CRÍTICA DA MINHA SECRETÁRIA, ESCRITORA E POETISA ANA JÚLIA MACHADO AO TEXTO /**RETALHOS DE TELA E TINTA**/
RETALHOS DE TELA E TINTA
Manoel Ferreira Neto.
Manoel refere que pretendia ter olho de lince, possuir proveito desse
olhar. Satisfazer a sua míngua e devorar erudição. Conseguir mesmo avistar o
porvir.
Mas, penso que não desejo -me
Habituar a determinadas realidades, não exequíveis
a permanecer sob inalterável insensibilidade.
Não sofrer na polpa o sofrimento dos factos,
A gustação doce-amargo da inspiração, das realidades.
Factos excessivos.
Pretendo a claridade, a chama
e sua abrupta ablepsia.
Que persista um instante, ou a existência integra.
Sem me economizar de mim própria.
Sem me aclimatar com a usança.
Sem que a impetuosidade seja vulgar, impudica, desejada.
Arrogada ou mascarada, débil, ilimitada.
Elejo a mágoa da alvura na tina.
Opto seleccionar a pigmentação intensa sem agonia.
Nente de hinos furtivos, de desumanidade.
A mágoa resignada do retiro.
Que todos enxerguem que elejo a luminosidade,
quer seja a do lince ou a minha
Que por momentos só remanesce-me eleger
Entre a obscuridade e as trevas.
Que me abriga, de mim próprio e dos distintos.
Que me asfixia, estreita, alicia.
No espaço pardacento, a qual incumbo,
Exalo ao ambiente cristalino, brilhante.
Esfarrapado de quebranto.
Agregando os fragmentos,
Ainda intacto, uma realidade somente.
Perambulo de inarráveis resplendores,
Que a lua ocorre aclarar.
Criatura ou facto,
Ainda não assimilo.
E como refere Manoel, que remodelemos em mais existência a nossa
abertura, a nossa solução que desabrochará inteiramente o lufa-lufa das
extemporâneas representações do emudecimento nas bordaduras de cores que
matizam o oco de alvo, que aprimoram o complexo de copiosos fervores da
finitude em existência dos verbos e quimeras, E se não conservamos a abertura -
a copa -, o mundo atrofia, as estirpes mirram e o sangue já não brota.
Desaparecemos. A Lógica resume-se em prosseguir contíguo o arraigamento e o
exórdio. Constantes, mas abertos à supereminência.
Ana Júlia Machado.
Sem delongas, Aninha Júlia, sempre a sensibilidade e a genialidade.
Parabéns! Quê bom que você existe.
RETALHOS DE TELA E TINTA
Gostaria de lançar um olhar de lince bem faiscante e iluminado ao
silêncio, comer-lhe com os olhos, saciar-me a fome de sabedoria e conhecimento,
este silêncio irreverente, insolente, que se mostra presente e forte neste
instante, este silêncio que extasia e ao mesmo tempo questiona as verdades
íntimas, as in-verdades do real e contingente, mentiras da transcendência
fundadas nos dogmas dos pecados e culpas, deixando-me, por vezes, com a mão
esquerda na frente, a direita atrás, por vezes, com as calças arreadas, à mercê
do nada e da absoluta obtusidade, chamo-lhe divina inspiração comungada a
meiguices da sensibilidade, cujas imagem e perspectivas vejo eternamente
plenas, observo finitamente efêmeras, de fio a pavio, e ainda mais ao silêncio de
verbos atrás deste se faz neste momento, a-nuncia-me alguma mensagem para a
continuidade de minha vida, alguma sabedoria para o espírito elevar-se, as
sendas do “Ser” serem indicadas, intelectualidade e razão orientarem, algum
conhecimento para a jornada no mundo, crendo ser isso devido à razão de mais
uma vez estar sem saber que rumo seguir, o itinerário a percorrer que seja de
in-{ov}-ações, re-[n]-“ov”-ações das idéias e sentimentos.
Ui!
