes com o versos de verbos incongruentes.
Na infância, por volta dos nove anos, adorava às quatro e meia da manhã acordar para realizar o "dever de casa" da escola, odiava procurar palavras no dicionário e copiar o que era chamado "sinônimo", sendo em verdade "sentidos". Palavras não têm sentidos, o ser-para o verbo da vida é que cria as metáforas do vir-a-ser. Perguntei à professora: "O que é isto - palavra?" Não soube responder-me. Disse apenas ser o que Cecília Meireles escrevia. Tudo demais tem sobra. A sobra de Cecília para mim no grupo escolar era o que é isto - ser poeta? Sabia o que era ser escritor. Machado de Assis só era conhecido por mim entre os colegas, a professora dizia ser escritor para adultos, aos nove anos era adulto na Literatura, amava Machado de Assis. E adulto sigo as trilhas do verbo de desejos da plen-itude, cavo a sepultura da contingência, a terra me será leve no fritar das dúvidas e incertezas. Res cogitans, res extensa. As palavras são racionais, têm sentidos, sinônimos porque as olho deitado na cama, perscrutando o teto de meu quarto no silêncio desértico da madrugada.
Ser eterno é ainda mais contingente que buscar a verdade de ser, é ser a verdade dos tempos, sendo que no eidos efêmero da etern-itude do espírito do divo é sorrelfa idílica do absoluto.
Adito o sono, manhã serão outras cítaras da ópera de estar-no-mundo.


Manoel Ferreira e Ana Júlia Machado.
(09 de abril de 2016)


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