**BOA TARDE, SENHORES CRÍTICOS** - Manoel Ferreira


Dizem que o "inter-dito" só ec-siste na sensibilidade do intelecto, sensibilidade esta sedenta da verdade absoluta, e jamais irá matar essa sede tamanha, pois, além de ser incapaz de abarcar os mistérios, enigmas da obra, o ser ama ocultar-se e re-velar-se, amor de paixão ou com todas as paixões habitando-lhe. O que é mostrado, re-velado pela sensibilidade do intelecto em sua análise, inter-pretação da obra é uma miserinha de nada, e como diz o senso comum "miséria pouca é tiquinho", o interpretado, analisado é verdadeiramente um tiquinho. Três gotículas de água não matam a sede, quatro gotículas de água não matam a sede, cinco gotículas de água não matam a sede, de gotícula em gotícula a sede aumenta, aumenta, aumenta, em sequência, chega ao limite tal que a morte é inevitável. "De que mesmo morreu a sensibilidade do intelecto?". Responde-se: "Morreu de sede da verdade absoluta que habita o ser da obra."
E dizem também não ec-sistir um método implacável que abarque a verdade absoluta da obra. Na sensibilidade do intelecto entra a subjetividade do intérprete, do analista, num termo de incólume, idônea vulgaridade, entra a subjetividade do crítico. Aí é dizer com as três letrinhas bem sonorizadas: "Aff..." Por que "Aff..."? Quem conta um conto aumenta um ponto, não é o que também dizem? O crítico, naquele afã de notoriedade, ser quem mais fundo mergulhou na obra, ser quem abarcou o ser da obra, vai enfiar na sua análise, na sua interpretação, na sua crítica todas as suas fantasias, quimeras, sorrelfas, até mesmo os instintos mais elementares, suas faltas, falhas, ausências, carências, um balaio de "gatitos". Imagine-se de antemão às revezes as guiras que são escritas. E por falar nisso, também dizem, que Carlos Drummond de Andrade não só soltava as pulgas com as críticas do poema "No meio do caminho tem uma pedra/Tem uma pedra no meio do caminho" devido aos despautérios ditos e escritos sobre, até hoje ele, Carlos Drummond de Andrade, mexe-se e remexe-se na sepultura, pois os despautérios continuam em larga escala.
Fico imaginando uma obra universal, eterna nas mãos de um intelectualóide! Dizem que o intelectualóide é isento de sensibilidade, no lugar dela há a bestialidade. "Bestialidade do intelecto" - Aff... Não são mais despautérios de análise, interpretação, são sim imbecilidades, ridículos, idiotices, asnadas e asnices das mesmas. A sensibilidade do intelecto tem sede da verdade absoluta. E a bestialidade do intelecto tem sede? Se tiver sede, sede de que ela tem? Fosse intelectual, usando da sensibilidade, poderia até "chutar" uma resposta plausível. Não o sou. Intelectualóide muito menos, pois que o intelectualoidismo precede a intelectualidade. Estou bem longe de uma resposta plausível. Só posso dizer que o intelectualóide tem fome inaudita da própria verdade de si mesmo, e com as suas análises e interpretações ele nada mais quer mostrar e provar que existe no mundo, que habita na terra.
Vamos deixar disso de "Dizem que...", "Dizem também que..." Pode afigurar que estou desejando provar a Deus e ao mundo que sou um cretino, vivo para isto, e com isto enfio a minha imagem na sarjeta mais fétida que possa existir. Sou cretino: não preciso provar a ninguém isto. Mais cretino ainda por querer in-vestigar a idoneidade da crítica da sensibilidade do intelecto.



Manoel Ferreira Neto.
(05 de abril


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