Que decoração rica,
que espelhos
e porcelanas!...
Foco de luz no firmamento,
magnífica centelha do olhar;
lua falsa de papelão,
manto bordado do céu.
A noturna
essência de raios
salpica estrelas
na poesia,
trapezistas no picadeiro
dos sonhos.
Um espelho não retém as coisas refletidas, não as guarda na imagem, nos
cofres da superfície lisa! O meu destino é seguir, as imagens perdendo no
caminho, as memórias protelando situações e circunstâncias da sede de
sublimidade, lembranças e recordações postergando momentos de angústia e
tristeza, instantes de desolação e medos. Em vão, em minhas margens cantarão as
horas, minutos e segundo, o tempo, na passagem dos anos, décadas, séculos e
milênios, me recamarei de estrelas como um manto real, me pintarei de nuvens e
de asas, às vezes virão em mim os solitários banharem-se.
No âmago do dia, assim que esplende, quando o céu abre suas fontes de
luz no espaço imenso e sonoro, todos os sentimentos mais puros e inocentes
mergulham na idéia do limite, no pensamento do finito, princípio da finitude,
meio e fim do fugaz, uni-verso do sublime e das águas silenciosas, eleva-se
então misericordiosa plen-itude de imagens, cujos ângulos na tela do tempo se
abrem às escancaras de cores vivas, desenhando, pintando os traços sensíveis da
efêmera fisionomia da grama, respingada de orvalho, subindo a montanha,
pinceladas ao estilo Van Gogh no céu de nuvens escuras e claras.
Temo os longos silêncios que deixam a vida em branco, que re-velam e
verbalizam as sensíveis sensações da beleza de abraçar e beijar as saudades da
música do ser, cristalizam os re-versos e inversos da razão voltada para as
idéias efêmeras do eterno, as solidões do ritmo da busca e querência, os
desertos do íntimo nos arranjos de notas graves, as pequenas frases que parecem
nada conter, nada dizerem, nada terem a id-ent-ificar e, no entanto, selam
pactos e rupturas, lacram as correspondências do destino, a serem criadas e
estabelecidas, uma palavra supérflua, mão que escorrega no tempo de desejos de
criação e re-criação do imortal desenhado nos liames do horizonte que desliza
no espaço de entre os êxtases e volúpias íntimos, deixando aquele clima
expressionista aos raios do sol, impressionista à mercê de todas as luzes
vindas do céu noturno, simbolista sob o arco-íris pós a chuva fina e contínua
que delineia semi-círculo no horizonte, no fim do arco-íris quem sabe possa
encontrar a senda do amor e das alegrias, comungada ao silvestre das quimeras e
sorrelfas.
Bem que poderia ter direito, afigura-se-me, a pouco de destino, a tico
de sina, a miséria de saga – por mais que o queira, evita-me, a luz que chegou
a me ofuscar, e mesmo as imagens que se a-nunciaram de por trás das retinas
acabam por se apagar ao lado, olho e nada enxergo, sinto a plena escuridão nas
pupilas reduzidas, a respiração lenta, ouço as batidas do coração que não mais
é puro, é doente. Por mais que revolva essa noite, escrutando a longa vida
branca que nunca foi pródiga, de genialidade ainda que ínfima e efêmera, por
mais que o faça, por mais que o deseje, sou eu quem vê emergindo de um fundo de
luz lisa, sem conseguir furar a sombra, sem conseguir mergulhar no breu a
pequenos prismas e ângulos, o véu noturno que re-cobre o contrário humano, a
cortina madrigal que cuida de en-velar o corpo na dança de suas sensações e
instintos – onde estiver serei sempre uma alma extraviada em labirintos
escuros, marginalizada em cavernas sombrias, ensimesmadas ou, então, uma alma
perdida de idílios e fantasias -, o sudário de esperanças que cobre a idéia de outra
aurora em que a chuva continuará, o dia permanecerá ensimesmado, friozinho se
apresentará, terei de vestir uma blusa ou deitar-me e aquecer-me na coberta,
cobertor e edredom, terei de sentir a alma re-colhida em sua solidão, ruminando
tristezas, desolações, vertendo lágrimas de incertezas e dúvidas, de só olhares
vazios ao ilimitado do horizonte, só Deus mesmo sabendo quando a serenidade
será resgatada, quando serão recuperados os leitmotivs de perseguir os
objetivos e projetos.
Sinto sim algo bem sublime por esta taberna, cujo nome é bem
interessante, Pôr do Sol, onde me encontro tomando um aperitivo, escrevendo
estas linhas, confortavelmente sentado e recostado à parede, frente a mim o
panorama interminável do sertão, sem estar muito inspirado, algo dispersa as
idéias, tergi-versa os sentimentos, embaralha as emoções, distanciando a
atenção das letras, e me não é dado saber de que se trata – quiçá o soubesse,
algo mudaria em mim, tenho a impressão de saber, ter de cumprir uma missão não
é fácil, as sinuosidades da estrada são deveras angustiantes, quanto mais
quando se trata de estar em relação com os homens, felizmente as coisas e
objetos amenizam os sentimentos de não e nada, porque os homens são os parentes
mais próximos de Mefistófeles, em nome da verdade e do amor é seguir as
trilhas, tenho de elevar a cultura e as artes de minhas origens, o exílio só me
fortalece e inspira, alfim nada é eterno; se necessário apresentaria aos homens
correspondência com todas as veemências de linguagem e estilo, da forma e do
conteúdo de profunda abstração, reverências, mostrando-lhes o que significa
isto da vontade de idéias transparentes e nítidas a serviço de propósitos
definidos, pedindo-lhes, rogando-lhes, implorando-lhes a minha inscrição para
sentar-me à cabeceira da mesa com todas as honrarias, rasgar a oratória com
todas as insolências, empáfias, e depois de as consciências se mostrarem não só
con-templar os seios soltos no vestido de seda transparente, os pelos da púbis,
com os lábios molhados de tesão e voluptuosidade da mulher das noites longas e
solitárias de domingo. Re-{f}-estelo-me confortável e singularmente o dia
inteiro no proscênio e mal me dou ao trabalho de cumprimentar as sombras que
perambulam por entre as cadeiras em cujo assento o público assiste ao
espetáculo, com aceno de cabeça, com aplausos em demasia graves e
altissonantes, mesmo que de modo a estar re-plicando a todas as atitudes e
ações por toda vida e existência, se há algum modo de unir, como a luz e o amor
estão unidos, o verbo e a carne comungam as fantasias íntimas da vida espelhada
na superfície lisa do vazio em busca do pleno, do múltiplo na querência do
sublime, da falta no desejo do ser.
Ostento uma corrente de ouro no relógio, aliança de casamento na
correntinha de prata no pescoço, mando fazer botas de cinqüenta reais, uso boné
cinza ao estilo europeu, trajo-me de erudição e clássico. Serei eu, porventura,
e não me respondam de imediato, não tenho qualquer pressa, não sinto qualquer
ansiedade e nem crio expectativas, permito-lhes investigar um pouco mais para
se certificarem de meus pontos de vista e de cegueira, opiniões e alienações,
da estirpe porqueira, da laia indecente e imoral, algum filho de alfaiate ou de
taberneiro, até não me causaria nenhum estranhamento precisar de um serviço
deles, estariam morando na mesma rua, no máximo, na esquina da rua de baixo,
que leva a um pracinha de ipês onde por vezes no final da tarde aprecio ficar
sentado em um dos banquinhos, fumando e observando a noite se aproximar
lentamente, o prédio suntuoso onde a Justiça sonha ser realizada e efetivada na
vida dos homens, não há mais esperança disso, mas o sonho está empreendido em
criá-la e re-criá-la ao longo da história e das idéias, das idéias da história,
da história das idéias, nos uni-versos da síntese, antítese e tese. Ainda que
em minha época seja nobre e sublime entrar em serviço aos quarenta, terminando
de debulhar o terço de prata do rosário, em momentos de profunda reflexão, em
instantes de imanentes querências.
O Criador quis perpetuar a vida pela impureza? Quando um homem e uma
mulher estão no leito, o amor pode unir seus espíritos e elevá-los bem acima de
suas carnes, de seus tesões, de suas chamas sanguíneas. Penso na mulher com
quem vivo há alguns anos poucos, em nossas noites de intimidades e prazeres, de
nossos sonhos e de nossos beijos meigos ao alvorecer do dia, nossos sinceros
desejos de um dia repleto de alegrias e realizações um ao outro, Maria
Santíssima à frente, Jesus Cristo atrás, Deus nas docas e estibordos. O amor é também
uma das fontes do espírito. Não devo pensar nele em termos de conquista, mas de
rendição. Se não consigo me render a um ser humano, como posso me render à
Senhora? Porque a Senhora exige infinitamente mais do que ser humano, ser
dotado de espiritualidade, fé e esperanças, exige o filho-homem a habitar no
paraíso terrestre, ele próprio deve criá-lo por intermédio de suas atitudes e
ações, de suas esperanças e fé.
Amo intensamente esta vida e desejo falar sobre ela com liberdade, e só
assim posso sentir perpassar-me por inteiro a felicidade, as alegrias todas em
uníssono a manifestarem a luz radiante da divinidade de sentir profundo a
verdade do ser e do não-ser. Dêem-me o orgulho de minha condição de homem, esta
condição suprema e divina que é capaz de tornar-me feliz, que me preenche todos
os espaços vazios. Ouço sempre alguém dizer que não há qualquer motivo para
orgulho, sentir-me orgulhoso – de nada sinto orgulho, não canto de galo em
lugar algum, apenas busco cumprir o que me foi entregue, o que me foi colocado
em mãos real-izar, assim fecharei os olhos neste mundo, abrir-lhes-ei no outro,
não me importando se não será como aqui idealizei, nada é do que sonhei.
Creio que há inúmeros motivos para me orgulhar, noutras instâncias de
entendimento e idéias: o sol, o vento, a chuva, o frio. É para conquistar tudo
isso que preciso aplicar minha força e recursos, colocar as mãos a serviço do
perfeito e humano, a serviço da verdade e da sensatez, dignidade e honra, estas
coisas que endossam a hombridade e brios. Todo ser belo tem o orgulho natural
de sua beleza, e o mundo, hoje, deixa orgulhos destilarem por todos os poros,
quando eles nada têm a ver com os poros, têm a ver com os corações que pulsam
em nome da verdade. Diante dele, porque haveria eu de negar de pés juntos a
alegria e felicidade de viver, de estar-no-mundo, de ser-na-terra, de
estar-buscando-a-Verdade que a-nuncia a VIDA plena na sublimidade dos
sentimentos de amor e esperança, se conheço a maneira de não encerrar tudo
nessa mesma alegria de viver? Não há nenhuma vergonha em ser feliz, como não
deve haver medo algum de ser o que se é, dizer o que pensa e sente, destilar o
ácido crítico a todos os pensamentos e idéias insossas e chinfrins, a todos
comportamentos e atitudes súcias, de a sensatez, a dignidade serem a haste da
bandeira íntima, elevando-a a todos os picos e Olimpos do mundo.
Encontro o sentido do amor e da amizade. Numa refração de cristal
límpido, surge o momento em que palpitam as asas de uma águia, re-colhendo a
sin-fonia de águas re-vestidas de silêncio, a-colhendo a ópera de margens sem
pressa in-vestidas de deserto e solidão nos auspícios da montanha que recebe a
luz das estrelas como veladora das intenções e esperanças dos homens. Num mundo
senil e caduco de gerações novas, no coração enigmático das palavras, os
ouvidos aguçados conseguem de-cifrar o soluço de vida, a essência, a matéria e
a forma de tudo quanto ec-siste ou ec-sistirá na garganta do in-finito. No céu
da boca nasce uma poesia-cristal, nasce o soluço de poeta.
Surpreendo a sombra e o deserto sob a ambigüidade. A face dos ventos
arrasta e dispersa as nuvens, agora tudo se amassa em encantamento ou em
indiferença ou em nada, absurdo, e faz sair um brilho nos olhos, que
experimenta a vereda, que evoca o brilho das asas ensopadas, o horizonte em que
me encontro é a distância verdadeira das intempestivas considerações da beleza
às re-flexões do bem e do mal, invoca com as asas ensopadas a subjetividade que
está sempre em evidência, a sensibilidade que e-nuncia as querências do céu de
verbos a con-templarem o silêncio das sendas nas veredas dos campos e serras,
dos chapadões e montanhas; o horizonte em que me encontro é a distância
verdadeira, sigo-o como cumpre fazê-lo, e sempre me sentindo como quem tomou a
vida em mãos e está dis-posto a tudo para vê-la nítida e transparente aos meus
olhos distantes e desolados.
O sol deita-se e as nuvens azuis colorem os terraços brancos, a lua
descansa no percurso do dia a enviar sua luz romântica de fé e esperança,
pintando, desenhando as cores vivas de flores que nascem e morrem, desde a
aurora ao crepúsculo. Afigura-se-me haver distendido uma mola no interior,
haver afrouxado um parafuso nos confins da razão, nas arribas da mente.
Afigura-se-me, em princípio, haver sentido uma eclosão, ou seria explosão, por
haver dito com o mais singular de mim nos interstícios do outro silêncio que
ensaia a sua aparição no picadeiro dos idílios suaves das imagens perpétuas,
manifestando-me para além do inteligível. Na límpida transparência das águas, a
luz segue o itinerário sem limites, sem pressa, sou eu quem aspira e
in-{s}-pira a vida, à procura da fonte originária que a busca do mar alcança,
as ondas batem nas docas, nas praias, o vento leva e espalha a areia na
tempestade das idéias e utopias, nas tragédias do des-encontro e dores do fim
ao início.
Ás vezes, penso que o desejo de amor só vive de entrega, com saudades,
melancolias a estibordo, nostalgias nas bordas, são estas o rosto da eternidade
re-fletido no rio do tempo, com ternura, e sou quem desperta o in-finito e o
pró-fundo, desejando a Vida, querendo veredas por onde trilhar os passos e
distanciar-me no longínquo das sendas silvestres da intuição de outros
crepúsculos e auroras, e no ínterim de ambos, verbos de amor comungados a esperanças
do sublime.
Verbos de amor
comungados a esperanças
do sublime,
re-fletidos no tempo
de eternidades in-finitas,
no longínquo das sendas
silvestres,
na límpida transparência
das águas
inspirados nos idílios e fantasias,
sorrelfas e ilusões
dos caminhos do campo.
Idílios suaves
de imagens perpétuas
na fonte originária
de nostalgias e melancolias;
No longínquo
das sendas silvestres,
terraços brancos
coloridos de nuvens
azuis.
... A não ser que busque a semente que pensei plantar e a guardei nas
mãos feitas concha, nos cofres de segredos feitos momentos de in-vestigação, de
vestígios dentro dos sonhos e utopias cristãs do amor e da paz, dizendo que não
era inda o tempo de os frutos nascerem, era preciso esperar o espírito
a-nunciar a gestação da semente por inter-médio de águas límpidas a regarem as
a-nunciações da verdade. Quem sabe?!... Quem poderia ao menos nos seus
instantes de inspiração percebê-lo? Uma vez dissolvida as tensões e livre a
alma de suas angústias, depressões, fracassos, remorsos e culpas, pode-se usar
tudo o que existe na literatura, na filosofia, na literatura-filosófica, na
filosofia-literária, para mantê-la livre, para mantê-la evangélica, para
mantê-la espiritual à sorrelfa das luzes de estrelas, de luas, dos raios do
sol, especialmente da claridade dos idílios e fantasias que luzem os pró-jetos
e ob-jetivos das gerações ao longo do tempo e história, talvez até uma forma
abreviada de psicanálise. Cada alma desesperada possui um útero de esperança
que está pronto a gerar o amor de verbos, os verbos da fé e esperança, a lutar
pela realização dos desejos e sonhos, pela sobrevivência e imortalidade...
... A não ser que re-torne para plantar na terra a semente que gerei...
Meus sonhos, são tão poucos os meus sonhos. Minha alegria, é tão pouca a minha
alegria. Não sou mais que uma combinação incerta de dúvidas e certezas, de
acasos e encontros, de amor e de ódio, de alegria e tristeza, de fé nas
conjugações dos verbos do porvir e do vir-a-ser. Em busca de um momento, em busca
de uma flor, em busca de uma silvestre pétala de rosa respingada de orvalho e
neblina da noite sem limites e confins, hei-de fazer-me verbo como se fosse
palavra, hei-de fazer-me palavra como se fosse verbo, nos re-versos, inversos e
avessos de minhas querências, dar sentido, ser esperança de encontro, colher a
mensagem que as estações do ano deixaram, especialmente a que a primavera
plantou em meu coração, a das flores a exalarem a essência e o ser do divino
espírito e da espiritualidade do divino, engravidando o sangue que percorre as
veias de meu corpo que habita o espaço de todas as minhas ilusões, sorrelfas e
fantasias. Ombros frágeis são os meus para adormecer no tempo a graça da
Criação de Deus, a VERDADE DAS PALAVRAS DE JESUS CRISTO, O AMOR DE DEUS. Eis o
homem!... Eis Deus!...
Temos raiz e temos abertura. Temos semente e temos desejo de vida. Somos
como uma árvore, fundados no chão que nos dá força para enfrentar as
tempestades, para superar as dificuldades, curtir a Bonanza na Ponderosa de
nossos desejos de sempre levar mensagens à humanidade dos problemas e conflitos
da ec-sistência e da vida, o amor no Templo da continuidade das sendas de
verbos e amores a serem alimentados, regados, nutridos na sensibilidade do caos
que ad-vém de tempos outros da primeva humanidade, do cosmos que a-nuncia e
promete outras nuvens brancas a deslizarem no céu de amor e promessas de
lágrimas de êxtases e volúpias, mais uma noite de re-flexões e meditações da
VERDADE E DA VIDA. Mas também temos a copa, que interage com o único no uno do
espírito que se faz alma, da alma que se faz espírito, com as energias
cósmicas, com os ventos, com as chuvas, com o sol e as estrelas, com as
relações sensíveis e íntimas com aqueles que nos preenchem a vida de amizade e
carinho, que nos abraçam e afagam de verbos e idílios, com as sendas
re-encontradas nas silvestres florestas do mistério, assim na terra como no
céu. Sintetizamos tudo isso, transformamos em mais vida a nossa abertura, a
nossa chave que abrirá plenamente a roda-viva das intempestivas imagens do
silêncio nas bordas de tintas que pintam o vazio de branco, que colorem o
múltiplo de mult-íplices ardores da fin-itude em vida dos verbos e sonhos, da
in-fin-itude da vida em dúvidas e incertezas, em medos e relutâncias, que re-velam
as cores e perspectivas de tempos idos nos brilhos de outras realidades e
reais, de outros sonhos e utopias, de outra fé no per-curso, de-curso das águas
límpidas que banham as margens, o tempo no de-curso até ao mar, quando tudo se
perde e se encontra em nova realidade, criando e re-criando as linhas de outros
uni-versos na poesia do mundo, horizontes na poiésis da vida, in-finito nos
acontecimentos e fatos da história.
E se não mantemos a abertura - a copa -, o mundo estiola, as raízes
secam e a seiva já não flui. Morremos. A dialética consiste em manter juntos o
enraizamento e a abertura. Imanentes, mas abertos à transcendência.
Manoel Ferreira Neto.
(08 de abril de 2016)
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